Eram quatro da manhã.Eu estava sentado no parapeito da janela da minha casa,com as pernas para fora,encarando a lua por mais ou menos uma hora.Meus fones de ouvido no volume máximo tocavam alguma coisa de Cry Baby.Eu gostava dessa álbum,mas não estava prestando atenção.Eu prestava atenção no céu,com um pouco de desespero.Me lembro de que,quando eu era criança,eu rezava para aquele infinito escuro me sugasse para dentro dele.Me deixar lá,voando.Não precisava ser para sempre,eu pedia.Só um pouco,eu preciso descansar da terra.Eu achava tudo aqui tão pequeno e pesado.Muito pesado.Agora as nuvens devoravam a lua,devagar.Antes mesmo de perceber,imaginei a lua sufocada,gritando por socorro numa língua extraterrestre.E então vem o sol e ele a cobre de luz por um tempo,até passar.Mas,enquanto ele faz isso,ela desaparece de si mesma.Precisa ficar sozinha para existir,sua luz é fraca.Mas quando ele fica sozinha,aparecem as nuvens e a lua tem medo.Muito medo.
Love never gave me a home,
So I sit here,in the silence
Entrei no quarto,abri a gaveta e peguei um pequeno caderno preto bem velho e amarelado.Eu o guardo para escrever os sentimentos mais relevantes,para no futuro eu conseguir lembrar de quem eu era e o que me tornou...o que eu me tornar.As lágrimas menos interessantes eu escrevo no fundo dos cadernos da escola,em rimas mal feitas que eu dou pro Demon ler e jogo na lixeira do intervalo depois.Mas tudo o que tem aqui é grande demais pra jogar fora,ou algo desse tipo.As primeiras páginas são uma bagunça.O resto é um pouco mais organizado,mas as frases ainda não conversam muito umas com as outras quando você lê tudo de uma vez.Abri na primeira página em branco,logo depois de um monólogo sobre se ligar emocionalmente à coisas que vão se auto-destruir em pouco tempo,ou talvez nem existam.Peguei o lápis.Vai ser difícil de explicar esse.
16 anos,nove meses e três semanas.
Hoje eu tive um sonho que eu ainda não sei o que significa.
Nele eu acordava numa madrugada,mas na minha cabeça era como se fosse manhã.Deve ser normal.Sempre amei as madrugadas.Desci as escadas para tomar café,mas a casa estava vazia.Haviam maçãs verdes numa travessa na mesa.Eu estava com fome,maçãs verdes são a minha comida preferida,mas eu não quis comer.Me olhei no espelho maior da sala,aquele que me incomoda desde sempre por que me soa muito prepotente.Minhas olheiras estavam maiores.Eu usava uma coroa de flores cinza que não me lembrava de ter colocado.Fiquei me encarando por um tempo,então a minha cara começou a derreter.Derreter mesmo,igual a um filme de terror.Mas não senti nada.A pele ia derretendo e se solidificando de novo,até eu ficar com o rosto do meu pai.Eu tentei arrancar o rosto,mas doeu demais.Eu comecei a chorar.Então uma voz saiu de dentro da minha boca.Mas não era a minha voz.Era a dele,dizendo o que eu não podia mais chorar como uma garotinha de dez anos.Tentei falar com a minha voz,mas só saia silêncio.Eu olhei em volta e já era meio dia,e as maçãs na mesa estavam podres e cheias de vermes maiores que vermes normais.Cresceram espinhos na coroa de flores.Eu acordei sem saber se tinha realmente acordado,e a primeira coisa que eu fiz foi me olhar no espelho.Nunca achei a visão da minha cara tão reconfortante na vida.
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Anthem for the Broken
Подростковая литератураCaos e ordem . Amor e ódio . Paz e guerra . O que fazer quando tudo está tão fora de lugar que os limites entre estas palavras se tornam confusos e imprecisos na sua mente? Uma cidade marginalizada.Esquecida no meio do nada,abandonada aos ratos e a...