3 - ♩Head Above Water, feat. Avril Lavigne♩

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Dormi durante todo o percurso, grande parte dos remédios me causava sonos, mas Fred ficou acordado, disso eu tinha certeza. Ele nunca havia viajado de avião, jamais havia saído do Rio de Janeiro, aquilo era um grande conjunto de primeiras vezes para o meu namorado. Não sabia quem me buscaria no aeroporto, apesar de saber que seria óbvio alguém ir. Não quis discutir nada da volta, apenas queria retornar ao meu lugar.

– Atenção, senhores passageiros, já estamos sobrevoando o Aeroporto de Madrid. Pedimos que afivelem os cintos e preparem-se para o pouso. – A voz do piloto ecoou pela aeronave, sendo o suficiente para despertar-me.

– Não acredito que chegamos. – A euforia tomou conta do rosto do brasileiro e dei uma pequena risada. – Tem certeza de que não quer colocar uma das suas perucas?

Aquela pergunta me pegou desprevenido, não entendi o motivo pelo qual ele a havia feito. Não gostava de ficar utilizando as perucas, não importa o quão realistas elas fossem. Era degradante olhar minha aparência sem meus cabelos, sentia uma parte de mim morta, mas me recusava em ficar usando os adornos em todo tempo. Talvez fosse a vontade de não estar mais bonito.

– Tenho sim, não estou no clima. – Respondi direto e claro, não entendi a expressão que passou pelo rosto do outro. – Está com vergonha de andar comigo dessa forma?

– Não, nunca! Não pense isso, Carlos, por favor. – Fred segurou meus ombros e fez olhar em seus olhos. – Você é lindo de qualquer forma.

Num mundo de catástrofes, as palavras de Frederico passaram a ser meu único conforto. Eu podia estar equivocado sobre ele naquele aspecto, admitia isso. Afivelei a trava de segurança e ajudei o moreno a fazer o mesmo com a dele. Estávamos pousando.

– Puta que pariu, isso dá medo. – Fred segurava-se nas laterais do assento e o corpo estava esticado na cadeira. Não consegui evitar a gargalhada que ecoou a plenos pulmões.

Já estava acostumado com aquele tipo de sensação, aviões não me causavam mais medo, não como quando eu era criança. Me abraçava com Carla e chorava durante todo o pouso, isso é uma vergonha que guardo à sete chaves. Já em solo firme, aguardei a descida do grande fluxo de passageiros, multidões não me apeteciam. Quem sabe num grande espetáculo protagonizado por mim? É, algo que não aconteceria.

– Vamos? – Perguntei ao olhar para o estrangeiro.

– Só se for agora. – Frederico pegou sua bagagem e a minha, ao menos as que estavam conosco dentro da aeronave.

O corredor que dava acesso ao setor das bagagens estava bastante vazio, boa parte das pessoas já havia passado daquela etapa do percurso. Não sabia se por uma questão de adrenalina, ou apenas rebeldia, encostei Frederico na parede gélida e o beijei. Fora um beijo engraçado e daqueles presentes em comédias românticas. O rapaz me correspondeu por segundos, parando sem graça ao fim do gesto:

– Alguém pode ver a gente, seu louco!

– E daí? Acabou de aproveitar nosso último beijo livre. – Comentei ajeitando a gola da camisa. Se ele havia se desafiado a vir nessa jornada comigo, ele desafiar-se-ia em outras coisas também.

Caminhamos separados até as esteiras, apenas nossas malas e algumas poucas giravam repetidamente no objeto. Puxei minhas duas malas de rodinhas. Meu namorado não possuía muita coisa, trazendo poucos pertences numa única mala. Liguei meu aparelho celular e diversas mensagens começaram a chegar na atualização, as longas horas do voo haviam aberto espaço para uma série de recados preocupados da minha família.

Arrastei as duas malas em direção ao desembarque. Várias famílias e pessoas abraçavam-se, um daqueles momentos emocionantes sobre viajar. Reencontros partem da premissa daquilo que se necessita em meio à tanta distância, por isso são, em suma, emocionais. Meus olhos assistiram discretamente, já Fred estava analisando a dimensão do Aeroporto de Madrid.

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