Aqui em BH, o céu está nublado, acho que daqui a pouco vai cair um pé d'água dos grandes, mas isso não vai me impedir de pegar o busão e ir pra aula hoje.
- Pronta pra mais um dia ruim? - Perguntei para mim.
- Uai, fazer o que né? Vamos. - Me respondeu.
É sempre assim, eu falo comigo, e minha cabeça responde, eu não tive outra opção. Os primeiros pingos de chuva começam a cair, e começo a correr para o busão que acabou de parar no ponto.
Me sentei no fundo do veículo. Muita gente estava chegando ofegantes pra perto dos assentos digitando algo no celular com toda a pressa do mundo. Será que quando eu for uma adulta feita, eu vou ficar nesse trem desse celular o tempo todo?
A chuva começa a ficar mais forte a cada momento. Eu deveria ficar em casa comendo um pão de queijo debaixo da coberta, mas eu quis ir pra aula, e agora tô aqui.
Minutos depois o ônibus para perto do colégio, e agora pensando bem, eu me lasquei. Como eu vou passar nessa chuva toda? O jeito é correr que nem louca agora.
- Vai que é sua! - Disse minha cabeça.
Saí do veículo me sentindo uma atleta, tirando a parte que quase caí no chão, eu consegui chegar no portão.
Ainda faltava dez minutos pra aula começar, e eu fui para a biblioteca, fui para o lugar mais isolado possível, não quero ver ninguém agora.
- Você vai ficar aqui?
- Vou, não quero ver ninguém me chamando de louca agora, logo as sete da matina!
- Ôxe Jamille! Eu nunca te chamaria de louca a pronto e a hora. - Uma voz com um sotaque baiano que eu não conhecia disse.
Um garoto estava sentado ao meu lado na estante de livros. Quando meu olhar se encontrou com o dele, ele sorriu.
- Uai, quem é você? E como sabe meu nome? - Perguntei.
- Prazer, meu nome é Samuel Castro, eu sou da Bahia. E você é mineira é óbvio, fica tão fofinha falando. E eu sei tudo sobre tu.
- Prazer em te conhecer baiano e obrigada pelo elogio, mas você sabia que se alguma pessoa ver ocê falando comigo aqui, vão achar que você é louco.
— Ôxe, que isso, não se preocupe, ninguém vai me ver aqui. - Disse tranquilamente.
- Como não? - Perguntei.
- Por que só você consegue me ver Jamille.
- Como é que é? - Perguntei incrédula.
- Cê quer fazer um teste? Vamo sair daqui! - Se levantou.
Eu estava tão surpresa que eu segui o baiano para fora da biblioteca.
- E agora? - Perguntei ao ver várias pessoas no corredor.
- Peraí... - Respondeu.
- Olha lá, a louca falando sozinha como sempre. - Um garoto disse para seu grupo de amigos.
- Eu tô falando com ele! Cês não tão vendo não? - Apontei para o baiano ao meu lado.
- Não tem ninguém aí. Ah quer saber? Vamo vazar daqui gente, deixa essa louca aí.
Eles saíram e eu fiquei parada no mesmo lugar igual boba.
- Como isso é possível? Isso não pode ser possível!
- Calma aê vei. Você não tem ninguém pra conversar certo? Eu tô aqui pra isso Jamille! Vou ser seu amigo irmão.
- Amigo irmão? O que é isso? Não entendo essas suas gírias de baiano.
- Significa amigo de fé, ou também pode ser melhor amigo.
Sorri com a sua última frase, pelo o menos agora eu iria conversar com outra pessoa, não comigo mesma.
- Então cê é tipo um fantasma?
- Ôxe! não diga isso. Amigo imaginário é melhor.
As pessoas do corredor continuavam me olhando estranho, mas agora eu não estava nem aí.
- Então baiano Samuel, eu vou pra aula agora.
- Até daqui a pouco mineira Jamille. - Disse e simplesmente desapareceu.
Me assustei um pouco, mas nada mais importa. Fui para a sala sorrindo, coisa que eu não fazia já faz um tempão.
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De Repente Você Apareceu
KurzgeschichtenJamille Vitória é conhecida como "A louca" porque várias pessoas disseram que ela fala sozinha por ai. E o que dizem é verdade, ela realmente fala sozinha. O motivo? Ela não tem ninguém para conversar, nem com seus pais, seus irmãos, nem com ninguém...