Capítulo 1

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     Toda a imprensa se encontrava reunida de plantão no jardim da nossa casa. Fotógrafos, repórteres e vários jornalistas capitavam tudo que acontecia naquele exato momento. Flashs e mais flashs rolavam enquanto posávamos como uma família feliz. Risos, abraços e trocas de afeição eram distribuidos entre nós. Tudo isso porque há poucos minutos atrás, Thómas Hastings, ou melhor, meu pai, acabara de ser reeleito como prefeito da cidade. E a imagem de uma família perfeita era a forma ideal pra ele comemorar e se mostrar para o público como um homem íntegro que prezava muito a família. Hum... Mas tudo aquilo era tudo uma grande mentira.

                    4 Anos Atrás

     O período de eleição estava terminando. Meu pai perdia com uma diferença mínima de uns 3% em relação à Jeremy Stuart, atual prefeito que buscava a releição.

     Meu pai saiu desesperado após assistir as parciais na TV e me levou com ele. Estávamos na casa de Bart Scott, um conhecido dele que sempre o apoiou durante a campanha. Ele era bastante influente e foi a maior ajuda do meu pai em busca do cargo.

     Meu pai e Bart foram para o escritório conversar. Eu fiquei sentada numa poltrona na sala enquanto esperava meu pai voltar. Pela demora, a conversa deles era longa. Me levantei e comecei a andar pela casa. Fui até o escritório e vi que a porta estava entreaberta. Me aproximei e fiquei ali escutando a conversa.

     Meu pai estava aparentemente nervoso e preocupado com essa possibilidade de perder a eleição. Ele tinha apostado todas as suas fichas na candidatura.
     – Você tem que me ajudar. Eu não posso perder essa eleição depois de tanto trabalho. - Ele exclamou, nervoso.
     – E você acha que eu não sei? - Bart respondeu. – Eu mais do que ninguém investi nisso e serei o maior prejudicado.
     – É por isso que você tem que me ajudar. Suborno, chantagem, sei lá. Dá seu jeito. Fala com os seus contatos e faça o que for necessário pra que eu vença essa eleição.
     – Você tem noção do que está me pedindo? Eu não faria um favor enorme desses de graça pra ninguém.
     – Como é? Já te dei dinheiro o suficiente pra tudo isso. Não tem mais nada que eu possa te oferecer.
     – É aí que você se engana, meu caro. Tem sim uma coisa que você ainda pode fazer por mim - Bart se virou e lançou um olhar perverso em minha direção. Ele tinha me visto do outro lado da porta.
     – Do que você está falando? - Meu pai estava confuso e olhou pra trás. Ele também me viu e logo entendeu ao que Bart se referia.
     – E então? O que me diz? - Bart esperava uma resposta.
     – Isso é sério? Eu não consigo acreditar que você tenha tido essa idéia. Ela é minha filha e só tem 13 anos. Eu nunca faria uma coisa dessas com ela. Você é... Francamente. - Ele vai andando até a porta.
     – Espera, Thómas. - Bart se aproxima. – Você sabe que eu tenho os contatos necessários pra te fazer ganhar essa eleição, não sabe? Eu posso reverter toda essa situação e te fazer o mais novo prefeito dessa cidade. Tem certeza que deseja abrir mão e deixar tudo isso pra trás?
     – Eu... - Thómas se calou por um instante e ficou pensativo. Ele encarava Bart.
     – A decisão é sua. Não quero te forçar a nada. - disse Bart, em tom irônico. – É pegar ou largar.

     Naquele instante, meu pai saiu pela porta e me encontrou do lado de fora do escritório. Ele se abaixou pra falar comigo.
     – Filha! - Ele olhava em meus olhos enquanto falava. – Vem comigo. - Ele estava apreensivo.
     – O que foi, pai ? O que está acontecendo? - perguntei sem entender. Eu sentia que alguma coisa de errado iria acontecer.
     – Quero te apresentar alguém. - Ele me deu as mãos e me levou pra dentro do escritório. – Esse é o tio Bart.
     – Eu já conheço ele, pai. - Eu senti que ele tinha largado minhas mãos. Olhei pra trás e vi que ele não estava mais ali. A porta tinha sido fechada.
     – Olá, Hanna. - disse Bart, que se aproximava de mim. – Tenho certeza que nós dois vamos nos divertir muito hoje. - Ele lançou um olhar sujo e um sorriso perverso pra mim.

     No fim das contas tudo deu certo pro meu pai. Alguns dias depois ele fora anunciado como prefeito de Sugar Land. A meta dele tinha sido cumprida. Ele conseguiu mesmo o que queria. Ninguém ficou sabendo sobre aquele dia. Somente eu sei o que aconteceu naquela maldita sala de escritório.

                              •  •  •

     Fiquei bem ao lado do meu pai durante as sessões de fotos. Me sentia plena e tranquila apesar de toda aquela situação. Isso porque eu sabia que cedo ou tarde meu pai pagaria por tudo que tinha feito. E ele também sabia disso. O que ele não sabia, é que isso iria acontecer mais cedo do que ele pudesse imaginar.

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