Todos os dias enquanto voltava para casa à noite, tinha que passar por uma travessia longa. A luz dos postes não chegava até lá, por isso existia um botão no lado de dentro do muro, que acendia uma lâmpada, onde morava um senhor simpático. Naquele dia, apertei o botão, a luz clareava apenas no centro, mas de onde estava pude ver claramente a garota ensanguentada embaixo dela. Se não estava morrendo, estava morta. A árvore na outra ponta parecia com uma forma diferente, mais grossa do que me lembrava. Olhei atentamente e um homem saiu correndo de trás dela, especificamente atrás de mim. Corri para fora da viela e peguei o caminho mais longo para minha casa, já que meu atalho fora interditado.
No outro dia ainda pela manhã, passei por lá. O corpo tinha sido retirado. Apenas as manchas de sangue permaneceram, talvez fosse impressão minha, mas a viela parecia mais escura mesmo a luz do dia, mais fria mesmo que estivesse calor.
Não consegui parar de pensar no caso, descobri o nome da garota. Mas não sabiam quem era o assassino. Nem mesmo eu tinha identificado seu rosto quando o despistei no dia anterior.
Voltei para casa com receio de atravessar. Acendi a lâmpada e tudo parecia tranquilo. Ninguém diante da luz ou atrás da árvore. Avancei com passos apressados, a luz tinha um temporizador e apagava em dois ou três minutos, tempo suficiente para completar a travessia. A lâmpada piscou quando passei por baixo dela, estremeci e algo me fez parar. Olhei para trás, a garota estava ali de costas para mim. Ela se virou devagar, as facadas em seu peito escorrendo sangue por toda sua roupa.
— Você não me salvou.
A luz apagou e pensei em sair correndo, mas com o desespero me escondi atrás da árvore ofegando, assim que vi alguém entrando na viela do outro lado. A pessoa acendeu a luz. Percebeu a garota ensanguentada no chão.
Eu tinha que avisá-lo do que estava acontecendo. Corri atrás dele, sabendo para onde iria, mas não consegui alcançá-lo, um caminhão me acertou quando tentei atravessar a rua às pressas.
