Aluísio
Eu estava sentado na janela fumando meu cigarro, como sempre fazia quando me estressava. Eu olhava a lua e as estrelas enquanto a fumaça penetrava meus pulmões. Tragava devagar para poder apreciar cada grama de nicotina que passava correr em meu corpo. Em meu consciente sabia que aquilo me fazia mal, mas estava pouco me importando, o que realmente queria era poder entender o que o deixara tão irritado naquela maldita noite, ou que o dia começasse novamente para que eu pudesse ver os sinais deixados e fazer certo dessa vez, mas sabia que era impossível. Então, a única coisa que me restava era fumar para aliviar o estresse e observar as estrelas, a lua e o pequeno sol que estava deitado a menos de um metro de distância.
Luís
Eu estava na cama, acordado, mas com os olhos fechados me perguntando por que, por que aquelas coisas sempre tinham que acontecer comigo que já tinha passado por tanta coisa sem nunca ter abaixado a cabeça uma vez se quer. Eu sentia o cheiro da fumaça incomodando meu nariz, eu odiava cigarros, mas não podia reclamar afinal esse não era meu quarto, não era a minha casa, não estava nem mesmo na minha cidade. Ouvi passos leves se arrastarem para fora do quarto, não era preciso nenhuma pergunta, pois sabia que ele estava indo escovar os dentes e lavar as mãos.
Apesar de ser um fumante odiava o cheiro impregnante que ficava.
Minutos depois senti um corpo se afundar ao seu lado junto de um suspiro. Ele não me tocou, imaginando que eu iria rejeita-lo, mas eu queria ao menos tentasse, tentasse me abraçar, tentasse passar seus longos dedos pelo meu braço, tentasse fazer uma carícia em meu cabelo, que tentasse qualquer coisa.
Aluísio
Eu me levantei da cama e fui até o armário pegando uma manta. Luís tremia, provavelmente de frio, já que apenas vestia uma boxer e uma camiseta de mangas curtas velha. O cobri até o pescoço, mas ele não se mexeu, continuou deitado de costas para mim.
- Eu a conheci quando tinha apenas 13 anos - eu disse após um longo silêncio com a esperança de que ele me ouvisse - no momento em que a vi parecia que meu mundo tinha congelado e as outras pessoas ao meu redor não existiam. Nós começamos a namorar no mesmo ano. Ficamos juntos por 5 anos, só terminamos porque eu passei na USP e ela tinha 17 anos e nunca teve planos de sair de Piracicaba. Eu fui seu primeiro em tudo, seu primeiro selinho, seu primeiro beijo, sua primeira transa, seu primeiro amor, mas quando deixei a cidade para trás tinha certeza que a Beatriz ia me superar, que ia achar alguém, que ia me esquecer, mas pelo jeito não. Mas isso não importa, sabe? Eu não me importo mais com ela, eu não sinto absolutamente nada por ela.
Eu achei que o garoto estava em um sono profundo e não tivesse ouvido uma palavra se quer do que havia dito. Ele sempre tivera o sono pesado.
Luís
Eu não disse nada, pois preferia o silêncio a dizer as palavras ácidas que vinham em minha mente. Eu realmente não me importava com Beatriz, eu me importava com o que ela havia dito e o que Aluísio havia deixado de fazer.
- Foda-se o que você sente ou deixa de sentir por ela. Foda-se se ela ainda te ama. Foda-se, sabe? Simplesmente foda-se porque você não consegue enxergar o que realmente me incomoda e o que me machuca nessa história toda - Eu falei sentindo que minha voz fosse quebrar como uma porcelana frágil.
- Então, o que é, Luís? O que é que está acontecendo? - Aluísio perguntou visivelmente irritado.
Eu me sentei na cama, enfurecido por Aluísio ser tão lerdo. Passei as mãos nervosamente em meus cabelos castanhos levemente cinzas. Olhei as grandes esmeraldas que me pediam uma resposta.
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What about the world
Short StoryEsta obra contém textos e contos de minha autoria. Alguns são apenas desvaneio, mas outros são reflexivos sobre nossa sociedade e problemas que, muitas vezes, não imaginamos que as pessoas os tenham.