13- Ela não Veio

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No dia seguinte tivemos nossa aula de corpo a respeito de um exercício que teríamos que fazer em grupo e apresentar no início de maio. Meu grupo era formado por mim, Thiago e Pedro. Sophia, como ainda estava se recuperando, não participaria por não poder fazer esforço físico, mas ficou por ali rindo e zoando da gente.

Após o intervalo veio a aula de história, não me contive e tentei novamente algo com Alice. Estávamos sentadas longe uma da outra, então lhe mandei uma mensagem convidando-a a ir comigo pra minha casa naquela mesma noite, pois era o dia em que ficava sozinha, era o único dia em que o apartamento era somente meu e não precisava explicar, ou justificar, nada a ninguém, ou seja, toda maldade estava em mim, pois queria muito repetir aquela primeira vez que tivemos, queria muito tê-la novamente e poder fazer melhor o que considerava não ter feito tão bem assim, e isso era tão forte que conseguia ser maior do que meu bom senso, ou do que meus problemas religiosos, ou do que meus problemas por ela ter um namorado... ou por todos juntos... ela pareceu ter ficado tentada a ir comigo.

Alice saiu de de seu lugar, como se não conseguisse enxergar bem a televisão por onde nosso professor passava alguns slides, e veio se sentar ao meu lado, mas até aí não parecia haver nada demais, até que, em algum determinado momento, ela começou a alisar meu antebraço com as pontas dos dedos de um jeito estranho que me arrepiou. Tentei disfarçar, porque essa era minha reação em público, mas o olhar que me deu, mesmo que não houvesse expressão facial, me sugeria que sim, ela estava tentada a ir comigo pra minha casa.

Se eu estava certa, não sei, apenas sei que sentia a tentação daquela quinta-feira no ar, ela realmente pareceu ter pensado a respeito e ficamos nisso durante toda uma caminhada enquanto íamos embora, acompanhadas por nossos colegas de turma, até a entrada do metrô, que era o ponto onde costumávamos no separar e ali seria decisivo, ali ela definiria o que iria acontecer... ela não veio.

Era complicado abordar o assunto naquele momento com outras pessoas ao redor, eu não tinha como insistir, ou ao menos perguntar a respeito, então nos despedimos, fomos cada uma pro seu lado... não sei ela, mas meu coração mais uma vez se partia ali, mesmo que não devesse, mas é aquilo, existem coisas que não são do nosso controle, ainda mais quando o assunto é sentimento, nós conseguimos, com muito esforço, conter, mas tem hora que parece que não dá, as emoções te engolem e te sufocam, embora que a gente sabe que dá sim pra segurar, acho que é a sensação do momento que te faz acreditar que não.

Por fim, fui pra casa frustrada e tendo que matar todo aquele desejo mais uma vez enquanto me xingava, enquanto dizia pra mim mesma o quão idiota eu estava sendo, o quão imprudente estava sendo... o quão egoísta estava sendo... – Respirou fundo. – eu queria tanto que se repetisse e ao mesmo tempo achava tão escroto da minha parte fazer isso com ela.

Deitei pra dormir cheia de conflitos e pensamentos, cheia de muita coisa na verdade, tantas que nem sei falar a esse respeito, apenas sei que estava sozinha, mais uma vez, em um apartamento escuro e silencioso enquanto poderia estar com ela em meus braços, e nem me refiro apenas a sexo.

É engraçado como ainda hoje me emociono ao lembrar e mesmo falando a respeito nem faço ideia de como tudo isso aconteceu, porque ela se dizia, ou se apresentava como uma pessoa livre, um pássaro a voar e, ao meu entender, não fiz nada que a fizesse ficar, ou se interessar, ou até se prender de alguma forma, mas como ela mesma disse, tudo começou no primeiro olhar.

Aquela noite foi péssima de todas as formas possíveis, até porque acordei no meio da madrugada passando muito mal, eu estava entrando em crise renal pela primeira vez em minha vida e, por causa disso, comecei a dar graças a Deus por ela não ter aceito o meu convite. – Riu. – Imagine só estarmos juntas e, do nada, eu começar a passar mal... seria bizarro. – Riu.

Duas horas da madrugada e eu ligando pro meu pai, que não mora perto de mim, porque eu não possuía plano de saúde e não fazia ideia do que fazer a respeito, até porque nem tinha total certeza de que era isso o que estava acontecendo.

Às oito horas da manhã ele chegou pra me buscar, ou seja, foram as piores seis horas da minha vida e, obviamente, não pude ir a aula naquela sexta-feira, dia vinte e nove de abril de 2016, eu precisei ir ao médico e assim ficaria mais uma semana sem poder vê-la, nos falando apenas por Whatsapp, já que continuava mandando mensagens pra ela.

Mais uma semana de agonia, de pensamentos, de muitas coisas que nem sei como explicar, mas como já mencionei, minha vida parecia uma novela adolescente, a qual, infelizmente, não podia compartilhar com minha melhor amiga, pois, depois do esporro que levei sobre Rafael, comecei a ter medo de que ela ainda estivesse apaixonada por mim... e estava... eu teria que suportar tudo sozinha... não consegui.  


Obs: Vc já sabe o que vou pedir né kkk... bêju Bázil!! ;)

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora