10- Seu Jeito

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Fiquei sozinha em casa com os meus bebês, meus dois gatinhos sapecas que fui forçada a me afastar por ter voltado pra casa da minha mãe, o que foi uma das piores coisas pra mim, pois é muito difícil retroceder depois de já ter tido minha própria casa e minha liberdade... no momento moro apenas com minha irmã mais velha e ela possui asma alérgica, em especial à gatos.

O calor em casa era insuportável, até porque não temos telas protetoras nas janelas e moro no nono andar, com isso, obviamente, não ficaria com elas abertas porque, por mais "espertos" que as pessoas pensem que são os gatos, basta um descuido e não haveria mais volta, então era melhor não arriscar, mesmo que eu também sofra de asma alérgica... tenso não?

Devido a isso não fui a aula na quarta a noite, nem quinta por ser feriado e nem sexta também, pois não tivemos aula. Sobre Alice, eu puxei assunto com ela em alguma, ou em todas as formas possíveis, até me lembro que às vezes ela interagia melhor pelo Facebook, mas não aconteceu nenhuma conversa como as que costumávamos ter, por alguma razão, a qual já desconfiava saber qual era, começou a demorar mais do que o normal para me responder e isso me intrigou e incomodou.

Alice já havia comentado que não é muito atenciosa por rede social ou aplicativo de mensagens, mas, por mais que demorasse a responder, sempre me respondia, sempre parecia interagir, mas a partir daquele momento era como se isso tivesse mudando, então questionei, lembro de ter enviado algo a respeito e mais de vinte e quatro horas ter se passado e não ter recebido retorno... fiquei preocupada... "será que fiz alguma coisa de errado?"... até porque era mais "inteligente" pensar nisso do que considerar a possibilidade mais óbvia de que ela namorava e eu era um empecilho. – Ironizou.

Quando surgiu, disse estar de boa, disse que esse era seu jeito, mas poxa, três semanas e somente depois do que aconteceu Alice de repente se torna mais distante e indiferente? Do nada seu "jeito" passou a interferir na nossa "suposta" amizade? Complicado de engolir e fingir que tá tudo bem.

Eu realmente queria que ela me dissesse a verdade, ou o que EU acreditava ser a verdade, porque sim, queria ficar com ela novamente e, em algum momento onde consegui ligar o foda-se pra todas as loucuras em minha mente, lhe sugeri isso, mas não lembro de haver uma real resposta, nem positiva e nem negativa, ao menos de início, e me refiro à "querer", porque "poder", obviamente, eu já sabia que não podia já que tinha um namorado.

Eu sei como é ser uma pessoa que não responde rápido porque também sou assim, sou assim com a maioria das pessoas que puxam assunto comigo pelo simples fato de não ter interesse em falar com elas, eu simplesmente as esqueço e se não responder na hora, outras mensagens surgem e é aí que realmente as esqueço, sem dizer que odeio ligações, mas com Alice eu falaria com frequência, cheguei a ligar pra ela umas duas vezes durante as três semanas anteriores e não era um peso, por maior que fosse o incômodo de estar numa ligação, então pra mim, quando alguém me diz que é assim, por mais que haja uma falta de atenção natural, é na verdade apenas uma desculpa pra disfarçar um desinteresse, ou alguma outra razão, e sinceramente considero normal, eu só queria saber, porque, como disse, existe uma falta de atenção natural, também acontece comigo, mas não achei normal, em nosso caso, já que as coisas começaram a acontecer, justamente, depois de termos transado.

Parece que não, mas é lógico que eu compreendia, só não conseguia evitar o sentimento de frustração que aquilo me causava, mas eu precisava respeitar, afinal sabia muito bem o que estava fazendo e não era a favor das minhas próprias atitudes, por isso pensava: "e se ela ficar sem o namorado, você vai fazer o quê? Vai namorar com ela? Tá maluca? E a Igreja? E sua família? Pára com isso sua louca, deixa a menina em paz!"

Infelizmente não consegui me conter, então forcei a barra, falei mais diretamente depois de ser ignorada porque precisava de uma resposta, precisava do porquê ela estava me evitando, demorando em me responder, recusando em estar comigo e eu sabia que não era apenas o "seu jeito"... – Pausa. – pra mim hoje soa idiota, mas na época era angustiante, ainda mais porque acreditei que a culpa era minha, pensei que havia feito algo de errado, ainda era inexperiente, achei que não tivesse sido bom como ela fez parecer, achei que talvez tive dito, ou dado a entender que sim pra não me magoar... fui egocêntrica... enfim, insisti e foi quando Alice me respondeu dizendo:

– Eu amo meu namorado e quero fazer meu namoro dar certo.

Ali eu deveria tê-la deixado em paz, deveria ter encontrado a minha paz, seguido a minha vida e esquecido, e o engraçado é que até cheguei a sentir um alívio por finalmente obter uma resposta, mas já existia um sentimento que nem havia sido percebido e aquela frase, por outro lado, doeu de tal forma que, ao invés de gerar o efeito que eu precisava, gerou o oposto... gerou raiva... e aqui vai mais uma confissão: Eu achava que havia me apaixonado por causa do meu ego ferido, achava que ele teria me feito pensar nela mais do que devia, mas foi escrevendo essa história que percebi que, quando meu ego se machucou pela primeira vez, eu já estava apaixonada e não sabia.


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju.

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora