C I N C O

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Boulder, 2021

Mais uma tentativa.

Annelise e Harry olharam um para o outro com certa dúvida. Mesmo que já tivessem feito aquilo antes, era difícil. Não só porque encontrariam algo ruim, mas porque literalmente haviam feito aquilo antes, e não achavam que a mãe de Christine estaria se sentindo muito mais amigável que da primeira vez.

— Ela só estava em choque — garantiu Parker ao bater na porta. — Vai cooperar dessa vez.

White bufou e olhou para a frente, evitando ser um idiota. Sabia muito bem como era a dor de perder uma filha, mas às vezes se esquecia daquilo. Talvez, depois de tantos anos, ser um completo babaca passou a ser a sua única forma de agir. Depois que saiu de Londres decidiu mudar tal comportamento, mas ele constantemente voltava, como naquele momento. Talvez simplesmente não houvesse mais como mudar; passara muito mais tempo sendo um idiota, mais até do que sendo um cara legal.

A porta se moveu e uma Vivan Roberts apareceu ofegante. Havia corrido para atender quem quer que estivesse chamando, e White reconheceu aquele desespero. Fez a mesma coisa por vários anos uma década atrás. Cada batida na porta vinha com a esperança de que alguém fosse trazer novidades sobre sua filha, mesmo que soubesse que ela estava morta.

Limpou a garganta e tentou ser amigável.

— Boa tarde, Senhora Roberts. Podemos conversar por alguns minutos?

A mulher olhou atentamente para o rosto do policial em busca de pistas sobre o que a esperava, mas White era muito bom em não deixar transparecer emoções. Annelise também, então Vivian os deixou entrar com ar decepcionado.

— Vou fazer um café para vocês — anunciou, então parou e olhou para White: — O senhor prefere um chá?

Annelise olhou para a janela com a intenção de esconder a risada que quase escapou pelos seus lábios. Harry só fez que não com a cabeça.

— Café está ótimo.

Vivian saiu e Annelise finalmente tossiu para não engasgar.

— Isso nunca perde a graça — sentou no sofá grande no meio da sala.

— Já perdeu faz tempo.

— Ei, pode controlar esse temperamento. Não tenho culpa de que não gosta do meu sofá.

White estava evitando pensar sobre aquilo. Dormir duas noites no sofá de Annelise com certeza estava na lista de coisas que ele nunca teria feito se dependesse apenas de sua vontade, ainda mais se levasse em consideração as circunstâncias que o levaram até aquele móvel desconfortável.

— Você tem culpa de ter comprado um sofá ruim, na verdade. Não tinha ninguém para te dizer que era uma furada?

— Foi o Luther que escolheu aquele sofá.

White revirou os olhos.

— Está explicado. Aquele cara só fez uma escolha boa na vida e ainda assim se divorciou dela.

Antes que Parker pudesse responder, Vivian estava de volta. Para o alívio de Harry havia apenas café nas xícaras dispostas na mesma bandeja da primeira vez, e a imagem causou uma sensação de dejavú pouco bem-vinda.

— Vocês têm novidades sobre a minha filha?

White abriu a boca para responder, mas pensou melhor sobre a forma como a pergunta havia sido feita. Reconhecia aquele fio de esperança também. Ela ainda não acreditava que a filha estava morta, não de verdade. Tinha esperanças de que fosse o corpo errado ou de que ela voltasse milagrosamente e entrasse pela porta. Harry sabia qual era a sensação de ter todas aquelas coisas negadas, então repetiu o que Angelina Devens, responsável pelo caso de sua filha anos antes, falou quando estivera do outro lado daquela mesma situação.

Saco de Ossos (CONTINUAÇÃO DE QUEM MATOU SOFIA?)Onde histórias criam vida. Descubra agora