02. Lamentações

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Dae-Jung

— Não posso mais ouvir você falar assim comigo na frente dos nossos filhos, não percebe que está dando o pior tipo de exemplo a eles? — Berra minha mãe vendo que meu pai não está nem aí para o que tem a dizer, e duvido muito que ficará escutando suas palavras por mais que dois minutos.

É sempre igual. Um começa a gritar o outro se cala e ficam discutindo por meio de um monólogo insuportável. A porra da família feliz que todos acreditam que existem ao ver os membros de nossa família reunidos não existe.

Olhos para Ji-Hye, vendo como mantém seus olhos na comida para impedir que as palavras deles se impregnem em seus pensamentos. Sou apenas dois anos mais velho, mas de tanto ver como nossa mãe age ela passou a ter ações contrárias, mesmo que em situações complicadas saiba como dar um show, porém segundo meus pais é culpa do meu exemplo perturbado de como ser um adolescente.

De como não consigo mostrar a minha irmã como deve agir alguém da secundaria que deveria estar se preparando para faculdade, que não sou nada parecido com ninguém da família mais prestigiada de nosso país. Mas o que tenho a ver com todo o dinheiro feito por meu pai e meu avô? Não tenho a mínima intenção de arcar com a empresa, portanto, por que treinaria para isso?

— Você que faz escândalo sempre que nos encontramos. Não posso voltar para casa sem ser perturbado por suas loucuras. — Declara bravo e volto a olhar para minha irmã que come seu Kimbap [1] como se ele fosse sua única salvação nessa terra. Gostaria de poder impedir que Ji-Hye visse essas situações, mas nossos pais não são nenhum pouco meticulosos com os locais onde despejaram o ódio que sentem um pelo outro.

As brigas constantes nos impedem de ver ou lembrar de qualquer coisa boa que já tenhamos experimentado juntos. E todas as saídas desde que minha mãe descobriu que meu pai tem uma amante somente tem servido para alimentar a mídia.

— Você deveria me respeitar, pois ainda somos casados, mas o que faz? Mantém aquela mulher ao seu lado. — Vocifera minha mãe. Poderia dizer que estou ao lado dela, que entendo sua revolta, mas logo se descobriu que meu pai não era o único pulando a cerca, e agora os dois apenas se acusam sem pestanejar. — Ao menos me livrei da minha vergonha, mas o que você faz?

— Ji-Hye, por que não pega sua mochila para que possamos ir? — Digo ao pegar meu casaco percebendo que deixei algumas gotas do bean sprout soup [2] que foi feito por nossa cozinheira chegarem a minha roupa. Levarei algumas reclamações por sujar minha camisa branca. — Rápido. — A apresso ao dar um berro que ultrapasse as vozes de nossos pais. Eles não estão nos ouvindo partir e não se importam com isto.

Minha irmã retorna com seu cabelo escuro preso em um rabo de cavalo com o uso de um laço vermelho. Sorrio ao bater em seu ombro vendo como seus olhos se reviram. Ela amadureceu bastante nos últimos dias e agora não gosta mais de ter seu irmão mais velho cuidando de si.

O motorista passou por sua escola e com uma expressão um pouco amarga ela acenou para mim antes de entrar pelos portões. Sorrio ao perceber que pode ser que eu esteja mesmo sendo uma péssima influência para minha irmã. Próximo da minha escola peço para que ele me deixe e sigo o resto do caminho a pé.

Não preciso dar mais motivos para as pessoas acreditarem que tudo que possuo é por conta do dinheiro do meu pai. Assim, todos os dias peço para que o motorista me deixe a uma boa distância da escola. Evita os comentários e posso caminhar ao ver como as pessoas agem em seu dia a dia sem que precisem se preocupar com seus pais discutindo como dois loucos.

Esse poderia ter sido apenas mais um dia comum onde não preciso fazer nada além de dar um passo na frente do outro até chegar ao meu destino, mas algumas vezes as piores situações se colocam na sua frente e é impossível correr delas. E foi dessa forma que vi um garoto descendo de um ônibus em passos apressados. Poderia ter passado batido, mas seu uniforme evidenciava que somos da mesma escola. E me pergunto como nunca o vi descendo ali, mas não pude refletir sobre não termos nos encontrado antes, pois ao meu lado passou um maluco pilotando uma motocicleta em uma velocidade absurda e buzinava sem parar.

The beautiful liarOnde histórias criam vida. Descubra agora