O nome da cópia era Hinata Natsu. Era a irmã mais nova do ruivo e parente mais próxima que estava viva. Era incrível a semelhança física entre os dois. Os olhos castanhos e o tom das mexas era o mesmo. Antes dela começar a contar sua história eu sabia que havia algo errado, só não queria nomear ainda. Shouyou tinha pedido que ela me entregasse um álbum de fotos, nele estavam registradas todas as nossas saídas estranhas, todas tinham um por que.
O da senhora Masamune era justamente um último encontro com a filha, não que tenha dado certo, constatei. Cristine não tinha ninguém, havia sido deixada no altar na juventude e devido a isso desenvolveu uma espécie de trauma, Hinata enviou a foto dela com o vestido para o ex-noivo que um tempo depois descobri morar num asilo. O senhor Takima tinha Alzheimer, o senhor Wings foi abandonado. Era uma história mais triste que a outra, todos que eu tinha visitado tinham algum passado sombrio ou alguma doença fatal, eu era só mais um membro do clube.
Descobrir que Hinata tinha câncer não foi o mais chocante. Saber que ele tinha morrido a duas semanas, isso sim acabou comigo.
Me recusei terminantemente a visitar seu túmulo. Natsu disse que ele só falava de mim, que tinham centenas de fotos minhas e contava como eu vivia atrás dele querendo pintar um quadro. Falou das ironias e como eu o atormentava com a história da Rapunzel. Ela disse que ele brincava dizendo que deixaria seu cabelo crescer só para ver minha cara. A quimioterapia o fez cair, todos os dias ele se olhava no espelho chorando e desesperadamente pedindo que as madeixas não se fossem. Isso foi antes do câncer atingir seu cérebro. Com pesar ela contou que nas últimas semanas era difícil até lembrar o próprio nome, ele não conseguia segurar a câmera e chorava por não se lembrar de mim.
Ele me deixou uma carta, oh sim, a carta. Eu li aquele pedaço de papel um milhão de vezes sem acreditar. Shouyou me pedia desculpas por tudo, aparentemente tinha aceitado minha proposta logo após descobrir a doença, aquele dia que chegou chorando sem motivos na minha casa foi quando soube que o laudo médico não tinha erros. Ele tinha pouquíssimo tempo, o câncer não era visível, mas já tinha consumido parte dos seus órgãos. Falou também que não se arrependia de ter passado seus últimos dias sãos comigo, que eu tinha sido a melhor coisa que tinha acontecido na sua vida e que era justamente por me amar que tinha que me deixar.
Não era justo, nada naquilo era justo. Então tomei uma decisão. Sem muitas explicações deixei sua irmã ali. Fiz algumas ligações, disse para meu patrocinador que tinha uma nova obra, que ela não se comparava com nada, foi difícil, mas consegui me encaixar numa nova exposição.
Levei dois dias para deixar tudo pronto. Deixei instruções precisas para Yumi depois de mentir sobre ter encontrado minhas respostas. Ela estava feliz pela minha exposição e curiosa sobre meu novo quadro. Prometi que ela seria a primeira a vê-lo, o que era uma verdade inegável.
Na noite anterior a exposição eu me tranquei em casa e bebi. Desliguei tudo que poderia me distrair e liguei para todos que tinha que ligar. Deixei a chave debaixo do tapete como combinado e escrevi uma pequena nota para Yumi pedindo desculpas pela confusão e lhe implorando que levasse o quadro para a exibição. Ela só se daria conta mais tarde.
Então eu destruí tudo que tinha ali, todos os quadros de Hinata, aquela falsa obra-prima, a maldita carta e a droga de álbum. Rasguei cada foto que havia ali, desde a que a pequena Shion lambia seu rosto até a que ele estava emburrado vestindo aquele vestido de noiva. Pensei em cada momento que passamos juntos, lembrei de cada expressão, de cada gesto que ele fazia e fiz o que ele pediu. Transformei em arte.
Eu literalmente coloquei minha vida naquele quadro. Usei minha raiva e tristeza como inspiração, pensei sobre as palavras da carta agora rasgada, mas que estavam cravadas na minha memória. Ele não queria que eu o visse morrendo. Não queria que a última imagem que tivesse fosse dele num leito de hospital já completamente irreconhecível. E por mim tudo bem, ele queria continuar belo nas minhas recordações e continuaria, não, melhor que isso, ele seria belo nas recordações de todos. Você queria emoção Hinata, pois bem, é exatamente o que terá.
Quando terminei não tinha praticamente forças para nada. Dei uma última olhada na minha obra- mestra. Ela se chamava Shouyou. Simples, mas perfeita. Minha última pintura e meu maior orgulho. Me arrastei para meu quarto e tranquei a porta. Com meu último suspiro pensei que finalmente tinha acabado meu sofrimento, me juntaria com minha musa e meu amor.
Nas notícias de hoje temos o caso mais falado da semana, o jovem prodígio Kageyama Tobio foi encontrado morto em sua casa. As investigações da polícia levam a crê que foi um suicídio premeditado, o mais chocante de toda a situação é o último quadro deixado pelo pintor, acredita-se que ele o fez utilizando o próprio sangue. Nada foi confirmado pois um tumulto aconteceu na exposição, diversos colecionadores queriam comprar a obra e em meio à confusão o quadro foi roubado, as pessoas que estavam no local ficaram estarrecidas, os mais leigos afirmaram que a visão da pintura era no mínimo divina. Conversamos com a amiga do pintor, Yumi Masamune, ela está devastada, mas nos deu algumas palavras, segundo a mesma foi ela que levou a pintura para a exposição como um pedido anterior do amigo, jamais poderia imaginar o que tinha acontecido. A polícia encontrou evidências do que as pessoas já estão chamando de Romeu e Julieta moderno, confira a matéria completa com o nosso repórter Tsukishima Kei...
Fim.
-x-
Sim gente, acabou mesmo, esse é o fim. Eu falei que seria diferente das outras histórias que já escrevi por que essa teve um final trágico, eu adorei escrever Shouyou, confesso que fiquei muito triste, mas foi um aprendizado e tanto, enfim muito obrigado a todos que acompanharam até aqui e até a próxima, beijos e amo vocês.
P.s- Eu estou escrevendo duas fanfics, uma Sterek e outra Kagehina onde o Kageyama é meio que um padre, não sei quando vou postar por que meu notebook tá no conserto e eu lasquei a tela do meu celular, mas vou tentar não sumir.
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Shouyou
Ficção Adolescente"- Sabe por que não conseguiu o que queria ainda? Não se faça de tolo Tobio, o que quer transmitir nas suas pinturas é desejo, você me come com os olhos, mas adivinha só? Não se sente satisfeito só olhando, você não é só o espectador aqui, nem eu so...