À favor da correnteza

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"Ei! Você está bem?"

Foi a última coisa que ouvi antes de que fosse atingida por mais uma onda. 

Estava fraca, cansada e, embora não me incomodasse com a água invadindo meus pulmões, sentia que era questão de tempo até perder minha consciência, até ela ser levada pelo mar.

Senti um toque. Forte, um puxão. Em seguida, levei repetidos tapas na cara, enquanto que quem os referiu à mim pedia para que eu acordasse. Não sentia mais o mar envolto de mim. O sal havia ido embora. Uma superfície gelada nas minhas costas me fez perceber onde estava. Em um barco. Veleiro, talvez. Não conseguia diferir se eram velas ou outra coisa. Minha visão embaçada não me permitia ver nada com clareza, até que tudo ficou preto.

-Jungkook-

Velejando pela costa, a encontrei. À primeira vista, vi cabelos ruivos e compridos no mar. Percebi, logo depois, a garota que os possuía. Gritei para ver se estava acordada.

- Ei! Você está bem?

Sem resposta.

Pulei na água, nadei o mais forte que consegui para alcançá-la. Ao chegar próximo a ela, puxei seu braço e nadei em direção ao meu amado Sunny. Com esforço, consegui subir a garota em meu barco. 

-O que eu faço?_  Pensei.

Quando ia começar os primeiros socorros, ela cospe água. Caio no chão, me sentando aliviado por ela ter se mexido. Seu rosto estava vermelho. Talvez pelos tapas que dei para tentar acordá-la. Meu alívio e calma se foram quando lembro que preciso levá-la para um hospital. Me levanto rapidamente para ligar o barco e levá-lo até a costa. 

                                -Na Costa-

Precisava atracar. Gritei para alguns outros velejadores que enxerguei no píer. 

-Me ajudem! Ela precisa de um médico.

Enquanto alguns ajudaram a amarrar Sunny, outros me ajudaram a descer a garota. Corremos todos ao pequeno posto que ficava perto da praia. Encontramos um salva vidas que já puxou uma pequena maca. Ele a examinou. Da cabeça ao pés. Tudo parecia bem, mas por ela estar desacordada, deveria ser levada ao hospital. Uma ambulância veio e a colocaram no interior da mesma. 

-O senhor é algo dela? Parente ou namorado?- Disse o socorrista da ambulância

-Eu... Sou. Sou sim!- Respondi.

Não poderia deixá-la agora. Tinha de saber o que havia de errado com ela.

Entrei na ambulância e me sentei em um banco acolchoado que havia ao lado de sua maca. Não devia, mas não conseguia parar de pensar em como era exótica. Seus cabelos ruivos, cacheado apenas nas pontas e que independente da água salgada, permanecia macio como seda. Sua pele, clara como a neve, com sardas apenas no nariz e nas bochechas, que eram vermelhas e meio altas. Duas maçãs. Seu corpo era quase uma escultura. Largos quadris, ombros estreitos (mas não muito), quase como uma perfeita ampulheta. Magra, mas com coxas grossas, suponho que por nadar muito.

 Tudo que ela usava era uma camiseta larga que eu havia vestido em seu corpo e, uma toalha, que eu usara para tentar aquecer-lhe. Me desaprofundei de meus pensamentos quando a ambulância e a sirene pararam. Havíamos chegado no hospital e em questão de segundos, a porta traseira foi puxada com força.

-Qual é o caso?- Disse uma mulher de jaleco branco, já puxando seu estetoscópio.

-Aparente vítima de afogamento- Disse um dos socorristas.

A levaram para dentro do hospital, enquanto meu medo tomou conta de mim. Havia mentido sobre minha relação com ela. Eu não a conhecia ou sequer sabia seu nome. Não sabia sua situação, se era vítima de naufrágio ou de algo pior. Todo meu medo foi agravando quando começaram a fazer-me perguntas. Foi naquele momento que decidi dizer a verdade.

-Eu não sei. Sei que não devia mas menti sobre conhecer-lhe. A encontrei no mar, longe da costa, sendo quase levada pelas ondas. Sinto muito por não dizer a verdade mas queria saber o que há com ela.

-Você não devia mentir, mas por ela ser uma possível vítima de naufrágio e não possuir nenhum parente ou conhecido, você pode ficar.- Disse a médica.

Agradeci e entrei no hospital. Esperei por 43 minutos, até aparecer um enfermeiro me dizendo que eu poderia ir vê-la. 

Na sala de repouso, separada apenas por cortinas dos outros pacientes, estava ela. Sentei-me no banco ao lado de sua cama, encostando em sua lateral e por final, adormecendo ali mesmo. 

Acordo, assustado, quando sinto um toque em meu cabelo seguido de um puxão. Olho para cima e lá estava ela, me encarando confusa. Segundos de silêncio, até ela quebrá-lo.

-Olá?-

Long time no SeaOnde histórias criam vida. Descubra agora