Sete

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Por uma fração de segundo, Lauren ficou olhando-a espantada. E depois a empurrou brutalmente para uma cadeira.

— Sente-se aí!

Subindo as escadas, ela correu para o armário onde estava a roupa de banho e pegou duas toalhas.

— Tire as suas roupas. Ponha estas...

— Não! Você não me ouviu? Meu barco afundou...!

— O que você acha que vamos conseguir fazer? Laçá-lo e puxá-lo para cima novamente?

— Segurá-lo! Impedir que seja arrastado rio abaixo!

— Você não vai fazer isso. Livre-se dessas roupas molhadas. Tome um banho quente e dê uma olhada no meu guarda-roupa até encontrar algo que lhe agrade — ordenou. — Eu vou lá amarrar o seu maldito barco.

— Mas...

— Camila! Estamos perdendo tempo aqui e cada segundo é sagrado. Sou mais forte do que você e conheço o bastante sobre barcos para me virar. Agora faça como mandei.

A chuva havia diminuído. Quando ela chegou na margem com a corda, percebeu que o nível do rio havia subido pelo menos uns dois metros. E lá, estendido e atravessado no meio da agitada torrente, com a popa presa à margem oposta, estava o barco de Camila.

Ou, pelo menos, um metro e meio dele. O resto estava preso embaixo d'água, a uma certa profundidade e numa angulação perigosa, pela corda da proa, que ainda estava amarrada ao ancoradouro, em algum lugar no fundo do rio oscilante.

Um lampejo de fúria a rasgou por dentro e ela teve que se esforçar para se concentrar na tarefa à mão. Para segurar a popa teria que ir até a outra margem. Isso significava uma longa caminhada até o vilarejo, onde atravessaria a represa, e andaria até o outro lado.

Mas ela o fez. Arrastou-se pela margem enlameada, fixou a corda, e a amarrou com segurança a uma árvore bem robusta. Ofegando por causa do esforço, voltou para casa uma boa hora e meia depois.

Camila estava aconchegada perto do forno, frágil, assustada e quase perdida dentro de uma de suas blusas quentes e de um colete de tricô. Um par de meias caía de um jeito extravagante dos seus pezinhos, o que fez com que ela amolecesse.

— Pronto — anunciou de um jeito rabugenta, enquanto tirava as botas e o casaco molhados. Agradecendo bruscamente, ela pegou a toalha que lhe foi passada. E enxugou o cabelo encharcado. — Quer um pouco de conhaque...

— Já tomei. Espero que você não se importe — disse a moça num tom de voz baixo. — Peguei um copo para você também. Você demorou muito. Pensei... pensei...

— Eu cruzei o rio — devolveu rapidamente, enquanto aceitava o drinque e o pegava. — Levei um tempo.

— Gostaria de ter ido com você — murmurou Camila.

Seus olhos estavam arregalados e em pânico, e sua boca tremia. Ela andou chorando. Cada centímetro do corpo estúpido e traiçoeiro da empresária desejava consolá-la. Intimidada, ela tomou um gole do conhaque e se sentiu renovada.

— Você não teria como fazer nada e acabaria me atrapalhando — explicou. — Pelo menos, você pode ter certeza de que seu barco não irá mais a parte alguma. Não poderemos fazer mais nada até amanhã de manhã. Sente-se, pelo amor de Deus. Você está péssima. Conte-me o que aconteceu.

— Não sei ao certo, mas acho que alguém deve ter aberto as comportas — murmurou a barqueira. — A primeira coisa que notei foi que o barco estava se agitando freneticamente e parecia estar subindo.

— Isso faz sentido. O rio está alguns metros acima de seu nível normal. Seu volume d'água está parecido com o da base do Niágara... ondas brancas que se agitam e se lançam para todos os lados. — Lauren olhou na direção da massagista e, subitamente, se viu agradecendo, de um jeito inadequado, pela sua sobrevivência. — Não sei como você conseguiu escapar.

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