Encosto a taça de champanhe nos lábios, porém não levo o líquido borbulhante à boca. Apesar de estar em uma festa, de ver as pessoas rindo e se embriagando, de escutar a música que sai dos alto-falantes e saber que os garçons estão passando a cada cinco segundos com bandejas cheias de bebidas, não estou aqui para me divertir.
Há uma simples regra em meu ramo de atuação: não misture negócios com prazer.
Passo os olhos novamente pelo salão, mesmo já conhecendo cada canto do ambiente e ter memorizado os rostos de todos os presentes. É apenas uma checagem de última hora, uma precaução de uma garota cuidadosa demais, pois na verdade já estou pronta para agir.
Assim que um dos garçons passa por mim novamente, coloco minha taça ainda cheia em cima de sua bandeja. Volto o olhar para a porta de madeira maciça do outro lado do salão.
Estou pronta. Estou mais do que pronta.
Mas, assim que dou um passo, paro. Por algum motivo, hoje estou mais cautelosa que o normal. Olho ao redor novamente, mas ninguém parece estar prestando atenção em mim.
Não que eu esteja surpresa. Normalmente ninguém me nota - mesmo eu tendo uma cor de cabelo incomum e de minha pele ser mais pálida que a da maioria das pessoas, coisas que me destacariam na multidão se não fosse minha trágica história de vida. Já estou tão acostumada a ser invisível que nem fico chateada por não receber cumprimentos pelo meu vestido maravilhoso, no qual paguei muito dinheiro.
Tá, tudo bem, o vestido foi roubado. Mas garanto que vale uma boa grana.
Já chega, Alana. Se concentre.
Tenho que balançar a cabeça para tentar clarear os pensamentos. Estou pronta. Estou pronta há quase três meses.
Então começo a me mover novamente, mas dessa vez sinto algo me prendendo no lugar, e não são meus próprios receios. Não, é uma mão quente que segura meu braço com firmeza - não o suficiente para me machucar, mas o suficiente para que eu praticamente paralise de surpresa.
— Me perdoe a indiscrição, mas não consegui parar de te olhar a tarde toda! E como você parece estar indo embora, resolvi que seria um bom momento para me apresentar.
Primeiro a mão em meu corpo, depois a voz em meu ouvido. O que está acontecendo?
Eu não sou uma pessoa despreparada. Na verdade, minha mãe sempre diz que eu penso demais. Eu vi e revi o plano uma centena de vezes. Eu contei com todos os imprevistos, tenho esquemas reservas para todos os possíveis cenários que poderiam vir a acontecer. Pensei em tudo, tudo mesmo.
Menos no impossível.
— Ora, não mereço pelo menos um reconhecimento pela minha audácia de vir perturbá-la? — Àquela altura, sei que quem me segura é um homem, pois sua voz é grossa e ele exala um perfume que faz meu nariz pinicar. Não de uma maneira ruim, apenas... é um cheiro diferente, nada parecido com o que estou acostumada. — Vamos, deixe-me pelo menos me desculpar pela ousadia de vir falar com uma bela dama te olhando nos olhos!
Engulo em seco e resolvo ceder. Preciso ganhar tempo agora para poder pensar em outra saída.
Lentamente, me viro. O homem solta o meu braço ao ver que vou colaborar.
Acho que paro de respirar por alguns segundos.
Não conheço muito bem os padrões de beleza da sociedade, mas acho que o cara pode ser descrito como boa pinta. Não exatamente bonito, mas com certeza charmoso. Ele tem a pele morena e os cabelos são escuros, talvez compridos demais, mas estão arrumados de maneira elegante. Os olhos são castanhos e ele ostenta uma barba cheia. Durante o meu reconhecimento do local, eu não o havia percebido.
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A Maldição de Afrodite (CONCLUÍDA)
Genel Kurgu1° lugar Ficção Geral no concurso Talentos do Wattpad Alana Kathram já está acostumada a ser invisível. Por onde passa, não chama atenção. Sua mãe diz que é uma maldição - ao que parece, sua família vem sofrendo do mesmo mal há séculos, muito embora...