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-Eu não acredito que você tá brigando comigo porque eu disse que estava com saudades dele. Lucas, ele é só meu amigo agora. Que saco, cara!
-É seu ex também.  Ingrid, se ponha no meu lugar.
-Não vou me por no seu lugar até porque eu confio em você e esperava que você também confiasse em mim. -eu disse triste.
-Aonde você vai? -Lucas perguntou.
-Pra minha casa. -respondi.
-O quê? Por quê?
-Porque é melhor assim, Lucas. -respondi. -Cada um pro seu lado, sem desconfiança.
-Quer dizer que você está terminando comigo?
-Entenda como quiser. -respondi e saí.
Aquilo pra mim foi horrível, eu jamais abandonaria ele em outros sentidos, também nunca deixaria de amar ele. Mas ver Lucas desconfiar de mim foi horrível demais. Eu não queria aquilo para mim, não novamente.

Alguns meses depois de nosso termino, Lucas ainda continuava me mandando as cartas todos os dias e eu lia, guardava todas. Seu tratamento estava indo muito bem, sem nenhuma recaída ou piora. Lucas estava cada vez melhor e mesmo só estando com ele como amigo, eu ficava muito feliz e sempre ia com ele nas sessões de quimioterapia e radioterapia.
Estava tudo indo muito bem, todos muito felizes porque minha formatura se aproximava e foi aí que tudo começou.
Lucas piorou em uma semana, o tratamento começou a regredir e parecia que as medicações haviam parado de funcionar. Seus pais vieram pra São Paulo, para poder ajudar na companhia do tratamento e eu também ia com ele no hospital nos dias que eu estava mais livre no estágio. Aquilo parecia um pesadelo horrível que nunca terminava, minha mãe me dava esperanças de que tudo daria certo, mas no fundo nós sabíamos que ele só ficaria bem por um milagre mesmo. Toda fé e toda positividade ainda não eram o suficiente para eu acreditar que ele ficaria vivo. No começo eu era a que mais lutava pra ele ter fé, mas com o passar do tempo só fui me conformando e me apegando ao pouco tempo que nos restava.
A medida que o tempo ia passando, Lucas ia ficando cada vez mais fraco, cabelo ralo, sorriso por dentro de uma máscara para não pegar muito do ar contaminado. Aquilo tudo me assuatava, tentava parecer forte com ele em minha frente, mas quando eu chegava em casa desabava a chorar.
-Oi meu amor. -eu disse assim que entrei no quarto de hospital. Lucas havia se internado no hospital, porque ficaria melhor pro tratamento. -Disposto a passar uma noite comigo?
-Oi Girassol. -sorriu fraco. -Na verdade, não. -ele respondeu e eu estranhei. -Hoje eu quero que você tire a noite pra você, vai sair com seus amigos. Tenha uma noite com o Ale. Não adianta me olhar com essa cara, eu sei que vocês...
-T3ddy, não...
-Ingrid, eu sei. -ele disse e riu fraco. -Eu estou bem melhor, pergunta pra sua mãe. Tira uma noite pra você.
-Não confio em você. -eu disse e ele mostrou a língua.
-Olá. -minha mãe disse entrando no quarto.
-Mãe é verdade o que ele disse? Ele realmente está bem?
-É verdade, sim. Se continuar assim logo vai ter alta. -ela disse sorridente e eu também sorri.
-Meu Deus, isso é maravilhoso! -eu disse sorridente e a abracei.
-Parabéns, mocinho. -beijei sua testa.
-Agora volta pra casa, amanhã eu já tô de volta. -ele disse e eu revirei os olhos. -Minha sobrinha vai ficar aqui comigo hoje, não quero que você estrague o rolê em família.
-Ah é assim, T3ddy? Então tá bom. -eu disse e ele riu. -Se eu soubesse que eu ia ser mal tratada dessa forma, eu nem teria saído de casa.
-Eu vou sair e deixar vocês se resolverem. Mais tarde eu volto pra ver você, Lucas. -minha mãe disse e saiu do quarto.
-Para de drama e senta aqui do meu lado. -Lucas disse e eu me sentei. -Silêncio, só eu falo agora. -ele disse e beijou meu rosto. -Vai embora. -ele disse rindo e eu ri também. -É sério, Girassol. Boa noite.
-Ok. -eu disse e sorri. -Já entendi que você não me quer aqui.
-Nem adianta fazer drama, Ingrid. Vai fazer outra coisa que é isso que tá te matando. -sugeriu e eu ri.
-Deixa de ser ridículo, garoto. -eu disse ainda rindo.
-Se eu pudesse estaria pensando e fazendo as mesmas coisas. -ele disse.
-Se não estivesse me expulsando...
-Horário de visita, acabou. Boa noite. -ele disse apertando o botão que chama a enfermeira e ela veio rapidamente.
-Posso ajudar? -a enfermeira perguntou.
-Pode levar essa moça até a saída, por favor. O horário de visitas já acabou.
-Mas ela acabou de chegar. -a enfermeira disse sem entender nada.
-O psiquiatra diz que é melhor não contrariar. -eu disse pra ela e ela riu. -Tem dia que não quer que eu vá embora e hoje tá me expulsando. Vai entender. Moça, eu só vou me despedir dele e já saio.
-Sem pressa. -a enfermeira disse saindo do quarto. -O horário de visita ainda não acabou.
Encostei a porta e encarei Lucas.
-Lucas, você vai me dizer agora o que está acontecendo.
-Não tá acontecendo nada. -ele disse pleno. -Pode ir, Ingrid. Sério.
-Eu quero um beijo antes de ir. -eu disse o testando.
-Eu tô com bafo. -ele disse e eu ignorei.
-Não tô sentindo nada aí, deixa de ser chato. -eu disse me aproximando dele. -Quero o beijo, senão não vou embora.
-Ta bom. -me deu um selinho.
-Vou ser obrigada a te beijar a força mesmo? -eu disse e ele riu. -Deve ter se apaixonado por aquela enfermeira bonitona. A loira. -eu disse e ele riu.
-Claro que não. -ele disse sério e selou nossos lábios.
-Me diz o que tá acontecendo com você, por favor? -eu disse e ele respirou fundo. -Hein?
-Ingrid, eu...
-Não me diga que você vai morrer. -eu disse com um riso nervoso. -Por favor.
-Eu tô sentindo isso sim. -ele disse sério. -Não queria que você sofresse mais, já sofreu o bastante durante esses dias. Esta até abatida. -ele disse e eu revirei os olhos. -Vai pra sua casa, toma um banho, descansa, coloca aquele vestido preto que eu amo, sai por aí como se não houvesse amanhã. Chama o Barbie e dá uns amassos nele. Eu já deixei tudo combinado. Volte só amanhã de manhã. Eu ainda estarei aqui. Porque é óbvio que eu não vou morrer amanhã.
-Amasso é coisa de vó falar. -eu disse e ele riu. -Eu te amo.
-Eu te amo também. -sorriu. -Agora vai embora. -disse aproximando nossos lábios e me beijou.
Por um instante eu me permiti esquecer de tudo ao meu redor e foquei apenas em nosso beijo.

P.S: Eu Te Amo | Lucas OliotiOnde histórias criam vida. Descubra agora