RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO
CASO NÚMERO: 01903016-087-B
Juízo: 8° DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DE VITÓRIA DA CONQUISTA/BA
TIPO DE AUDIÊNCIA: Entrevista
NOME DAS PARTES: Alice Brando, 11 anos, entrevistada X Jonatas André, 34 anos, investigador.
INVESTIGADOR: Iniciamos a entrevista para a investigação do Caso Brando às 15:34h. A entrevista ocorre no Oitavo Departamento de Polícia Civil de Vitória da Conquista. Estamos com Alice Brando, única sobrevivente do incidente. Olá, senhorita Alice, como está? Desde a nossa última entrevista, novas pistas do caso surgiram. A entrevista tem como objetivo constar seu testemunho e esclarecer algumas ocorrências. Por isso, seja sincera com suas respostas. E lembre-se de que a entrevista está sendo gravada e datilografada. Pois bem, começaremos com a primeira pergunta: Na última entrevista, a senhorita comentou que estava na casa de seus vizinhos durante o incidente, mas, após entrevistarmos cada um deles, nenhum validou a sua presença em suas casas naquele dia. Por isso, Alice, onde você estava durante a morte de seus pais?ALICE: De onde vocês tiraram que eu estava na casa dos meus vizinhos? Eu já disse, eu estava em casa, mas não vi nada. Eu estava brincando com minha irmã Clara dentro do guarda-roupa.
INVESTIGADOR: Com a Clara?
ALICE: Sim, com a Clara. Aliás, como ela está? Está bem?
INVESTIGADOR: Mas você não ouviu nada naquele dia? A brutalidade do incidente foi impressionante... Era para você ter escutado algo.
ALICE: O que você quer comigo? Eu não fiz nada.
INVESTIGADOR: Eu... Eu sei disso. Pode ficar tranquila, tá?
ALICE: Eu quero água.
INVESTIGADOR: Água? Sim, eu pego para você.
[NOTA: O investigador entrega um copo d'água para a garota. Ela aceita]
ALICE: Cadê a Clara? [NOTA: A menina apresenta um leve sarcasmo durante a pergunta]
INVESTIGADOR: Alice, vamos focar nas perguntas. Se você estava em casa, por que não escutou nada?
ALICE: Por quê eu não estava em casa! Eu já disse para vocês na última entrevista! Eu tava com a minha irmã Clara na casa dos meus vizinhos!!!
INVESTIGADOR: Isso não faz sentido, Alice. É uma incongruência. Você acabou de dizer que estava em casa dentro do guarda-roupa, agora me diz que estava na casa dos seus vizinhos, sendo que eles disseram que não lhe viram naquele dia?
ALICE: Cadê a Clara? O que vocês fizeram com ela? Por que escondem ela de mim? Ela é pequena!
[NOTA: A menina chora. A algema que segurava o seu braço esquerdo parece a desconfortá-la, pois ela tenta a retirar]
INVESTIGADOR: Alice... Estão ocorrendo incidentes semelhantes ao seu nas redondezas. Temos suspeitas de que seja algum maníaco. A sua declaração será de suma importância para nós pois foi o Caso 0 e...
ALICE: Pare de mentir para mim! Não existe maníaco nenhum nas redondezas. Eu leio jornal.
INVESTIGADOR: Alice, pela última vez: o que você estava fazendo na noite do dia 12 de março? Onde você estava?
[NOTA: Alice chora]
INVESTIGADOR: Naquele dia, no dia da morte de seus pais, você estava lá?
ALICE: Estava... no guarda-roupa mais a Clara..., mas depois que eu entrei lá dentro, eu estava fora de casa... Eu entrei no guarda-roupa e saí de casa. E nunca mais vi a Clara. Ela estava do meu lado. E sumiu...
INVESTIGADOR: Alice, me desculpe... Mas quem é Clara?
ALICE: A minha irmã. Ela tem 8 anos de idade. Ela é baixinha, cabelo curto, ralo, bem pálida... E... Ela tava do meu lado naquele dia, brincando comigo. Entramos no guarda-roupa, e saímos de casa no mesmo instante. É disso que me lembro daquele dia.
INVESTIGADOR: Alice? Você é filha única... Não existe uma Clara.
[NOTA: A menina começa a arranhar a mesa de madeira com as unhas]
ALICE: Ela brincava comigo no guarda-roupa... E ele abria do nada de noite... Os seus olhos brilhavam lá de dentro... Olhos grandes... Ela sempre me adulava de noite enquanto dormia... Me observava... Cochichava... Eu sempre brinquei com ela. Pegava no colo quando era menorzinha...
INVESTIGADOR: Alice, vamos para outra pergunta: E a sua babá? Sabemos que ela não gostava dos seus pais devido à inadimplência para com os pagamentos da diária. E ela desapareceu da cidade. Provavelmente fugiu. Mas como era os serviços dela? Ela cuidava bem de você?
ALICE: A Nonô? Ela não era minha babá... Era da Clara. Brincava com ela no guarda-roupa direto. Tenho até fotos. Posso mostrar para você!
INVESTIGADOR: Alice, pare de inventar histórias... Isso é sério!
ALICE: Ás vezes ela arranhava o guarda-roupa inteiro por conta do pavão da família... Gostava de ovos de pata, fígado e amarelinha... Eu queria correr... Mas não queria magoar ela... Ela podia fazer algo comigo...
INVESTIGADOR: De quem você está falando, Alice? Quem arranhava o guarda-roupa?
ALICE: A Nonô, a Clara e eu! Mas só uma saiu do guarda-roupa naquele dia...
28/03/1983
Processo em aberto."
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inócua gentil
TerrorSinta a destruição da infância de Alice que, após uma tragédia misteriosa envolvendo os seus pais, acaba indo para o Orfanato da Freira Madalena: local cristão, culto e religioso de segredos profanos e cabalísticos. Alice logo terá que se acostumar...