ique Carvalho

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Muitas pessoas me pedem conselhos.

    Não gosto de dar conselhos. Gosto de dar exemplos.

     

    Uma vez comprei um notebook nos Estados Unidos.

    Meu pai disse:

    “Meu filho, você vai pagar todos os impostos”.

    “Não vou. O governo vai nos roubar”, respondi.

    Ele disse:

    “O governo e o mundo inteiro podem roubar. Você não”.

    Não era uma ordem e nem um conselho.

    Era o exemplo de um pai que trabalhava duro,

    pagava seus impostos e não roubava.

    Então, paguei os impostos, porque eu queria ser esse homem.

     

    Quando eu tinha 16 anos,

    uma namorada gritou comigo na porta da minha casa.

    Eu gritei de volta.

    Quando entrei em casa, meu pai disse:

    “Ela e o mundo inteiro podem gritar e desrespeitar.

    Você não”.

    Não era uma ordem e nem um conselho.

    Era o exemplo de um homem que sempre tratou sua

    mulher com muito amor, carinho e respeito.

    Então, nunca mais gritei com ninguém,

    porque eu queria ser esse homem.

     

    Meu pai sempre foi saudável.

    Ele não bebia, não fumava e nem refrigerante tomava.

    Em minha memória, meu pai nunca tinha ficado doente.

    Até o dia que ele passou mal e ficamos três dias no hospital.

    Três meses depois, descobriu que tinha uma doença.

    Naquele dia, ele entrou no meu quarto e me deu um abraço.

    Eu perguntei:

    “O que o médico disse?”.

    Ele respondeu:

    “Filho, me desculpe. É uma doença rara e sem cura”.

    Eu disse:

    “Há alguma coisa que o médico possa fazer?”.

    Me abraçou forte e inclinou levemente

    a cabeça no meu ombro.

    “Não”, respondeu baixinho. “Não há.”

    Ele chorou. Mas eu chorei mais.

    Ele fez de tudo para me acalmar.

    Mas quando olhava pra ele, eu chorava mais.

    “Pai, o que nós vamos fazer?”, perguntei.

    Ele respondeu: “Viver”.

    E logo em seguida: “Viver”.

    E, antes de respirar de novo: “Viver”.

    Eu o abraçava a cada vez que ele repetia.

    Naquela noite, meu pai não brigou.

    Não reclamou.

    Não culpou a vida por seus problemas, dúvidas e incertezas.

     

    No dia seguinte, e depois do dia seguinte,

    e por toda a vida adiante, meu pai continuou alegre,

    educado e sempre com um sorriso bobo no rosto.

    Ao longo da vida, você terá uma infinidade de conselhos

    e exemplos a seguir.

    E uma infinidade de escolhas a fazer.

    E isso é importante.

    Mais importante que isso, porém, é ter a certeza de escolher

    a vida e a pessoa que você quer ser.

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