Já são quase onze horas quando chego em casa. Há luzes acesas no interior, mas já era de se esperar. Minha mãe chegou há horas.
Mesmo assim, me esgueiro até a janela do meu quarto. E então xingo baixinho. A pedra que usei para deixar uma fresta aberta não está mais lá.
Skatá!¹
Sem opção, dou a volta e vou até a porta da frente. Me preparo psicologicamente para o sermão que sei que ouvirei. Quanto tempo será que minha mãe vai demorar para falar que sou irresponsável, que não tenho respeito e toda as outras coisas que sempre ouço quando desobedeço suas ordens? Tudo o que eu queria mesmo era tomar um banho e me deitar, mas sei que será impossível ter qualquer uma dessas coisas nas próximas duas horas.
A cena que se sucede assim que abro a porta parece de filme. Acabo de pisar dentro de casa e uma luz se acende na sala de estar. Minha mãe aparece sentada em sua poltrona, me olhando séria. Instintivamente, procuro ajeitar minha camiseta, tentando parecer mais apresentável e não dando indícios de que fiquei dando uns amassos no parque até essas horas. Fecho a porta e respiro fundo.
— Ao mesmo tempo que quero saber onde você estava, tenho medo da resposta — ela começa, a voz baixa e grave. — Mas algo me diz que você estava com ele.
Não respondo. Não quero mentir e não ajudaria em nada concordar. Continuo em silêncio enquanto caminho para dentro da sala tranquilamente.
— Como você pôde fazer isso comigo, Alana? Me desobedecer dessa maneira? Como posso confiar em você novamente?
— Mamá... — começo, mas logo paro e solto um suspiro. O que posso dizer? Realmente a desobedeci. — Se você não me explica direito...
Mas ela não me deixa terminar. Levantando-se da poltrona, minha mãe começa o seu sermão, sem alterar a voz. Ela fala sobre os riscos de sair sozinha com um desconhecido, sobre como sempre sou imprudente, roubando e agora me engraçando com qualquer um. Diz que não devo confiar em Dennis, pois ele irá me magoar, é inevitável. O pior de tudo é perceber que ela diz todas as coisas com convicção.
— Eu já te disse que somos amaldiçoadas, Alana. Ele faz parte dessa maldição! — ela frisa novamente, gesticulando muito.
— E estou de saco cheio disso, mitéra! — explodo. — Que skatá de maldição é essa? Será que pode me explicar ao invés de ficar falando pazl²?
Estou tão revoltada que começo a gritar palavras em grego.
Por um instante, acho que ela vai se exaltar e gritar comigo também. Espero uma repreensão por ficar perguntando essas coisas. Seu rosto está lívido, até meio avermelhado, como se ela estivesse prestes a explodir.
No entanto, no último segundo, ela se acalma, soltando um suspiro triste.
— Eu só queria te proteger, kóri. Achei que, se não soubesse da verdade, teria um destino diferente. Mas estava enganada.
Suas palavras me surpreendem. Com um gesto, ela pede que eu me aproxime. Finalmente me movo, sentando no sofá, enquanto ela continua em pé, andando de um lado para o outro em minha frente.
Minha mãe começa falando sobre a história da minha família, que eu já conhecia. Nossa árvore genealógica começa na grécia antiga, há milênios atrás. Nossos antepassados faziam parte da nobreza grega - que, naquela época, significava ter uma casa maior e ser dono de escravos. Até onde eu sabia, a família Mira sempre fora muito gananciosa e nunca estava contente com suas posses, sempre queriam mais. Nossos homens treinavam para serem os melhores guerreiros ou políticos e as mulheres sempre foram as melhores matriarcas.
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A Maldição de Afrodite (CONCLUÍDA)
Fiksi Umum1° lugar Ficção Geral no concurso Talentos do Wattpad Alana Kathram já está acostumada a ser invisível. Por onde passa, não chama atenção. Sua mãe diz que é uma maldição - ao que parece, sua família vem sofrendo do mesmo mal há séculos, muito embora...