Exorcismo

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Naruto beijou novamente o pingente e tocou a campainha. Ouviu rumores dentro da casa, barulhos que indicavam uma movimentação ansiosa, seguida de vozes que tentavam controlar o tormento que certamente afligia cada membro. Logo a suntuosa porta abriu, revelando um homem de cabelos e olhos negros avermelhados que fitaram o padre com urgência, convidando-o a entrar com certa afobação. O rosto corado do anfitrião revelava que ele havia feito demasiado esforço. Algumas mechas colavam-se a sua testa suada, e os olhos brilhavam aflitos e marejados.

— Desculpe por chamá-lo tão tarde, mas é que estamos desesperados. Por favor, padre, não sabemos mais o que fazer, o meu irmão começou a agir de maneira estranha e se debater... — um grito agudo oriundo do segundo andar fê-lo interromper a fala e retesar os músculos, ansioso e indeciso se devia subir ou não.

— Não se preocupe com isso, o demônio não escolhe hora para atormentar. Apenas me leve até o pobre rapaz para que eu possa fazer o meu trabalho. — pontuou com a voz calma, tocando o ombro do rapaz em um gesto terno.

Seguiu atrás do jovem, observando a opulência da mansão de aspecto antigo e tradicional. Desacostumara-se com aquela realidade nos anos que dedicou na abadia de Westminster, estudando e aprofundando-se na arte de expurgar criaturas malignas.

Não se chocou com a imagem que se descortinou a sua frente assim que entrou no quarto do rapaz. Decerto que não podia admitir estar habituado a cena, doravante o fato de não ser muito comum lidar com casos de exorcismo -tão esporádicos quanto uma manhã de nevasca- porém não lhe causava mais repudio ou horror deparar-se com episódios em que a família amarrava o endemoninhado para evitar que ferisse a si mesmo.

Tão logo o viu a mãe do rapaz se apressou em beijar-lhe as mãos, com os olhos banhados em lágrimas que desciam ininterruptas.

— Padre, graças a Deus está aqui. O meu caçula, ele... ele está... ah Senhor, eu nem mesmo consigo pronunciar — engasgava-se com as lágrimas, tremendo.

Em um gesto de consolo, Naruto tocou sua cabeça encarando-a de maneira gentil.

— Não há necessidade de se desesperar. Acalme-se, por favor, eu vim ajudar. — pontuou com a voz doce. Mikoto acenou positivamente — Apenas me diga: quando isso começou?

— Há alguns dias ele tem estado estranho, mal falava ou se comunicava. Sasuke nunca foi de falar muito, sabe, mas nunca foi de se isolar. De repente começou a se trancar no quarto e... bom, nem mesmo os amigos ele recebia. Nem a mim, ou a Itachi a quem sempre foi apegado. Hoje começou a falar coisas estranhas e... — o rosto dela corou ainda mais — e... se... se tocar de maneira inapropriada... e então começou a quebrar as coisas e se machucar e tivemos que amarrá-lo. Por favor padre, ajude nosso menino.

Naruto ouvia tudo atentamente, espiando o jovem que arfava e movia a cabeça, aparentemente cansado pelo excesso de movimentação. Ao lado da cama o pai observava atônito, tocando a fronte dele esporadicamente enquanto o fitava com os olhos imersos em desespero.

— Não se preocupe, eu vou ajudar vocês a se livrarem desse mal.

Como que atraído pelo tom de sua voz, Sasuke ergueu o tronco o máximo que as amarras lhe permitiam, e encarou o sacerdote com olhos semicerrados. Os lábios repuxaram em um macabro sorriso de escárnio.

— Mas ora só quem chegou para a festa. Mais um dos cordeirinhos de Deus. Na verdade, um dos pastores que conduzem seu sagrado rebanho- gargalhou profusamente. O rosto suado brilhava.- O que vai fazer, padre, me benzer com o seu cajado? — gargalhou com o duplo sentido da piada.

— Sasuke, meu filho, não diga essas coisas. — Mikoto pediu aflita, sendo interrompida pelo toque gentil do padre em seu ombro.

— Não responda, não é o seu filho que está falando. É apenas uma artimanha. Se deixar que te provoque vai acabar dando mais força a ele. — instou com a voz calma, buscando em sua maleta os itens que precisava.

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