six degrees of separation - choni

chapter 3

Fase Três: O Mundo Se Parte Ao Meio

- Prontinho! - Verônica sorriu colocando sobre a mesa de centro a bandeja prateada com duas canecas e dezenas de bolinhos. - Tudo para minha melhor amiga!

- Obrigada, Ronnie. - Também sorri aceitando a caneca que ela me oferecia e não hesitando em provar o chocolate quente. Fechei os olhos ao sentir o gosto do marshmallow sobre minha língua. - Delicioso! Verônica sorriu ainda mais e tomou um gole de seu próprio chocolate. - Você acha que Betty vai demorar? 

- Não sei, mas ela odeia essas reuniões com os clientes, sempre dá um jeito de fugir.

Eu ri e coloquei ambas as pernas dobradas sobre o sofá. Mordi o primeiro bolinho e ao sentir o gosto não pude evitar pensar em certa ruiva. - Chocolate com cereja. - A morena me olhou curiosa. - São os favoritos de Cheryl.

- Oh, eu sei! Ela sempre me pede para fazê-los. - Ronnie sorriu.

- Ela tentou fazer centenas de vezes, mas nunca acerta a receita. - Desviei meu olhar pra janela quando aquelas lembranças me invadiram. As gotículas de chuva molhavam a janela de vidro, não era incomum chover em NYC, mas tempo frio esgotou qualquer vontade de sair que eu pudesse ter.

Verônica suspirou. - Vocês não conversaram ainda?

- Ainda não. - Tomei outro gole do chocolate.

- E o que você está esperando? Já faz quinze dias, T.

- Betty acha que ela precisa de tempo.

- Betty está certa, mas espaço demais abre brechas pra outras interpretações. Vocês precisam conversar.

- E se ela não me quiser mais? Eu não sei se suportaria. Eu não suportaria.

- Ela vai querer. Ela sempre vai te querer, Toni. - Afirmou. - Mas você precisa mostrar que mudou. Não adianta simplesmente voltar e continuar cometendo os mesmos erros. Engula um pouco esse orgulho e faça o que o seu coração mandar!

Eu sorri e deitei minha cabeça no ombro de Ronnie. - Obrigada, Verônica. Você é a melhor e faz os melhores bolinhos de cereja!

- Ok, Toni, eu embrulho alguns pra você levar! - Eu ri e a abracei. Verônica rapidamente mudou de assunto e começou a falar sobre seu estúdio de dança. Era notável que ela estava tentando me distrair, mas não funcionou muito bem.

Eu estava melhor desde que tinha conversado com Betty. Não havia voltado a trabalhar, mas passava a maior parte do tempo fora de casa porque ficar lá parecia pior. Betty e Verônica já tinham se acostumado com minha presença agora constante no apartamento delas. Também pensei muito no que tinha acontecido e admiti que a maior parte da culpa era de fato minha. E apesar da saudade de Cheryl aumentar a cada segundo que passava eu não tinha procurado por ela. Depois do que Verônica me falou, porém, eu percebi que já havia passado tempo demais separada da pessoa de quem não conseguia ficar um dia sequer longe. Era hora de ligar para Cheryl.

- Eu vou tomar um banho e quando Betty chegar podemos ir ao parque, o que você acha? -  Ronnie perguntou quando terminamos nossos chocolates.

- Perfeito. - Respondi em meio a um bocejo.

- Certo, eu já volto. - Verônica beijou minha bochecha e se levantou. Antes de ir ao quarto ela me entregou meu celular e sorriu me encorajando. Eu sabia o que eu teria que fazer, só não tinha muita certeza de como fazer.

Eu suspirei fundo ao ouvir a porta do quarto se fechando e meus dedos digitaram o número conhecido com facilidade. Enquanto chamava, minhas mãos tremiam e meu coração parecia prestes a sair pela boca.

- Toni? A voz da qual eu tanto senti falta soou baixa e surpresa.

- Cher. - Suspirei. - Nós precisamos conversar. Será que você... - Eu ia continuar, mas uma segunda voz soou do outro lado da linha.

- Blossom, achei o apartamento perfeito pra você!

Meu coração falhou uma batida e o ar pareceu se esvaziar ao meu redor.

- Espera, quem está com você? - Perguntei tentando não elevar o tom de voz, mas sentindo meu lábio inferior tremer levemente.

A ruiva respirou fundo, mas a resposta demorou a vir. 

- Toni, eu estou me mudando. Archie vai ir buscar minhas coisas essa semana.

O celular caiu de minhas mãos quando eu corri pra fora daquele apartamento. Meu mundo havia desmoronado e eu estava totalmente sem chão. Ouvi-la dizer aquilo fez com que minha ficha caísse  e o que parecia somente um delírio de minha mente se mostrou mais real do que nunca. Aquilo estava acontecendo. Tudo estava acabando.

Ao meu redor tudo parecia bem. 

Dentro de mim era como se tudo tivesse desmoronado.

E a dor aguda em meu peito só deixava isso mais claro.