01 / ÓDIO SAUDÁVEL

4.6K 273 57
                                    

O FUTURO SENTA AO LADO
- THE CHANGES -

Guilherme

É até legal começar uma história, falando que é uma pessoa normal e etc... Porém, quero que vocês me vejam como eu sou, vejam minha "normalidade" diária.

...

Germalmente é assim, acordo lá pelas 9:30 ou 10:00 da manhã, não trabalho mesmo! Tomo o café da manhã, arrumo a casa e, quando olho no celular já é mais de 11:30, o que é triste, pois sei que tenho que fazer o almoço. Sim, eu estudo, curso economia, numa faculdade em outra cidade próxima onde moro, saio todo dia às 17:40 para pegar o ônibus que sai às 18:15, alguns diriam que sou compulsivo em chegar cedo. Mas acho que só é exagero das pessoas.

Minha amiga Amanda, sempre está lá me esperando. E quase todos dias sentamos juntos, porém, às segundas e sextas eu fico largado, quieto, calado, apenas olhando através da janela, o reflexo da solidão. Eu sei é triste.

- Hey, Amanda - Sentei na calçada ao lado dela.

- Oi Gui, tás preparado para a prova de hoje? - perguntou-me ela, sabendo que tinha passado a tarde assistindo.

- Estou sim, e você? - respondi bem sagaz.

- Estudei nada, passei a madrugada jogando, e fui dormir às 04:30 da manhã, acordei às 15:00. - Respondeu ela bocejando. Se minha mãe conhecesse melhor Amanda, ela com certeza, ia parar de me chamar de preguiçoso.

- Sem vida. - olhei pra ela forçando um sorriso.

- Finalmente o ônibus chegou!- falou ela se levantando no mesmo instante.

Eu a acompanhei e entramos no ônibus, sentamos sempre nas primeiras poltronas. Eu odeio ir atrás, ainda mais hoje que é quinta, uma galera volta bêbada, e enche o saco de todo mundo!

- Amanda quando você terminar a prova, manda mensagem pra mim te esperar, aí descemos juntos ok?

- Sim, eu mando mensagem. - disse ela olhando outros alunos entrarem no ônibus.

Após chegarmos na faculdade, eu e Amanda nos despedimos e fomos cada um para sua sala, Amanda cursava administração.

Ao chegar na sala vejo o professor com as tão queridas provas, me direciono a cadeira que costumo sentar e, quando encosto nela, o professor me chama:

- Guilherme sente aqui, em frente a minha mesa! - Ele dá aquele sorriso irônico, característico dele, ele achava que na última prova, eu tivesse colado, pois minha nota tinha sido a maior da sala, (claro que não colei) mas fui de cabeça erguida, com aquele sorriso debochado em direção ao lugar falado.

Durante a prova o professor não olhou pra outro lugar, a não ser onde eu estava.

Após uma hora de prova, sai da sala e conversei alguns minutos com meus amigos Lucas, Pedro e Nelly. Logo em seguida, recebi uma mensagem de Amanda avisando que, já havia acabado de fazer a prova. Me despedi dos meus amigos e fui ao encontro de Amanda.

- Hey, criatura. - Toquei em Amanda, que levou um susto.- Haha, calma Amanda sou eu Guilherme.

- Nossa Guilherme, sério que é você ? - ela sorri demostrando deboche.

- Estava só brincando vamos, para o ônibus?

- Sim! - disse ela aparentando estar um pouco chateada.

Seguimos em direção a onde o ônibus ficava estacionado. Que não era perto por sinal. Seguimos olhando os bares e restaurantes pertos, então aos porres em um bar vimos o rei do álcool, Paulo e sua trupe.

- Olha Amanda, eu não entendo o que esse povo vem fazer aqui na faculdade. Acho que nem fizeram a prova! - Indaguei com tom de superioridade.

- Exato Gui, penso o mesmo. Mas fazer o que né? Eles tem dinheiro, enquanto nós somos bolsistas.

- Pois é. Eu até hoje não sei como um menina, fica com aquele idiota do Paulo, o cara só fala merda!

- Eu também não sei, mas vamos fazer o seguinte, vamos logo, vai lá que alguém pegue o nosso lugar. - disse ela, parecendo preocupada.

Em direção ao ônibus, entramos e sentamos no nosso lugar de costume (Uffa!). Eu e Nanda, conversamos até chegar todos do ônibus, o bebum e sua trupe como sempre foram os últimos a chegar.

Paulo fazia questão de ir na frente, perto do motorista. Ninguém merecia ouvir conversa de bebo, o percurso todo.

Eu não tinha raiva de Paulo, só que... sabe aquele ódio saudável ? Então era o que eu sentia! Eu sempre fui assim, nunca gostei de ficar odiando alguém, eu meio que... quero o bem da pessoa, só que eu amo criticar. Talvez seja um defeito/virtude, que tenho de aprender a administrar.

...

Finalmente cheguei em casa, como sempre às 22:40, fui direto para o quarto, trocar de roupa, até que escutei passos sorrateiros, vindo em direção ao meu quarto.

Sei bem quem é...

- Guilherme! - Aquela voz mansa e ao mesmo tempo amedrontadora, ecoou pelo meu quarto.

- Oi... mãe. - pronunciei com um tom de medo.

- Como você veio ? Em? - perguntou ela. Que já sabia a resposta, mas queria apenas me testar.

- De ônibus, como todos os dias! - respondi de forma recatada.

Minha mãe era super desconfiada de tudo. Comigo ela queria saber tudo o que eu fazia. Ela jurava que eu era como aqueles jovens, que mente para onde vai e fica "aprontando / ficando / consumido drogas / ...". Bem deu pra entender!

Ela não confiava em mim! E tudo havia piorado quando ela "descobriu", que eu gostava do meu melhor amigo. Tudo por causa de uma mensagem que eu havia esquecido de apagar no celular.

Eu estava assistindo House of Cards, e não percebi que ela tinha pegado meu celular, que justo neste dia, eu havia deixado sem senha.

Imaginem a cena: GUILHERME! (Ecoou meu nome pela casa) O que é isso... você gosta... de homen? Perguntou ela respirando muito ofegante, pensei que ela iria ter um infarto! eu travei na hora. Porém, respirei, olhei pra ela e falei: Sim! Eu gosto!

Bem ela começou a chorar e foi discussões durante toda semana. Pensei até em me matar e pra contextualizar ainda mais, tudo isso acontecendo, durante meu terceiro ano do ensino médio. O que me deu força foi acreditar em Deus e meus amigos, que mesmo sendo héteros, me apoiaram. Até meu pai me surpreendeu, ele me abraçou de uma maneira que nunca havia sentido nada parecido, em toda minha vida! Ele me falou: Ninguém vai te expulsar de casa, eu lhe amo filho... eu chorei muito.

Bem voltando ao assunto... Minha mãe pensava que eu era hétero e, era só uma... "fase gay".

Depois do interrogatório, ela deixou meu quarto e eu pude trocar de roupa em paz. Após me vesti, comi um pão, escovei os dentes e fui dormir.

Minha vida é assim toda semana. Eu as vezes me pego pensando, como eu tenho tanta paciência, eu só fiquei com um garoto e namorei uma menina durante uma semana isso aos 14 anos.

Era da faculdade pra casa, de casa para o mercado, etc. Eu vivia como um prisioneiro domiciliar. Acho estava mais que na hora de morar sozinho, fazer minhas próprias escolhas. Enfim, viver só!

Algo que naquele momento parecia impossível.

...

Espero que tenham gostado do episódio, não se esqueça de curtir, me ajuda muito. E desculpem qualquer erro.

O FUTURO SENTA AO LADO 🏳️‍🌈Onde histórias criam vida. Descubra agora