Longe dos meus ouvidos

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Passei dias sem vê-la, é compreensível! Estamos em tempos de provas e logicamente ela tem que estudar bem como eu. Dias como esses tem menos confusões! Mal posso esperar para ir a sala de música.
É bem comum ter esses períodos sem a ver, só que ela sempre manda bilhetinhos ou aparece na janela da sala dela, que é de frente para a janela do nosso prédio, fazendo gracinhas mas ela não aparece... me pergunto se ela está em dificuldade com muitas matérias para fazer isso. Até que eu recebi um bilhetinho:

_ Matheus! Oie, eu sumi eu sei mas é porque eu to na enfermaria!😕 desculpa por passar tanto tempo sem responder! Mas eu te vejo hoje à tarde! Esteja na sala de música!

Fica estranho sem a presença dela, e ela me parece muito estranha ultimamente. Cada dia que passa eu a encontro menos, isso me deixa meio perturbado sim, não posso negar, já que ela é minha amiga  fica mais evidente que me preocupo.
-Bia o que tá acontecendo? Você tá sumindo todo dia! Nem vem mais na sala de música, tem alguma coisa acontecendo?
-Te tem e até esqueci de avisar, eu to de rolo com uma carinhas, dai agora eu to sempre saindo do internato para ver um deles.- ela disse como se não fosse nada de mais!
-Caras?! Bia você tá perdendo a cabeça?! Você sabe que isso não é certo! Você vai machucar os dois!
-Se acalma, eles sabem da existência um do outro, eles sabem que eu fico com os dois. Eu deixei bem claro que estava num relacionamento aberto.
-Ahh..- respirei de alívio mas não me senti aliviado- por que não me contou?
-Eu tava meio ocupada, tem trabalho interdisciplinar e obviamente eu acabei ficando com um grupo péssimo, to carregando geral naquela merda...- ela bufou e prendeu o cabelo indo para o piano- tem esses rolos que eu não sei com quem ficar, tem também o fato de não querer entrar numa relação séria, é toda uma confusão eu to sem tempo.

Ela repousou as mãos nas teclas do piano e tocou, não com felicidade mas a música saia indiferente e meio... tensa, parecia que estava enferrujada ou travada, era exatamente esse o estado de espírito que ela estava.

-Ei, você tem que descansar um pouco, pega leve da um tempo- sentei do lado dela retirando as mãos dela de cima do piano- sua música tá indigente.
-Olha você entendeu!- ela sorriu não sei como.
-Bia...
-Oi?- ela devolveu as mãos as teclas e fechou os olhos, passando os dedos mas teclas diferenciando as brancas das pretas quase que automaticamente, um silêncio se fez e só pude escutar sua respiração pesada.
Ela não me parecia muito bem, e não queria me contar o que era, e evidentemente nem ia me contar. Não demorou muito tempo para que ela começa-se a tocar, a música ainda era tensa e cada nova tecla que ela tocava vinha com com expressões no rosto, não me agradava nada. Bia o que está acontecendo? O que houve com você? Você precisa de ajuda?
Meus pensamentos intensificaram a medida que eu vi uma única lágrima caindo, uma lágrima tratada com tanta indiferença que caiu por entre as teclas e sumiu. A música se tornou raivosa com a expressão dela com as sobrancelhas franzidas e a boca apertada.
-Bia!- assustei ela fazendo-a parar de tocar.
-O que foi?- ela parou de tocar como se não fosse nada.
-Tem mais coisa que você não quer contar, por que não fala?
-Nossa que gênio, deduziu isso você mesmo ou pediu ajuda?- ela se tornou áspera- se você mesmo disse que eu não quero contar então para de insistir.
-Eu quero te ajudar!
-Mas eu NÃO QUERO AJUDA! Nem sua nem de ninguém! Posso me virar sozinha!- ela disse sem muita conversa.
-Olha, eu to aqui tá? Sei como é difícil...
-Sabe?
-Olha o que eu to querendo dizer é...
-Que vai estar aqui pra me ajudar, eu sei, mas eu não quero ajuda. Sério desculpa ser tão grossa mas eu não to muito afim. Tenho que ir- ela pegou a mochila e prendeu o cabelo mais alto.
-Ei...- abracei ela de leve- não insisto mais, mas não fica com raiva tá? E tenta por favor vir mais aqui!- eu sorri e ela fez o mesmo mas bem mais fraco e saiu.
Depois da sala de música tombei com Gabriel e Guilherme, os dois palermas que são meus colegas de quarto é óbvio que eles não iam me deixar em paz.
-O certinho apareceu!- disse Gabriel pondo a mão no meu ombro com deboche.
-Ele tava com a namoradinha dele! Qual que é mesmo o nome dela?- disse Guilherme e entrava na brincadeira caçoando.
-O nome dele é Bia, e ela é minha amiga. Então parem de me encher o saco vai- eu ri.
-Hummm tá legal irritadinho- disse Gabriel.
-Vocês souberam do boato?- disse Guilherme quase sussurrando.
-Sobre o monitor?- disse Gabriel.
- Do que vocês dois estão falando?- eu franzi a testa.
-Aparentemente alguma das veteranas está de caso com um dos monitores novos, aquele Heitor... sabe?- ele riu- eu fico surpreso como tem gente que não sabe os limites!- riu Gabriel.
-Não é da nossa conta- Guilherme rebateu- se eles tão bem e sem dar problemas eu não vejo porque as pessoas se meterem, e nem tem o porquê já que isso é coisa deles. Não é da nossa conta!
-Tenho que concordar com você- eu disse.
-Eu só to dizendo que não era pra eles estarem juntos, monitor e aluna... não tá errado não?- bufou Gabriel.
-Se for o Heitor, ele tem 18! E se for uma das veteranas ela deve ter 16 ou 17, a distância não é grande. E para de coisa!- disse Guilherme.
-Tá tá tá! Vamos parar de falar porque isso não é da nossa conta- eu disse- vamos para o dormitório logo de uma vez.
Uns dias depois eu vi o Heitor puto pelos corredores indo em direção a porta de saída do colégio, não parecia muito bem não, demorou mais uns dias para eu voltar a vê-lo. Até que estourou...
Eu recebi uma mensagem no celular, uma foto na verdade. Era uma foto da Bia nua, entre as cobertas, via-se as pernas mas os seios estavam cobertos e ela adormecida com os cabelos bagunçados. Eu gelei e me perguntei se eu teria sido o único a ter recebido aquilo, mas quando eu olhei envolta todos estavam do mesmo jeito que eu. Uns riam, outros se chocavam e outros fechavam o celular. Bia...
Sai correndo até o dormitório feminino e para meu espanto as meninas também comentavam! Entre risos e caras de choque! Meu Deus Bia o que houve?! Sentia um aperto no peito, voltei ao dormitório e vi a Bia com o rosto inchado na porta do meu quarto chorando abraçada com os joelhos...
-Beatriz!- fui até ela.
-Matheus...- ela me abraçou- o que eu faço?- ela tava desesperada...

Until now...Where stories live. Discover now