Eu estava em meu quarto completamente bagunçado no pequeno apartamento localizado na cidade de São Paulo.
Eu estava deitada na minha cama olhando para o teto com meu celular ao lado de meu corpo.
Eu deveria estar fazendo o trabalho da faculdade, mas estou esperando. Ele disse que ligaria, ele prometeu.
Mas desde quando aquele idiota de olhos verdes cumpre suas promessas?
Nunca.
Essa era a palavra que martelava em minha cabeça sempre que pensava nele.
Nunca cumpriu promessas.
Nunca iria ligar.
Nunca iria mandar mensagem.
Nunca sentiu saudades.
Nunca esteve ao meu lado quando precisei.
Nunca se importou.
Nunca me amou.
Talvez ele sentisse saudades, mas não de mim, não da minha personalidade, não pela pessoa que eu era, mas do meu corpo e das minhas curvas.
Ele só me procurava quando sentia a necessidade de se aliviar e eu sempre acreditei que isso iria mudar. Que eu seria capaz de muda-lo.
Mas eu estava errada.
Como sempre.
Enquanto sua vida era constituída de nuncas, a minha era de sempres.
Sempre o corpinho bonito e gostoso que precisava.
Sempre me preocupei.
Sempre fiz tudo para dar certo.
Sempre fingi que não me importava.
Sempre fingi que não estava machucada.
Sempre senti saudades.
Sempre o amei.
Como o "nunca" e o "sempre" ficariam juntos?
A resposta é simples e dolorosa.
Não ficariam.
Tão opostos quanto o sol e a lua.
Como a luz e a sombra.
Como o céu e o mar.
Como preto e o branco.
Como positivo e negativo.
Como o dia e o sereno.
Como a cura e o veneno.
Talvez eu fosse sua cura e ele meu veneno.
Antes de tudo começar, eu sabia que seria apenas algo de pele, sem emoções envolvidas, sem cobranças. Eu acreditei que conseguiria, que seria apenas sexo e nada mais.
Mas eu me envolvi com o cara alto dos cabelos loiros. Me envolvi mais do que deveria porque cometi o maior erro da minha vida.
Eu aprendi a ama-lo.
Ama-lo com seu jeito grosseiro, bruto, mal-educado, convencido, egoísta e maldoso, porém às vezes se mostrava delicado, sutil, amável, bondoso e carinhoso.
Eu já tentei desistir de tudo isso, mas não consegui. Todas as vezes que me afastei, ele apareceu dizendo coisas doces, me fazendo rir, me fazendo esquecer a dor que sentia por saber que não me pertencia, fazendo seus joguinhos cruéis.
Quando dava por mim, já estávamos ambos nus, gritando de prazer, completamente perdidos no corpo um do outro.
Mas depois que isso acabava, ele sumia com a mesma promessa de sempre.
"Eu falo com você amanhã, prometo."
Esse amanhã era a próxima transa que ele quisesse ter comigo.
Mas eu sempre esperava a ligação ou a mensagem ou qualquer coisa que ele usasse para entrar em contato.
Mas nunca chegava até a próxima vez que ele queria o meu corpo.
Eu me perguntava por que não conseguia me livrar dele de uma vez.
Por que ele não me deixava ir?
Por que ele me queria presa a ele enquanto eu não podia prendê-lo a mim?
Por que sempre que tentava me envolver com outra pessoa ele aparecia e agia como se fosse meu dono?
Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?
As únicas palavras que passavam em minha mente eram: Por quê?
A resposta sobre mim eu já sabia há muito tempo:
Porque eu sou uma trouxa apaixonada.
Uma idiota fudida.
Sobre ele:
Eu não sei.
E não sei se quero saber.
Eu queria me livrar dele.
Queria que ele me esquecesse.
Eu estava tão cansada de ser usada, de ser apenas um rostinho bonito com curvas perfeitas, de ser seu brinquedinho.
Eu estava exausta, na verdade.
Eu só queria que ele me amasse.
É pedir muito um pouco de amor?
Não importa o que eu faça, não importa o que aconteça, não importa o que eu tente, não importa o quanto eu me estresse, não importa o quanto ele me mate por dentro, eu continuo voltando para Elias Marques.
Um toque calmo me despertou, não percebi que havia dormido. Ou eu estava apenas sonhando acordada e havia me desligado do mundo?
Eu não sabia.
Peguei o meu celular e olhei o nome na tela. Atendi receosa com a voz levemente quebrada.
– E aí? Eu disse que falaria com você hoje, não disse? – A voz rouca veio seguida de uma risada de sua parte.
– Horário e local de sempre? – perguntei com a voz cansada, já sabendo o motivo de sua ligação.
– Não, Laísa, eu não quero transar.
– Então, o que você quer? – perguntei irritada.
– Eu só queria ouvir sua voz mesmo – ele disse calmo – Bem, eu... É que... Senti sua falta, queria conversar com você, nunca fazemos isso, sabe? Conversar.
Meu coração destruído que se encontrava em local escuro e frio se aqueceu com suas palavras.
Talvez o "sempre" pudesse ficar junto do "nunca".
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What about the world
Short StoryEsta obra contém textos e contos de minha autoria. Alguns são apenas desvaneio, mas outros são reflexivos sobre nossa sociedade e problemas que, muitas vezes, não imaginamos que as pessoas os tenham.