Fase Um: Coração Partido
- Eu não acredito que vamos começar com isso mais uma vez, Toni. - A ruiva falou enquanto entrava em nosso apartamento a passos rápidos e deslizava sua mão por seus cabelos em sinal de impaciência.
Entrei junto com a mesma e segui para o meio da sala, mantendo um pouco de distância de Cheryl. A raiva tomava conta de todo o meu corpo, eu podia ouvir o sangue bombeando em meus ouvidos, podia sentir cada um dos pelos do meu corpo se arrepiando, e meu coração batendo tão forte que ameaçava explodir minha caixa torácica.
- Você não percebe que ela faz isso para me irritar? - Meu tom de voz estava um pouco alto devido minha irritação então suspirei e tentei continuar a falar sem que me exaltasse e as coisas pudessem desandar. - O desejo nos olhos dela quando está perto de você é vísivel até do outro lado do mundo, e ela não tenta esconder isso. Ainda mais quando ela me vê por perto.
Respirei fundo e pretendia falar mais alguma coisa depois disso, mas eu não saberia dizer o que, porque nesse momento Cheryl olhou para mim. Certo, ela não olhou realmente para mim, ela apenas deixou seu olhar vagar pela sala na direção que eu estava e depois virou o rosto. Mas por um segundo eu pude perceber que seus olhos estavam começando a marejar... Por um segundo seus olhos encontram os meus, e então eu soube. Naquele exato momento eu soube que havia estragado tudo.
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Cheryl foi embora.
Faz três horas que a porta do apartamento se fechou e eu ainda não consigo raciocinar corretamente. Estou sentada sobre o sofá desde que ela saiu e minha mente continua relembrando cada palavra amarga que trocamos essa noite. Ela disse que não poderia mais suportar meu ciúme absurdo e que isso só estava desgastando nossa relação. Doeu ouvi-la dizer que não poderíamos continuar nesse relacionamento quando eu sequer confio nela.
Como ela pode pensar algo do tipo?
Eu a vi chorar enquanto colocava algumas roupas dentro de uma mala. Eu queria impedi-la, jogar todas as roupas de volta no armário e fazer com que ela esquecesse aquela ideia louca de me deixar, mas eu não fui capaz de fazer isso. A decisão foi dela.
Nós brigamos depois que a encontrei conversando com a Bogaty na portaria de nosso prédio. Ela disse que não era nada demais, que estavam apenas conversando como colegas, mas eu não aguento ver o sorriso idiota que Heather lança para ela, os olhares maliciosos ou as frases carregadas de duplo sentido. Eu não aguento saber que ela imagina que ainda tenha alguma chance com a mulher da minha vida. Eu não aguento ver Cheryl conversando sorridente com seu primeiro amor, a pessoa por quem um dia ela foi capaz de tudo.
Heather Bogaty é a materialização de meu maior medo, minha maior insegurança.
A ruiva parece não perceber que ela está sempre por perto porque sabe o quanto a presença dela me incomoda. Sei que meu ciúme não é absurdo, ele é apenas um reflexo do amor que sinto por Cheryl. Ele apenas mostra o quanto me importo. Eu confio em Cheryl, é na Heather que não confio.
Eu não chorei enquanto discutíamos e nem mesmo quando ela partiu. Meu estado de perplexidade não me permitiu e tudo o que eu fiz foi encarar a madeira clara da porta durante essas três horas. Eu também não pedi pra que ela ficasse. A decisão foi dela, afinal. Quando meus dedos trêmulos discam o número de Betty e eu conto à minha melhor amiga o que aconteceu, ela me pergunta o quão grave foi dessa vez e eu simplesmente não sei responder.
O quão grave foi?
Cheryl e eu às vezes discutíamos por coisas diversas como todo casal faz, mas nenhuma vez antes ela pegou seus pertences e saiu de nosso apartamento. Nós nunca sequer ameaçamos fazer tal coisa. Na maioria das vezes levava no máximo algumas horas pra nos resolvermos e ficarmos bem. Mas dessa vez foi diferente e eu posso sentir isso.
Betty acha melhor dar tempo ao tempo para ver o que acontece e é isso que eu vou fazer. Tenho certeza que eu e Cheryl vamos encontrar uma solução logo porque nosso amor é grande demais pra que fiquemos separadas, então eu vou apenas esperar e quando ela voltar vou abraçá-la o mais forte possível e pedir que ela nunca saía do meu lado. Eu não vou chorar, porém, porque a decisão foi dela.
Agora minha cabeça está doendo de forma insuportável e tudo o que eu quero é tomar um calmante e tentar dormir. Tenho certeza que não vai ser fácil sem o calor da Blossom ao meu lado depois de tanto tempo dormindo com seus braços em minha cintura, sentindo seu cheiro durante meu sono e sua respiração tranquila em meu pescoço, mas eu preciso tentar.
Apesar de saber que vai ficar tudo bem entre nós, não posso evitar sentir essa dor no peito como um ferro em brasa formando uma nova cicatriz. Sempre me disseram que amar é o melhor remédio, mas ninguém nunca me ensinou como dormir com um coração partido.
Pego meu celular, que estava debaixo de meu travesseiro e o ligo. Depois de minha briga com Cheryl e minha ligação para Betty optei por me desligar do mundo e apenas me perder em meus pensamentos. Sinto vibrações em minha mão e olho para a tela do meu telefone, ignoro todas as notificações de mensagens e ligações perdidas, não eram da pessoa que eu mais queria naquele momento.
Apenas foco na foto de minha tela de bloqueio, na qual eu e a ruiva estamos sorrindo sem mostrar os dentes e relembro o quão maravilhoso e especial tinha sido aquele primeiro dia que passamos juntas. Tantas memorias foram feitas a partir dali e agora sem ela ao meu lado o mundo parece cinza, como sempre tinha sido até que eu finalmente a encontrasse.
Eu já nem tento fingir que tudo está bem.
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six degrees of separation - choni
RomanceNa primeira fase você pensa que o pior é o coração partido, mas o que vai te matar é a segunda e a terceira é quando o seu mundo se parte ao meio. Na quarta fase você vai pensar que já está bem, na quinta você a vê com outra pessoa e a sexta é quand...