Capítulo 3

189 23 2
                                    


Diego

A conversa com o Matheus Araújo se estendeu mais do que o previsto, pois, além do âmbito profissional, entramos no familiar. Além de colega de trabalho, também somos amigos, conheço bem sua família e ele me confidenciou alguns probleminhas que estavam ocorrendo, sobre sua mulher linha dura. Mas nada grave, ainda assim mereceu minha atenção por ser o responsável pelo que me tornei.

Assim que desliguei o telefone, eu peguei minha maleta e jaqueta de couro marrom sobre o sofá de três lugares no canto, jogando sobre os ombros, e saí da minha sala. Em pé, Suzana ajeitava sua mesa, dando a entender que estava preparando para sair.

— E o que ficou resolvido com a professora da Tainá? — perguntei parando em frente à sua mesa. Ela arqueou as sobrancelhas, preocupada.

— Ela ouviu o que disse sobre o assunto supérfluo e não gostou nadinha — informou. Trinquei os dentes.

A Tainá vai me matar!

— Esta correria da minha vida me coloca em cada situação!

Ela concordou movimentando a cabeça.

— Tomara que não tenha arrumado problemas — comentei com ela arqueando a sobrancelha como quem diz: "Você está bem encrencado!".

— Eu espero que não — disse incerta me assustando.

— Bem — dei de ombros, afinal a merda já estava no ventilador —, depois eu peço desculpa. Boa noite!

— Boa noite!

Segui em direção à porta, abri e parei com a mão na maçaneta, quando me veio uma ideia na cabeça sobre a surpresa da Tainá. E lá na festa eu me acertaria com a tal professora, ou, pelo menos, tentaria levantar a bandeira da paz.

— Suzana? — Retornei para a frente de sua mesa.

— Sim.

— Será que amanhã cedo você não tentaria ver se consegue algumas fotos da Tainá com a professora de biologia na faculdade?

Ela inclinou a cabeça de lado fazendo biquinho, enquanto pensava.

— Acredito que sim, tenho alguns contatos lá.

— Terá um bônus extra garantido este mês, se me arranjar estas fotos.

Seu sorriso entusiasmado se alargou no rosto.

— Vou me empenhar ao máximo — garantiu eufórica.

— Pode ser de grupos também, afinal eles fazem inúmeras viagens ecológicas para estudo que eu tenho certeza de que há registros em fotos — complementei.

— Pode ficar tranquilo, que mando entregar no seu apartamento.

— Obrigado! — agradeci.

Ela sorriu confiante.

Mais aliviado segui em direção à porta e saí, pensando que para dar conta de tantas atribuições seriam necessários "dez Diegos". Mas, enfim, não havia outro jeito senão ir fechando as lacunas do jeito que dava. Entrei no elevador soltando o ar exausto, torcia para ter tempo após o baile de ir ao aniversário dos Legionários, ou na manhã seguinte. Estava incomodado em faltar.

***

Desci no térreo, havia deixado meu carro estacionado numa vaga do outro lado da rua do prédio, pois fiquei desestimulado a entrar com ele na garagem, com a fila interminável no estacionamento. Wesley, um senhor de 60 anos, aposentado e que contratei como porteiro estava sentado numa banqueta alta atrás do balcão de mármore assistindo aos noticiários com o volume da TV no último. Ele se levantou assim que me viu, se aproximando do balcão.

DEVORADOR DE CORAÇÕES - PARTE 1 DEGUSTAÇÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora