Uma flor no jardim do inferno

Capítulo 3: Uma guerra já perdida

Minha rotina começou a ficar mais pesada , é época de colher trigo e milho, o trigo devo colher, levar ao moinho e depois ensacar e levar metade a igreja e lá farão pães com ele . Já o milho devo apenas colher as espigas e ensaca-las e depois levar para o senhor Rodrigues, um comerciante da cidade vizinha que revende o que eu cultivo e as vezes nos dá carona para vendermos pão perto de seu comercio. Ultimamente tenho chegado depois do toque de recolher, geralmente todos estão dormindo então tento andar sem fazer barulho pelos corredores da igreja e as vezes cantando alguma musica cristã com medo do sete pele aparecer do nada.

Na igreja não tem muitas pessoas por isso cada um tem seu quarto porem ele é beeeem pequeno, no meu tem uma cama e um bau onde guardo minhas roupas. Minhas ferramentas eu deixo no celeiro então facilita tem um pouco mais de espaço para a depressão ficar. Honestamente to ficando cansado! Mal tenho tempo de descansar e menos ainda de treinar esgrima ou aprender a forjar ferramentas. Cara preciso de férias! Mas ir pra onde ou fazer o que?Não, melhor estar onde estou! Pelo menos eu tenho utilidade e sei o porquê estou aqui.... É o que tento me convencer , não me leve a mal, eu não tenho grandes ambições, só quero ter uma vida tranquila sabe? Minha própria casa e sei lá uma esposa? Filhos talvez? Um quarto maior e um emprego menos cansativo? Eu não sei vocês mas quando eu penso no futuro e imagino como ele vai ser me sinto bem desanimado, quer dizer olha bem pra mim. Eu vivo alegre e trabalho bastante e no fim é só isso, é como se todos me achassem um cara legal mas no fim não quisessem ser como eu....

Bom deixando a bad de lado, hoje é dia de ir a cidade vender pão hehe. Eu e Dália fomos com o senhor Rodrigues, é divertido sair da vila e passar por lugares novos, o mundo é tão grande e tão cheio de coisas novas para serem exploradas !

Dália não via a hora de voltarmos para a igreja, diferente de mim ela parece um fantasma do lar, detesta sair da vila e mais ainda conhecer lugares novos. Uma vez a levei em um prado que ficava em um monte acima a plantação, haviam flores rasteiras de várias cores, por um momento ela esqueceu de que não estávamos dentro das paredes da igreja e talvez tenha sentido o que eu sinto quando vejo aquela paisagem verde, é tudo tão calmo e longínquo de todo o mundo, eu sempre amei aquele lugar mas agora que ela estava lá parecia tudo perfeito.

Kad: - Sabe Dália. Um dia vou construir uma casa aqui! Ver essa vista todas as manhãs vai ser incrível!

Dália: - Ai Kad, isso é bem a sua cara ...

Desde aquele dia toda vez que fico lá observando a natureza me vem uma tristeza , a levei apenas uma vez e antes disso já havia ido milhares de vezes mas agora parece que falta algo como se ela preenchesse o lugar aonde ela for.Bom deixando essa lembrança de lado finalmente chegamos.Era como uma avenida cheia de pessoas de todo tipo, as lojas tinham uma entrada grande mas não cabiam muita gente. Vendiam roupas, ferramentas, especiarias e grãos.

A loja do senhor Rodrigues era uma das ultimas, ele havia deixado sua esposa, a dona Lourdes e seu filho Max. Ele deve ter a minha idade e é um pouco mais baixo que eu, e parecia bem desacostumado a carregar peso. Dália carregava os pães e ia para a barraca onde venderia, em menos de uma hora ela vendeu todos os pães e trigo que tínhamos levado. E quanto a mim? Ajudava o senhor Rodrigues e Max a descarregarem as encomendas de ração de gado, o coisa pesada...

Não ficamos nem seis horas e o senhor Rodrigues nos levou de volta pra casa, desta vez Max foi com a gente. Segundo ele, queria saber como é uma vila e como eram as casas e as pessoas, Dália ficou sentada entre nós e permaneceu a viagem toda quieta. Quando chegamos já era noite e eu havia trabalhado igual a uma safada em dia de promoção resolvi ir dormir. A Dália me disse no dia seguinte que ela e o comerciante tinham feito um acordo onde ele buscava os pães e ajudava custeando metade dos gastos de produção e dividiríamos os lucros das vendas. Pra mim unia o útil ao agradável assim eu não precisaria dar uma de isaura e teria uma tarde de descanso e pra ela também seria uma mão na roda já que ela odeia sair da igreja então fechou o acordo.

Mesmo assim eu teria que continuar me esforçando na plantação, tenho terminado meu trabalho cada vez mais tarde e toda manhã Max vinha buscar os produtos e toda noite trazia nossa parte. Eu não posso reclamar deles, eles sempre foram tão honestos e aprendi muita coisa com o senhor Rodrigues.

Hoje acordei animado afinal a partir de amanhã Tobey é um elfo livre. Finalmente chegou o ultimo dia da temporada de colheita e agora só ano que vem! É meu bem, tá na hora dessa safada aqui descansar. Levantei antes do galo cantar e só de sacanagem fui lá no galinheiro acordar o infeliz cacarejando na orelha dele se é que galos tem orelhas.... Bom aproveitei e roubei emprestado uns ovos e fritei de café da manhã . Antes de dar seis horas segui meu caminho em direção a roça, já imaginava o que iria fazer com a minha parte do dinheiro. Graças a Deus não curto uma marvada e também não uso docinhos diferenciados então acho que vou comprar mais um pedaço de terra pra fazer minha casa naquele prado florido! Amanhã vou aprender a forjar com Tom , to bem empolgado com isso.

Pronto bye bye campo agora sou um camponês livre (até ano que vem)....

Cheguei pouco mais cedo do que estava chegando semana passada, como sempre cantando baixo uma musica evangélica com aquele cagaço do capeta quando ouvi passos e alguém conversando.
- Não sente medo? Tipo eu sei que é uma igreja mas dá a impressão que um capiroto ninja vai dar um salto mortal pelas minhas costas e roubar minha alma....
- Ah eu cresci aqui por isso não sinto medo, mas o Kad sempre canta " a minha vitória hoje tem sabor de mel" quando anda sozinho por aqui!
- Você conhece ele bem né?! Me diz você nunca sentiu nada por ele porque tá bem na cara que ele sente algo por você!
Eles tavam falando de mim? Pera ela me conhece bem e aquela voz huuuuum era Dália! Mas quem era o garoto com ela?
Dália: - Eu cresci com ele, me acostumei com a companhia dele e o jeito dele ser! Ele se esforça mais que qualquer um aqui e ele é atencioso e sei o quanto ele gosta de mim mas eu não sou boa o suficiente pra ele e nem chego perto do que ele acha que eu sou.....
-Bom eu não posso dizer que te entendo mas entendo bem o que ele sente por você e como ele te vê! Mas diferente dele eu não sou tão paciente....
Eu não sabia que era assim que ela me via, parte de mim ficou feliz mas outra parte doía..... O guri que estava com ela, de mãos dadas, era Max. Não sei porquê mas segui eles, Max e Dália estavam de mãos dadas indo em direção a porta. Pouco antes de sair ele aproveitou a distração e roubou um beijo, Dália ficou sem reação e pra mim já deu o que tinha que dar. Decidi ir para meu quarto, tô feliz eeee amanhã vai ser um dia incrível e foi só um beijo ! Nada de mais....
Quem eu tô querendo enganar, meu peito tá pesando tanto, o rosto dela sorrindo naquele campo não sai da minha cabeça e imagem dos dois se beijando aaah toda vez que fecho os olhos essa imagem me aparece..... Que sensação estranha, ainda bem que eu tô com sono mesmo relembrando essa cena vou tentar dormir, penso nisso amanhã.