- Carina Pereira Brandão!
Ao ouvir seu nome sendo chamado daquela maneira, Carina levantou sua cabeça de onde estava focada no celular, olhando para a direção de onde tinha ouvido o grito. A maior parte do pessoal no pátio não se importou muito com o grito, mas ao longe, Carina viu uma garota de cabelos longos e pretos se aproximando rápido.
Ela não pôde deixar de sorrir.
- Luiza – ela riu quando a garota se aproximou, se levantando e a abraçando de volta. – Nossa o que é essa gritaria toda?
- Desculpa – Luiza sorriu, jogando seus cabelos pro lado e pegando as mãos de Carina nas suas. – É que eu estou muito, muito animada.
- Animada? Ué por que? – Carina perguntou, seus olhos arregalados de curiosidade. Luiza riu e apertou as mãos de Carina, piscando.
- É uma surpresa. Vem comigo.
- Surpresa? – Carina riu, e pegou sua mala, seguindo a outra garota pelo pátio da escola, em direção do portão. – Posso saber que tipo de surpresa é essa?
- Ainda não... mas você pode saber de uma coisa – Luiza disse, sorrindo, olhando para Carina – Lembra que eu tava aprendendo a dirigir?
- Sim...?
- Pois então – ela levanto uma sobrancelha. – Consegui um carro emprestado e hoje, você vai ser minha cobaia para minha primeira saída de carro sem instrutor, já de carta!
- Eu... oi? – Carina perguntou, surpresa, e Luiza acenou, sorrindo e a puxando ainda mais rápido na direção do estacionamento.
- Vem!
- Eu tô indo!
O Vale de Ouro Verde era uma cidadezinha centenária no sertão de São Paulo. Antigamente muito conhecida por suas áreas absurdas de café, e por uma das primeiras ferrovias de todo o Brasil, agora era uma pacata cidade de interior como qualquer outra.
Quando os cafezais se foram, decididos a procurar terras mais baratas, e a ferrovia perdeu sua função, a cidade caiu em uma crise que parecia quase infinita. Ainda assim, algum comercio se manteve, e a cidade não faliu por uma ótima administração governamental.
Mas agora, em 2018, ela não era nada mais do que uma cidade perto de São Paulo, engolida no meio de cidades com dinheiro, enquanto ela mesma sobrevivia de verduras e alguns outros alimentos voltados para o mercado orgânico. Isso, sem contar uma ou duas montadoras de carros que tinha se realocado para perto, trazendo vários empregos na área de montagem.
O prestígio de Ouro Verde já tinha sido esquecido a mais de 50 anos. E agora, até mesmo as famílias mais prestigiadas da cidade, como os Williamsons, Cavalcantes, Tibúrcios, Pricellis, Bittencourts e os Beneditos agora só eram conhecidos pelos feitos de seus antecessores, e pelo que não conseguiram manter.
O Vale, que antes era um exemplo de cidade do futuro, agora era uma pacata cidade de interior.
E, claro, lotada de jovens cheios de vida, focados em melhorar a cidade ou sair de lá e tocar suas vidas bem longe do Vale.
Carina Pereira Brandão era uma das jovens que queria melhorar aquele lugar. Extremamente afeiçoada por carros, seu sonho era, um dia, ser dona de uma das empresas de montagem que haviam se instalado por ali. Já com 19 anos, passava seu tempo livre desenhando designs de carros para o futuro. Carros que economizassem em gasolina, carros que fossem elétricos, carros à luz solar, e muito mais. Ela lia de tudo, assinava revistas que falavam sobre veículos dos mais diversos tipos, e estava no cursinho da cidade, tentando conseguir uma bolsa em alguma faculdade particular na região em engenharia de produção ou elétrica.
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Para toda(s) a(s) vida(s)
RomantiekO Vale de Ouro Verde tem uma história um tanto complexa, desde os tempos do café até hoje, mas agora é conhecido por ser uma cidade pacata e presa no passado. Já Carina e Luiza são duas garotas que se encontraram nesse mundo, as aos poucos, vão tam...