Eu costumava ser lindo.
Se você olhasse para qualquer foto minha há três anos atrás, com meus cabelos loiros e meu porte atlético, diria que eu era um príncipe. Não que eu tenha saído da realeza, ainda sou um marquês, mas minha aparência foi embora quando o câncer chegou. Diagnosticado aos treze, tratado desde então. Leucemia, nome bonitinho, não? Mas um pesadelo na vida de quem precisa lidar com ela. Meus pais têm resistido ao transplante, por isso me enviaram para realizar um tratamento alternativo no Rio de Janeiro, há um dos maiores oncologistas do mundo aqui.
Para ser sincero, meus pais não estão resistindo ao transplante, eles apenas sabem que não há nenhum doador compatível na família. Ninguém. Resolveram realizar o teste logo quando fui diagnosticado. Já faz um ano que estou em processo de tratamento, e mesmo que eles digam que estou melhor, apenas me sinto pior a cada dia. Já não consigo dançar como antes, nem ficar tanto tempo numa festa, mas ainda posso cantar. E francamente? Estou com medo que chegue o dia em que nem isso eu seja capaz de fazer.
Conheci alguém aqui, alguém que me ensinou amor, fez-me ver além dos zeros na conta bancária. Posso dizer que fiz uma família no Brasil, tenho muito a agradecer aos Silva, foram pessoas que me seguraram durante um período bem ruim. No entanto, percebi que não importa o quanto eu fique aqui, quantos tratamentos experimentais eu faça, não é meu lugar.
Sinto que preciso voltar para a Espanha, necessito do abraço dos meus pais, da minha irmã. Se podemos fazer um tratamento tão longe, por que não conseguir um que seja mais perto de quem meu coração quer estar?
A morte de Marina Nunier me impactou muito, era tão nova quanto eu, e me pergunto como ela se sentia sem dizer aos outros como estava por dentro. Isso aqui sou eu tentando deixar algumas memórias caso o pior aconteça, quero ter a certeza de que ao menos uma pessoa saberá quem eu fui.
Eu sou como você, igualzinho. Eu tenho sonhos, sorrio, choro, possuo medo.
Quer saber, preciso te pedir algo antes que você aperte o "Play". Sabe a sua mãe? Seu pai ou irmãos? Ou melhor, pode ser aquele seu bichinho de estimação. Pega ele e abraça bem forte, diga que o ama e que o amanhã não importa se você tem amor. Não deixe que o dia de hoje vá embora sem dizer essas palavras. Pode ser tarde amanhã.
Por enquanto, apenas vamos escrevendo o que dá, e cantando o que se merece. Pode dar o "play" se quiser agora.
Meu nome é Carlos Rosón, e essa é a minha história.
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PLAY ✭ [ELITE] ✭
FanfictionLas Encinas está cheia de dramas e um mistério a rodeá-la, então, quem pararia para ouvir os relatos de um riquinho doente? É, tenho tentado encontrar. Por esta razão, utilizarei música, pois sei que ninguém resiste ao poder da melodia. E se puder e...