Minha Vida Amorosa Extremamente Caricata

Beija-flor

Hoje é sexta feira, o dia da semana que eu não tenho aula na faculdade, praticamente uma benção divina. Também é o dia que eu troquei de horário no trabalho pra poder sair com o meu atual melhor amigo hétero: Wollace. É engraçado porque em todas as épocas da minha vida eu sempre tenho um melhor amigo hétero... tipo igual esses estereótipos de garotas que sempre tem um melhor amigo gay.

O plano com o Wollace hoje é ir tomar cerveja em qualquer canto e depois ir pra paulista, andar um pouco, conversar. Eu gosto desses roles aleatórios com ele porque sempre surgem conversas que me fazem refletir profundamente. Além disso, ele quase sempre leva o cavaco pra tocar durante nossas caminhadas. Se não bastasse, Wollace é uma das pessoas mais engraçadas que eu já conheci. Não me recordo de alguma vez já tê-lo visto cabisbaixo. Ele sempre faz piada de tudo.

Eu acordei cedo hoje, aproveitei a manhã livre pra adiantar afazeres domésticos: comprar comida no mercado e depois a ração dos gatos. Coisas do cotidiano, mas que eu sempre me aperto pra conseguir fazer porque eu nunca tenho tempo, e como moro sozinho não tenho quem me ajude.

Depois disso tudo começo uma limpeza rápida na casa, é um dia de sol, desses que me fazem sentir energizado e pronto pra concluir qualquer tarefa.

Ouço um barulho estranho vindo da minha janela. Paro de varrer um instante e deixo a vassoura num canto. Ao me aproximar visualizo o animalzinho preso.

Um beija-flor, bem ali na minha frente. Eu tenho um fascínio por animais, ainda mais um desses, tão mágico e delicado. É difícil não amar.

Com cuidado me aproximo e apanho ele, com o maior apreço que consigo. Suas penas são verdes, com tons pretos e azulados. Conforme a luz do sol bate suas penas parecem brilhar bem na minha frente.

Não quero admirar demais pra não assusta-lo e nem machucar, mas não perco a chance e com a maior velocidade que posso pego o celular e fotógrafo,mas com respeito e depois solto ele no quintal.

Definitivamente já ganhei o dia.

Sempre tive pra mim que a felicidade são pequenos momentos tipo esse, que me enchem de amor e energia. Sempre acreditei que situações delicadas como essas são as que enriquecem a história da minha vida.

Sigo meu dia. Me ajeito para o trabalho e antes de sair peço pra que minha mãe alimente meus gatos à noite.

Saio ansioso e empolgado. O dia lindo e ensolarado favorece meu humor, mas a vontade de reviver minhas lembranças do meu antigo diário improvisado que me animam mais. Quando eu leio, parece que uma coisa mística acontece.

Anos atrás, quando eu achei aquela agenda perdida nas coisas velhas da minha mãe, eu não pensei que um dia isso iria acontecer. Eu escrevi naquela agenda justamente por achar que se escrevesse em um caderno com "DIÁRIO" estampado na capa ia despertar os olhos de curiosos. Mas uma agenda velha de cor sem graça escrito "1993" era meu disfarce perfeito. E ninguém nunca descobriu.

Só que o mais intrigante agora é que esse diário virou uma espécie de máquina do tempo. Eu literalmente viajo para o passado. Eu nunca lembraria de tantos detalhes e de tantas emoções se não fosse por esse livreto.

Quando eu finalmente pego o ônibus e encontro um assento, eu abro a pagina na sequência da ultima que eu li. Decidi que daqui pra frente eu vou ver na ordem dos fatos, pelos seguintes motivos: pra mim é como viver uma história assistida e, além disso, agora eu tenho certeza que posso analisar tudo e encontrar em que momento as coisas começaram a dar errado com meu ex.

Abro a pagina e me preparo pra viagem.

• Mudanças horríveis no curso pra mim.
• Troca de professora.
• Alunos novos.
• Mudança de horário.