Capítulo 8

25 16 1
                                    

     Após um curto período de investigação, a polícia local deu como encerrado o caso Susy. A morte, foi apontada como suicídio. Thómas cuidou de tudo para que não vazasse a imprensa nenhuma informação sobre o ocorrido em sua residência. Jéssica estava muito abalada com a perda de sua até então confidente e ficou de luto por alguns dias. Hanna não aparentou remorso algum pelo o que tinha feito e agiu como se nada tivesse acontecido.

     Depois de perder a amantezinha dele, meu pai parou de chegar tarde toda noite. Pelo contrário, nesses últimos dias ele estava mais presente do que nunca e fazia de tudo para reconquistar minha mãe. Sabe como isso se chama? Culpa!

     Estava sentada na poltrona, na sala. Ao meu lado, estava o Joe, com o fone no ouvido, provavelmente vendo alguma besteira no celular, pra variar. Ouvi uns passos vindo dos degraus da escada, e quando olhei, vi meus pais descendo juntos, de mãos dadas. Eles foram até a sala e pararam na nossa frente.
     – Vamos sair pra jantar e não temos hora pra voltar. - disse minha mãe, sorridente. – Vocês dois se comportem.
     – Ouviram sua mãe. Se comportem. - falou ele, que também sorria.
     – Por precaução, deixarei a Claire de olhos em vocês.
     – Pode apostar que sim. - disse Claire, olhando pra mim.
     Meus pais se despediram e sairam.

     Vocês devem estar pensando. Ah, ela está feliz da vida. Qual é a filha que não sonha em ver seus pais unidos e felizes até o fim? Errado. Eu não estava nada feliz com aquela situação. Que conveninte meu pai perder a amante e logo depois querer reconstruir o casamento, não é? Tava na cara que aquilo era só faixada dele, e só a idiota da minha mãe que não percebia. Mas isso não ia durar muito tempo. Não mesmo.

     Claire se maquiou, pranchou o cabelo, pegou sua bolsa e foi até a porta.
     – Você não vai ficar? - perguntei, ao vê-la saindo.
     – É claro que não. - disse ela vindo até minha direção. – Mas você não dirá nada disso aos seus pais. Não é mesmo? - disse ela, apertando minha bochecha com força. – Até mais, querida.
     Ela foi embora sorrindo. Logo depois, Joe tirou o fone do ouvido e se levantou.
     – Você também vai sair? - perguntei.
     – Sim. Marquei com uns amigos de sair. Tenha uma boa noite. - disse ele, que logo saiu.
     – Sei muito bem que amigos são esses. - disse a mim mesma.

     Um bom tempo depois, Thómas e Jéssica voltaram. A casa estava toda escura, então eles deduziram que todos já estavam na cama.
     – Obrigada por hoje, meu amor. Estávamos mesmo precisando disso. - disse Jéssica, dando um beijo em Thómas.
     – Foi um enorme prazer, querida. Eu te amo! - disse ele.
     – Eu também te amo!
     Jéssica subiu na frente, enquanto Thómas foi até a cozinha. Ele pegou um copo e tomou um gole de whisky.

     Jéssica foi andando até o quarto e abriu a porta. Ela acendeu a luz e se chocou com o que viu. Ela foi se aproximando e parou diante da parede. Várias fotos estavam coladas na paredes. Eram fotos constrangedoras de Thómas e Susy em momentos íntimos. Jéssica começou a chorar.
     – Meu amor... - disse Thómas, ao entrar no quarto. Ele se calou imediatamente quando viu as fotos.
     – Como você pôde? - perguntou Jéssica, arrancando uma das fotos da parede e amassando.
     – Eu posso explicar...
     – Explicar? Você acha que isso tem explicação?
     – Eu te amo. É isso o que importa.
     – Sai da minha casa. Sai da minha casa agora! - ela gritou, enfurecida.
     – Você não tem esse direito. Essa casa também é minha. Sou eu quem sustento essa família.
     – Vai pro inferno você e todo esse seu dinhero. Como pôde fazer isso? Nem com os seus filhos você teve consideração.
     – Filhos? Quais filhos? O vagabundo do Joe, que não quer nada da vida? Ou a imprestável da Hanna, aquela rebelde que só nos causa problemas?
     – Cala a boca! - Jéssica levantou a mão e deu uma bofetada no rosto de Thómas.
     – Você vai se arrepender disso. - gritou ele, que a apertou pelo braço. Ele bateu a porta do quarto e foi embora furiosa.

     Saí do meu quarto sem fazer nenhum barulho. Tinha escutado toda aquela discussão entre meus pais. Sem que ele percebesse, comecei a seguir o meu pai. Cortei caminho e cheguei na garagem antes dele. Peguei uma ferramenta e rasguei um dos pnêus da frente do carro dele. Corri bem rápido e me escondi. Esbarrei numa pá que estava bem ao lado e acabei fazendo barulho. Vi que meu pai olhou para trás pra ver o que era, mas ele ignorou e entrou direto no carro. Thómas ligou o carro, mas não andou. Logo, se deu conta que o problema era em um dos pnêus. Ele deu um soco bem forte no volante, irritado. Ele abriu a porta e saiu. Thómas foi até o pneu e se abaixou para ver o que era. Ele se virou e levou um susto ao me ver parada, atrás dele. Levantei a pá e acertei com força bem na cara dele, que imediatamente caiu no chão, imóvel. Olhei pra ele ali caído e bati outras cinco vezes, com muita força. O sangue escorreu e se espalhou pela garagem. Peguei a pá e corri pra bem longe.

     Um Ford F-150 passou pela porteira e o portão automático da mansão se abriu. Era o carro de Claire. Mas não era ela quem estava no volante, e sim Joe. Ele parou um pouco antes da garagem.
     – Pode entrar que eu estaciono pra você. - disse ele, olhando pra Claire, que estava no banco bem ao lado.
     – Ótimo. Não podemos ser vistos juntos. - disse ela.
     – Me diverti muito hoje. Temos que marcar uma dessa mais vezes.
     – Também me diverti muito. Pode apostar que sim. - ela se aproximou o beijou. – Tenha uma boa noite.
     – Você também. - ele piscou com o olho esquerdo.
     Claire saiu e foi direto pra casa. Joe ligou o carro e dirigiu até a garagem. Ele parou na entrada e ficou observando algo estranho. Ele desceu as pressas e foi até lá ver o que era.
     – Pai! Pai! - gritou ele, ao ver Thómas caído e ensanguentado no chão. - ele se abaixou e verificou os pulsos. – AH MEU DEUS! Ele está morto!

Minha Família Perfeita Onde histórias criam vida. Descubra agora