Lírio

33 3 17
                                    

Cheesecake de Romeu e Julieta.
Foi isso que eu preparei com muito custo, apreço e dedicação, para nós comermos.
Romeu e Julieta era definitivamente nosso sabor favorito de qualquer coisa, de sorvete à pizza. E sabendo que ele nunca havia comido cheesecake, eu queria impressiona-lo.

Eu apostava nos meu dotes culinários para agradá-lo. Sempre que eu quero impressionar ou conquistar alguém minha primeira tacada era na comida.

Ter um parceiro que cozinhasse bem era um pré requisito para ele, mesmo que fosse implícito. Ele dizia que ninguém ia superar os dons na cozinha de sua mãe, e eu lutava para provar que eu poderia.

Sempre estive lutando para mostrar que sou o bastante, que sou suficiente.

Eu passei o domingo limpando a casa para deixar o mais impecável o possível. Cozinhei a sobremesa com uma precisão cirúrgica. Fiz questão de comprar ingredientes para fazer meus pecaminosos x-bacon pra mais tarde. Os gatos estavam limpos e cheirosos. Tudo nos conformes, exceto... eu mesmo.
Não tive tempo de alisar o cabelo, meus cachos estavam libertos. Estou ciente de que ele prefere meus fios ajeitados e arrumados de forma padrão, mas agora não havia mais tempo de resolver. Será que ele se importaria?

Espero que não.

Nós conversamos nos últimos dias. Ambos estávamos tristes pelo nosso afastamento, mas afinal, como poderia ser diferente? Depois de muito debater resolvemos nos encontrar pessoalmente para resolver nossas pendências como adultos. Lavar a roupa suja mesmo.
Combinamos de não ficarmos — o que era uma tentação mútua, nossos corpos se atraiam antes mesmo que pudéssemos notar. — Nosso encontro hoje tinha como propósito nos levar a uma conversa franca para nos livrar de todos os ressentimentos.

Depois de hoje, caso consigamos ter uma conversa decente, podemos tentar nos reaproximar aos poucos, tentar recomeçar...

Muitos dos meus amigos caso soubessem desse encontro de hoje me xingariam, diriam que não faz o menor sentido. Eu mesmo diria que a melhor opção é deixar esse amor para trás e seguir em frente, caso algum amigo estivesse na mesma situação. Seria o mais sensato a se dizer.

O problema é que não há espaço para se ser sensato quando se está apaixonado. O cenário é diferente quando se está do lado de cá. Quando a paixão é como um vulcão explodindo no seu peito você só não quer perder aquilo. Você tem a certeza de que jamais nesse vida vai sentir algo que chegue aos pés desse sentimento.

"Estou chegando"

"Vou te esperar no portão"

A mensagem faz meu coração disparar de ansiedade, uma metralhadora de batimentos cardíacos. Subo as escadas e atravesso o quintal, abro o portão e vasculho a rua com o olhar.
Encontro ele subindo a rua cansado, arrastando os pés.

— Já desacostumou com a subida? — brinco quando ele finalmente chega próximo.

— Eu nunca me acostumei — ele ri de volta.

Ele parece diferente. Sempre que ficamos algum tempo sem nos ver ele muda de alguma forma. Quando nos revemos após longos dias tenho a impressão de que há algo diferente nele, porém dificilmente sei identificar o quê.

Nós entramos, atravessamos o quintal calados, não parece seguro falar ali bem ao lado da casa dos meus parentes.

Fecho a porta atrás de mim quando pisamos em casa. A Lis vem correndo pela casa para analisar quem é que está chegando comigo. Ela cheira e rodeia ele, se esfregando em suas pernas. Já ele em contrapartida se abaixa para afaga-la.
Ele me deu a Lis de presente. Eu me sentia muito solitário nos primeiros meses morando sozinho. Obviamente na época eu não queria dividir a casa com mais ninguém, na época eu não sabia lidar muito bem com o convívio entre pessoas, mas o sentimento de isolamento me afligia.

Minha Vida Amorosa Extremamente CaricataOnde histórias criam vida. Descubra agora