4. Devil's Essence

28 7 0
                                    

 O tempo passava como a bruma do amanhecer: frio e nebuloso.

Olhar pela janela já não o satisfazia, assim como ficar longe do corpo dele.

Taekwoon precisava possuí-lo sob seu toque e qualquer fosse o tempo que passasse longe dele, o deixava em abstinência. E Hakyeon parecia divertir-se com a dor de Taekwoon, pois sempre que o encontrava sorria satisfeito, como se obtivesse o resultado esperado de alguma droga com a qual o viciava.

O perfumista sentia-se parte de um experimento, a cobaia em tamanho humano das vontades de Hakyeon. Este sumia por dias, apenas para voltar como se nada tivesse acontecido e convidar-se para sua cama, sem pudor, sem arrependimentos escritos em sua expressão.

Do mesmo modo que seus dias pareciam não render, suas criações estavam estagnadas. Nada que Taekwoon criava lhe agradava, nenhum perfume parecia bom o suficiente, nada satisfazia seu olfato, suas expectativas.

Sempre que uma nova formulação ficava pronta, o cheiro dele lhe vinha à memória. E após minutos perdidos em contemplação, engolindo seco e entregando-se à memórias vivas, o fruto de horas de criação parecia lixo.

Quanto mais Hakyeon se afastava, mais intensas eram suas voltas e Taekwoon estava completamente intoxicado por ele.

Taekwoon andava ansioso pelo sobrado, seus nervos à flor da pele, sua cabeça atormentada pela enxaqueca, seu coração disparado, as mãos suando frio. Nada. Ele não conseguia fazer nada.

Cacos de vidro encontravam-se espalhados pelo chão, resultado da última explosão de fúria. Seus sentidos pareciam anuviados, pois a única coisa que seu cérebro parecia registrar era o perfume das velas perfumadas e o odor que lhe penetrava sempre que se via a dois dedos de distância de Hakyeon.

Taekwoon estava obcecado pela essência do homem, de modo que para ele o mundo parecia pútrido e era tudo que todo o resto exalava.

Um grito de raiva e desespero escapou do homem, que levou as mãos ao nariz que queimavam, caindo de joelhos, e pedindo às forças ocultas que regiam aquele mundo que fizessem parar.

Ele precisava de Hakyeon. Agora, amanhã, a todo instante. Tragar seu perfume, livrar o resto do cheiro repugnante que possuíam, compartilhar com todos aquela perfeição. Só então ficaria em paz.

Foram mais duas semanas que quase o levaram a loucura, mas ao fim de uma tarde chuvosa, os olhos afiados encontravam-se parados no batente da porta. Seu sorriso mais satisfeito que nunca, a medida que observava os resultados de trabalho bem feito. Seu rosto, não fosse tão belo, com um quê angelical, lembraria a um demônio da luxúria.

Os olhos de Taekwoon fixaram-se nele, estudando, analisando se era uma miragem. Suas pupilas estavam dilatadas, o cabelo bagunçado cobria-lhe o rosto, seu semblante beirando a loucura.

- Como tem passado, Sr. Perfumista? Pelo que vejo, parece que sentiu minha falta... - O riso que escapou de sua garganta soou como música para Taekwoon. A ponta de seus dedos tremiam na ânsia de tocá-lo, a medida que Hakyeon aproximava-se a passos graciosos e leves, que pareciam fazê-lo flutuar.

- Você desapareceu... - Ele balbuciou quase sem forças para mais nada.

- Acredito que deixei uma lembrança agradável para lhe manter a memória viva. - Hakyeon acariciou a pele pálida da bochecha do homem, que suspirou sôfrego. O pequeno gesto causando-lhe arrepios.

- Não foi suficiente. Nunca vai ser suficiente. - Taekwoon respondeu em um sussurro, abrindo os olhos e o encarando profundamente.

- Hmm...

Hakyeon soltou um gemido baixo, cheio de júbilo, como o ronronar de um gato que recebia exatamente o agrado que exigia. Aproximou seu rosto de tal modo que seus lábios praticamente roçavam um no outro, com um sorriso de lado, sustentou o olhar de Taekwoon por uns segundos, desviando para o caos ainda espalhado dos experimentos falhos.

- Acredito que precisamos dar um jeito nisso, então.

Com as mãos segurando, agora, ambos os lados do rosto de Taekwoon, Hakyeon o guiou até seu pescoço, causando ao outro a inspirar profundamente e soltar o ar lentamente, como se tomasse a tão necessária dose de entorpecente. Após algum tempo, absorvendo o perfume que emanava do homem, pô-se a tocá-lo com seus lábios e língua, sugando-o para si com ferocidade, querendo tê-lo todo e completamente para si.

Hakyeon ainda sorria calmo, mas mostrava o prazer que lhe tomava, ainda que estivesse pleno demais, comparado ao perfumista, que claramente externava o desespero em que se encontrou nos últimos dias.

Hakyeon desceu uma de suas mãos, sentindo a seda negra sob seu toque, abrindo botões com destreza, em movimentos praticamente imperceptíveis, até chegar onde queria.

- Eu permitirei que você me tenha, Sr. Perfumista, pois você já pertence a mim. - Foi a última frase dita antes de entregarem-se novamente um ao outro.

The Perfect ScentWhere stories live. Discover now