Capítulo 5

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     Then your eyes, your eyes. I can see in your eyes, your eyes.
     Everything in your eyes, your eyes.
     You make me wanna die, I'll never be good enough, You make me wanna die.
     And everything you love will burn up in the light, And every time I look inside your eyes...
     You make me wanna die.

     Como de costume, The Pretty Reckless tocava no radinho do meu quarto. Já era como um ritual pra mim ouvir minha banda favorita todos os dias pela manhã.

    Minha mãe bateu na porta do quarto umas duas vezes antes de entrar e desligar o rádio, como ela sempre fazia.
     – Se arruma agora. Vamos pra igreja. - disse ela, autoritária como sempre.
     – Ah, não tô afim de ir hoje não. Já paguei minha cota de pecados essa semana. - falei com deboche.
     – Não perguntei se você quer ir, eu disse que você vai. - afirmou ela, separando minhas roupas e jogando-as na cama.
     – Que saco! - falei baixinho comigo mesma.
     – Vou indo na frente com a Claire e a Susy e te esperaremos lá. Não vai se atrasar. - ela parou na minha frente e segurou meu cabelo. – E vê se prende esse cabelo. Tá parecendo uma perdida desse jeito.

     É inacreditável como minha mãe consegue ser tão hipócrita. Ela bebe quando ninguém tá vendo, maltrata os outros e acha que depois pode ir correndo pra igreja que tudo fica bem. Deus me castigue se eu estivesser errada, mas acho que a alma dela já está condenada ao inferno desde o dia em que pisou na terra.

     Fiquei um tempo olhando aquelas roupas que minha mãe tinha escolhido pra mim. Aquelas peças não tinham nada haver comigo, e ela sabia disso. Elas apenas me transformavam na garota que minha mãe queria que eu fosse. Mas essa garota nunca existiu.

     Peguei cada uma daquelas peças e sem dó e nem pena comecei a picotá-las uma a uma. Abri meu closet e escolhi minhas próprias roupas. Já era hora de mostrar a todos a verdadeira Hanna. Liguei o rádio outra vez e Make Me Wanna Die voltou a tocar.

     Jéssica, Claire e Susy estavam sentadas no banco de madeira da igreja enquanto aguardavam o início da missa. Jéssica admirava uma imagem de Cristo estampada na igreja.
         – Em nome do Pai... - Jéssica levantou a mão direita e encostou as pontas dos dedos na testa. – Do filho... - ela tocou no meio do peito e desceu a mão. – E do Espírito... - ela tocou a parte da frente do ombro esquerdo. – Santo. - ela tocou o ombro direito mais ou menos na mesma altura e local. – Amém!

     Jéssica levantou e se dirigiu até o padre Anthony para cumprimentá-lo. Eles se conheciam de longa data e frequentemente ela o procurava antes do ínicio das missas. Também era com ele que ela se confessava praticamente toda semana.

     Desci do carro e cheguei na igreja. Fui subindo degrau por degrau e parei diante da porta. Logo entrei. Tirei o óculos escuro do rosto e estampei um largo sorriso. Estava vestindo uma meia-calça transparente acompanhada de uma bota de salto preta. Vesti uma camisa de botões aberta em cima, deixando meus seios e sutiã à mostra. Pintei os olhos com um escuro forte e os lábios de vermelho. Pranchei o cabelo e coloquei um colar com uma caveira em volta no pescoço.

     Desfilei pela igreja e me dirigi até o banco de madeira enquanto todos me encaravam. Lancei um rápido olhar em direção a minha mãe, que estava ao lado do padre. Dobrei os joelhos e me abaixei diante do banco.
     – Não me abençoe, padre, eu ainda vou pecar.

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