Três três

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Pra ser bem honesto, eu não lembro quando foi a primeira vez que tive um encontro com alguém que conheci em um aplicativo desses de relacionamento. Já tentei ao máximo, mas é impossível lembrar. Primeiro porque minha memória é um lixo, segundo porque já foram muitos.

Eu recordo da primeira vez que conheci pessoalmente uma amizade que fiz pela internet. Foi uma amiga que fiz no Orkut, Jessica. Nós ficávamos horas conversando pelo MSN, até que um dia descobrimos que estudávamos na mesma escola e no mesmo horário. Foi o maior plot twist da minha pré adolescência.

Sorrio enquanto ao relembrar disso no metrô, no caminho pra mais um encontro aleatório. Eu vou encontrar com um cara que eu chamo de 33, por causa do DDD do número de celular dele.

Nunca fui bom com nomes e estou num atual momento de que já foram tantos nomes que eu preciso inventar apelidos pra citar as pessoas. Mas eu sempre confiro o nome da pessoa no celular e tento memorizar durante o encontro pra não passar constrangimentos.

Eu combinei de encontrar 33 na Av. Paulista, a ideia é só comer alguma coisa, andar um pouco e talvez dar uns beijos na boca. Sem muitas expectativas sobre ele, afinal, ele é de Minas.
Me surpreendi quando o encontrei, 33 é mais alto que eu. Eu não sou baixo, tenho 1,84 e ele deveria ter coisa de 1,90. Foi a primeira coisa que pensei ao vê-lo.

Ele não é dos caras mais bonitos que já sai, é só ok. Cabelo escuro, barba cheia e óculos quadrados com grau que dava pra perceber ser alto.

Eu levanto do banco no MASP quando vejo ele e vou até sua direção. Pra minha surpresa, 33 me cumprimenta com um selinho rápido como se ja me conhecesse, tentando soar natural.
Começamos a caminhar e ele segura minha mão, como se fôssemos um casal.

— Não gosto disso — eu recuo.

— Ah... Tudo bem — 33 fica claramente constrangido.

Não que eu não goste desse tipo de demonstração de afeto, mas cara, eu mal conheço ele. Eu to carente mas não tanto assim.

Enquanto andamos ele me fala sobre sua vida. Ele veio pra São Paulo pra uma pesquisa da sua pós graduação. Não entendo ao certo tudo que ele explica mas finjo demência numa atuação perfeita de quem está contextualizando e absorvendo tudo que está sendo dito.

— É sua primeira vez em SP? — pergunto.

— Na verdade não, eu tenho amigos aqui... Eu gosto de São Paulo, então venho sempre que posso.

— Então tem a possibilidade de a gente ainda se ver depois né? — eu disse meio rindo.

— Claro que sim! — ele sorriu de volta. — O que você acha da gente comer um daqueles hambúrgueres ali? Eles fazem uma maionese artesanal ótima — 33 sugeriu, apontando para um dos food trucks que estão na frente do Market Paulista.

Fiquei surpreso por ele saber informação da maionese artesanal do lugar, mas gostei. Depois de um tempo de conversa ele ficou mais atraente. Tem um carisma e sensualidade na forma como ele se expressa e coloca suas ideias.

Sentamos em um banco enquanto esperamos os pedidos saírem. Inesperadamente, 33 coloca a mão sobre minha coxa e um frio de ansiedade sobe pela minha barriga até minha garganta.
E então ele avança para frente e me beija, de forma suave e envolvente.

Agora sim, definitivamente ele ultrapassou todas as minhas expectativas. Os lábios dele são macios e tocam os meus com a harmonia de uma música. Ele passa sua mão pelas minhas costas e desce, fazendo carinho sutil na minha cintura.

Eu paro.

Estava ficando empolgado demais e não queria receber o olhar crítico das pessoas ali.

Minha Vida Amorosa Extremamente CaricataOnde histórias criam vida. Descubra agora