My sweet creature

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"Eu te odeio!"

A frase ecoou em minha mente durante toda a noite e não me deixara dormir.

Eu observava o teto do meu quarto como se fosse a coisa mais interessante do mundo, a tinta branca estava descascando inclusive e havia algumas manchas de umidade em seus cantos. Estiquei meu braço para o lado oposto da cama e o senti vazio.

Meu coração se apertou nesse momento, não estava mais acostumado a dormir sozinho, sentia falta do corpo pequeno que sempre roubava as minhas cobertas e me abraçava durante a noite.

"Eu sou só mais uma transa pra você? É isso, então?"

Como eu me arrependia de ter dito "sim".

Olhei em meu celular com a esperança de ela ter me mandado alguma mensagem, mas não havia nada. O relógio marcava 8:16 e eu achei melhor me levantar e encarar aquele novo e infeliz dia.

Meu quarto estava uma bagunça completa, assim como a minha vida. Havia roupas jogadas de todos os lados, sapatos espalhados pelo chão, alguns maços de cigarro vazios sobre o meu criado mudo. Eu não sabia mais diferenciar o que era chão e o que era lixo.

Fui em direção ao banheiro e me olhei no espelho. Pele escura, cabelos cacheados que por natureza ficavam no estilo black power, sobrancelhas grossas, olhos escuros, lábios carnudos e uma barba emoldurando meu queixo e minhas bochechas.

Este sou eu. Esta é a minha aparência e eu a amo assim, do jeitinho que ela é.

Cambaleante, desci as escadas em direção à cozinha que estava em um estado bem menos deplorável, não graças a mim, é claro. Comecei a fazer meu café, pensando no quanto eu a feri. Deixei minha mente vagar para longe daquela cozinha, imaginando o que ela estaria fazendo naquele momento.

Chorando?

Não, ela não era do tipo que chorava.

Acordada encarando o teto enquanto pensava em mim, assim como eu pensava nela?

Provavelmente não, ela não desperdiçaria uma noite de sono por minha causa.

Reclamando de mim com sua melhor amiga?

Talvez sim, ela sempre foi reclamona.

Dormindo como se nada tivesse acontecido?

Com certeza essa opção.

- Em pé essa hora? - uma voz me acordou do transe em que me encontrava e me virei para encontrar Otávio me encarando com um sorriso de lado - O que fez Ian Costa Vasconcelos levantar antes do meio dia em pleno domingo?

Não respondi, apenas continuei a coar meu café.

- Pelo seu mau humor diria que seu problema tem nome e sobrenome, acertei?

O ignorei mais uma vez. Não queria falar sobre aquilo e não iria.

- Ian, eu sei o que aconteceu.

- Você sabe? - finalmente dirigi a palavra ao meu melhor amigo.

- Do jeito que vocês estavam gritando acho que o resto do mundo também sabe - disse com um riso.

- Ela disse que me odeia, não dormi a noite inteira pensando nisso - confessei tendo a sensação de que minha voz fosse quebrar a qualquer momento.

- Eu tenho certeza que foi da boca pra fora, você sabe como ela é impulsiva, tenho certeza que te ama.

- Ela nunca disse que me amava, Otávio.

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