21- Dia dos Namorados

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Aquele péssimo dia chegou, dia dos namorados, mas pra ser bem sincera nunca me importei com essa data, a maior parte da minha vida passei sem comemorá-la, por isso pra mim ela nunca havia feito grande diferença, mas aquele dia em especial estava fazendo e, se não me engano, foi quando fiz uma das maiores besteiras... desabafei com Sophia.

Sábado, dia 11 de junho de 2016, trabalhei com figuração, mas, enquanto começava a ir embora, conversava com Sophia por Whatsapp quando a mesma me chamou pra ir pra sua casa e como não tinha mais nada pra fazer, e ficar em casa era risco de brigar com minha irmã, optei por aceitar e fui.

Dormir no pensionato onde morava Sophia se tornou algo costumeiro, tanto que cheguei a comprar uma escova de dentes e deixar lá, informação que será de certa forma importante no futuro, então lembrem-se disso.

Sobre meu desabafo, creio que tenha sido no próprio sábado que isso aconteceu, acho que nós íamos pro teatro assistir alguma peça, não me lembro qual, o que também não importa, a questão é que ela já havia falado tanto de coisas pessoais, coisas referentes ao relacionamento que estava tendo com o Gustavo e com outros caras, tanto do presente, quanto de seu passado e eu estava me sentindo triste, então comecei a pensar em lhe contar, retribuindo a confiança que demonstrava ter em mim.

Eu já havia reconhecido, não só pra mim, mas creio que pra Alice também, mesmo que talvez não com todas as letras, mas havia reconhecido o sentimento que crescia dentro de mim.

Havia sim um amigo com quem conversava, amigo de trabalho o qual já mencionei por ter me perguntado se eu namoraria com ela, mas não era sempre que o encontrava, sem dizer que ele não parecia compreender direito o que eu estava passando, pois dizia coisas "positivas", dizia que ela gostava de mim, mas não era isso o que eu precisava ouvir, o que é contraditório dentro da nossa sociedade, porque o que estamos acostumados a ver são pessoas querendo ouvir apenas o que lhes agrada, o que estava precisando era de realismo e não de mais esperança do que meu sentimento já criava por conta própria.

Eu não tinha a minha amiga lésbica, porque enquanto meu amigo do trabalho era "otimista" e só me dava força, ela me xingava e dizia que eu estava sendo muito idiota, dizia também não ter paciência e que eu tinha que ligar o foda-se e seguir a vida porque havia sido apenas sexo e nada mais. O problema com minha amiga era que ela nem me deixava contar a história para que pudesse analisá-la, por isso, mesmo que no fundo seu conselho fosse o mais certo, mesmo sendo o correto, achava meio escroto responder no automático, assim você não acerta por estar certa, você acerta porque acertou a resposta na sorte, não tem fundamento, é grosseiro e ignorante.

Com Amanda também não tinha como falar, mesmo ela sendo a melhor de todas as opções, porque havia algo estranho entre nós desde que lhe contei sobre ter ficado com Rafael, tinha medo de falar sobre o que estava passando, não sabia se ela entenderia, ou se isso a magoaria, até porque não sabia até aquele momento que minha melhor amiga ainda era apaixonada por mim depois de dois anos de nosso rompimento... rompimento causado principalmente por ela. Na época eu segui a vida, pois era a única opção que tinha e achei que ela já havia feito o mesmo, foi isso que me deu a entender, mas foi justamente no meio de toda a minha novela mexicana que descobri que não, Amanda não havia esquecido e eu já estava sofrendo por outra pessoa.

Precisava de outros olhos e achei que não havia olhos melhores do que de alguém que conhecia nós duas, alguém que convivia com ambas e que eu considerava ser de confiança, ou seja, ninguém melhor do que Sophia. Com isso, foi naquele sábado que contei à ela, dizendo:

– Tô apaixonada pela Alice.

Houve muito espanto.

– Como assim? – Perguntou ela.

– Foi isso mesmo que você ouviu.

– Mas já aconteceu algo entre vocês?

– Sim. – Respondi sorrindo de nervoso em meio a um enorme receio em tocar neste assunto por causa do meu sentimento de proteção que tinha por Alice.

– Mas como? Eu nunca pensaria nisso, você nem chega perto dela.

– É justamente pra não chamar atenção que eu a evito. – Respondi.

Queixo no chão, essa era a expressão que mais combinava com a fisionomia de Sophia enquanto me olhava e perguntava a respeito desta história que lhes conto até aqui, embora que com outros olhos é claro, na época eram olhos de quem ainda não tinha sofrido metade do que sofreu.

Foi naquela noite em que Sophia me disse:

– Esquece ela, conheço Alice e a gente é muito parecida, é melhor você esquecer isso.

Eu realmente sabia como Sophia era, como trocava de homem num estalar de dedos, mas achei exagero dizer que Alice era como ela, de qualquer forma fomos pro teatro ainda falando a respeito do assunto enquanto ela dizia que ia passar a observar nosso comportamento, porque agora que sabia poderia olhar com outros olhos e aquilo era justamente o que eu precisava, que alguém olhasse de fora, precisava de alguém que olhasse com frieza e empatia, alguém que não só julgasse pela história que eu pudesse ter contado, ou por deduções frias, porque eu queria saber se minhas ilusões eram apenas coisas da minha cabeça, ou se Alice, de alguma forma, correspondia aos meus sentimentos... boba eu.

No domingo acordei com postagens fofas do "casal vinte" no Facebook... presentes... café da manhã juntos... não senti a tradicional inveja raivosa, senti tristeza. Sophia me perguntou como eu estava diante daquilo e comentei meu sentimento, mas não aprofundei muito, pois não sou muito disso dependendo da pessoa e ela não era tão íntima para que eu realmente expusesse mais do que já havia feito.

Fui embora com o coração apertado e muito receosa de ter feito besteira em contar, mas já estava feito e eu precisava, realmente me senti mais aliviada na hora, mas de fato não devia ter feito, sem dizer que não importava a conclusão que se chegaria, ainda precisava esquecê-la e seguir minha vida, mas como não poderia fazer com Rafael, precisava encontrar outra pessoa.


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju.

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora