Capítulo 15

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Sentada em um banco às margens Tâmisa e tendo a companhia de uma garrafa de álcool, a segunda da sacola ao meu lado, observo o espetáculo de luzes da London Eye enquanto meus pensamentos voam de volta para o que aconteceu horas atrás e que eu afogo com mais um gole da bebida, juntamente com o nó em minha garganta.

Ainda não consigo acreditar que depois de tudo, eu fui capaz de ser estúpida o bastante para cair outra vez na mesma armadilha que bagunçou a minha vida há três anos. Eu, crente de que estava no comando e que sabia muito bem onde estava me metendo ao concordar com essa loucura, agora percebo que me trai no instante em que aceitei os sentimentos que, inevitavelmente, cresceram em mim. Assim como confiei que o que tínhamos era real e, pela primeira vez, poderia me entregar sem medo.

Como eu sou patética!

Tudo estava tão óbvio desde o início, por que eu não consegui enxergar? Por quê?

– Porque você é muito idiota, Clara. Simples assim. – murmuro.

Dou mais um gole na bebida e pego o celular largado no fundo bolsa, o qual coloquei no 'modo avião' para não receber chamadas e mensagens. Ajeito os fones de ouvido, desbloqueio o aparelho e abro a pasta de músicas. Preciso ouvir alguma coisa.

Embora a minha mente grite que eu não devo sofrer por aquele garoto, meu tolo coração parece ter vontade própria e, depois de debater internamente por longos minutos e entre longos goles de álcool, me deixo levar pela tristeza e decido me martirizar escutando músicas românticas. Algo que eu não faria normalmente, mas que agora parece tão certo. Necessito me maltratar um pouco mais, para aprender de uma vez por todas que o amor é uma grande merda!

Os primeiros acordes de Set Fire To The Rain da cantora Adele começam a tocar. Uma música cuja a letra expressa exatamente o que sinto agora.

Cada palavra, cada verso.


"I let it fall, my heart

And as it fell you rose to claim it

It was dark and I was over

Until you kissed my lips and you saved me

My hands, they're strong

But my knees were far too weak

To stand in your arms

Without falling to your feet"


Sentindo cada pedaço de mim se desfazer, engulo as emoções com ajuda de uma golada e encaro as luzes da roda gigante dançando sobre o rio. Em outro momento, eu ficaria muito feliz em ver as luzes coloridas e em movimento, mas o meu coração está tão cinza que tudo me parece apagado e sem graça.

Novamente penso em John. A dor, a tristeza e o sofrimento me acertam com força. Lembro dos nossos olhares, dos nossos beijos, dos nossos toques, e me sinto pequena. Muito, muito pequena. As boas lembranças inundam a minha cabeça, mas se dissipam logo que as imagens do seu beijo com Andrew e dos dois entrando no carro e partindo juntos me atingem dolorosamente.

E, de novo, a realidade vem à tona.


"But there's a side, to you, that I never knew, never knew

All the things you'd said, they were never true, never true

And the games you'd played, you would always win, always win"

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora