Capítulo V

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Naquele dia, a faculdade parecia pequena comparado com meus pensamentos. Michele me encontrou na saída, e fomos juntas para o meu trabalho, ela estava de folga em plena segunda feira, contei tudo sobre Vitor pra ela. Michele diferente de Amara, era calma então só sorriu e me desejou sorte, e chegamos no meu trabalho.

- O Maria, você quer me matar de curiosidade né, por que não me mandou nenhuma mensagem sobre ontem?- disse Amara toda entusiasmada.

- Eu esqueci meu celular em casa, você me desculpa?- eu disse fazendo cara de coitadinha.

- Efeito Vítor!- gritou Michele lá do outro comodo com um copo de café na mão. Ela estava certa.

Contei tudo para Mara, como aquela noite tinha sido magnífica, como parecia ter saido das paginas de um livro.

- O bom é que ele não pode ver essa sua cara feia- brincou Amara - Tá isso não teve graça! Mas falando sério agora, você não tem nenhum problema com a deficiência dele?

- Não dá pra ter, ele é tão gentil, e você sabe que eu não ligo pra diferenças- fui sincera e Mara concordou com a cabeça.

Naquela tarde o sex shop estava muito movimentado, Michele estava nos ajudando, trabalhando de graça em seu dia de folga, um jeito muito peculiar de se passar a folga sem ser com seu namorado, já que os dois não desgrudavam, perguntei para ela do Jonas, ele tinha ido para a casa dos avós em outra cidade.
Uma senhora na faixa dos 60 anos chegou na loja procurando por algum gel estimulante, era incrível a quantidade de pessoas mais velhas que vinham ao sex shop. Eu gostava muito do meu trabalho (embora eu não tivesse contado pra Vítor, com medo de um pré julgamento), era um ótimo lugar pra se fazer amizades, a maioria dos clientes de Mara eram bem humorados, principalmente os mais velhos, sempre tinha as pessoas mais tímidas, já que estar em um sex shop só diz uma coisa, quem está comprando o produto vai fazer algo relacionado a sexo, e algumas pessoas tem vergonha, apesar de que praticamente todo mundo faz ou ja fez sexo.

Depois do trabalho, fui pra casa, esperava que Vítor não tivesse me ligado, porque a doida aqui, se apaixona e esquece o instrumento valioso que nos permite conversar mesmo não estando perto, justo um dia após nossa noite maravilhosa.
Fui para o meu quarto, meu celular estava onde eu deixei, estava desligado, liguei, tinha algumas mensagens de Vitor perguntando por que eu não atendia o celular. Liguei pra ele, que atendeu segundos depois.

- Oi Vitor, me desculpa, eu esqueci meu celular em casa, passei o dia inteiro sem ele, me perdoa?- disse, com medo dele ter desistido de mim.

- Tudo bem, já tava começando a achar que você não tinha gostado de mim.

- Muito pelo contrário, eu gostei muito de você, e você está me devendo aquelas aulas de biologia - eu disse para o lembrar que tínhamos um compromisso.

- Como eu poderia esquecer disso?!- ele riu- Ei, Maria, hoje eu vou tocar no festival de violão lá na praça, você quer ir?

Tapei a entrada de voz do celular, e o travesseiro abafou o grito que eu dei, ai meu Deus, eu ia ver ele de novo, e tocando.

- Maria? Você ainda tá ai?

- Ah sim, estou, e eu adoraria ir, que horas vai ser?

- 20:00 horas. Ei eu vou me arrumar aqui, pegar os equipamentos e etc, tudo bem? Então nos vemos no evento?

-Tudo bem, nos vemos no evento- ele desligou o celular, e eu fiquei encarando o meu, a felicidade cintilava em meus olhos, minutos depois eu vi que mamãe estava cantando lá na cozinha, coisa que não acontece todos os dias.

- Mãe, o que aconteceu?

- Seu pai me ligou filha!- ela disse, com um sorriso no rosto, eu sabia que ele ia tomar coragem.

- Pelo que eu tô vendo isso foi muito bom?

- Ai minha filha, foi tão bom, conversamos sobre nós, você sabe que nosso relacionamento não estava legal, ai nos separamos, mas eu fiquei com um vazio tão grande sem ele, e ao julgar que foi ele quem me ligou, ele também ficou com esse vazio, então conversamos, olhamos para o que fez com que o relacionamento acabasse, e como já sabíamos que tínhamos feito isso precipitadamente, nós resolvemos sair de novo, recomeçar do zero, marcamos um encontro- minha mãe tinha dito aquilo tudo com um sorriso no rosto, ela era tão linda, eu a abracei.

- Que ótimo mãe, eu fico muito feliz em saber disso, o papai estava com medo de você não atender as ligações dele- eu ri- Mas olha você ai, toda feliz, ele deve estar pulando de alegria também, espero que vocês se entendam.

- Muito obrigado filha, mas mudando de assunto agora, e você e aquele garoto na noite passada? Qual é o nome dele mesmo?

Contei tudo para minha mãe, como tinha sido lindo, já era a terceira vez que eu contava isso para alguém nesse mesmo dia.

- Eu vou me encontrar com ele hoje de novo, no festival de violão na praça, e a propósito eu devia estar me arrumando.

- Esse rapaz parece ser muito bom. Se você quiser eu te levo na praça hoje? - mamãe disse e eu acenti, aceitando o pedido- Okay Maria, então vá se arrumar.

Eu fiz o que ela mandou, já eram 19:40 quando eu terminei, provavelmente eu perderia a primeira apresentação, espero que não seja a de Vitor. Chegamos lá, estava acabando a primeira apresentação, era de um trio de meninas, eu me sentei em uma cadeira que estava sobrando, na penúltima fileira em frente ao palco, mamãe se despediu de mim, já que ela tinha coisas a fazer, eu fiquei sentada lá, vendo e ouvindo, como as pessoas tocavam bem, algumas cantavam também, eu não sabia que nessa cidade tinham tantos músicos talentosos, eu cantei no coral da escola até meus 15 anos, mas parei, meus professores me disseram pra eu continuar, mas eu não tinha confiança em mim, eu tinha me esquecido disso, mas aquelas pessoas me fizeram lembrar, não sei por quê, mas me deu uma nostalgia tremenda.
Chegou a vez de Vitor, um homem estranho o guiou até a cadeira do centro do palco, ele se apresentou e disse o que ia tocar, era uma composição dele.

Ele tocava tão maravilhosamente bem, e a música era linda, fechei meus olhos para prestar atenção só na melodia, era perfeita, cada toque das cordas do violão, fazia meu coração pulsar mais forte, como ele conseguia fazer isso? Aquilo me fez pensar o quanto ele era especial, apesar das barreiras ele conseguia fazer aquela coisa linda, a música me fez sentir como se eu estivesse no jardim com as flores mais lindas do mundo, era apaixonante, em cada acorde eu me arrepiava mais e mais, imaginei nós dois naquela noite, com as mãos dadas, ouvindo o esguichar da agua, estávamos sozinhos naquele universo desconhecido que nasceu quando nos esbarramos naquela noite, a música invadia meus ouvidos e eu não queria parar de ouvi-la, não queria parar de senti-la, Vitor tocava com a alma.
As palmas mais uma vez mostravam que a apresentação tinha acabado, e Vitor foi o último, o que significava que eu ia até ele agora.

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