O capítulo sem titulo que você não esperava encontrar

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O estranho na cozinha

Naquela manhã ela acordou, realizou sua higiene matinal e fez um coque frouxo...

-Eiei, pode parar.

Certo. Argh. Em uma bela tarde de domingo, Ayzu Saki - que claramente ostenta um nome falso ao qual ela não deveria mencionar e que falhou diversas vezes – está descansando em um clima agradável de 39 graus, mentindo para si mesma que vai trabalhar na tese...

-Ei!

...Quando na verdade vai procrastinar e sofrer por isso depois, quando alguém bate à porta.

Duas noites insones, 3 litros de café e um senso de preservação questionável a fazem esquecer que existe um interfone no prédio, e que o fato de alguém estar batendo na porta é deveras estranho.

Como um ser humano mentalmente saudável que ela é, seu comportamento mais lógico é de fingir que não ouviu nada, por ser uma tapada social...

-Fiquei ofendida.

...que não gosta de falar com outros seres humanos diariamente.

-Isso não é verdade.

Apesar de que vai negar isso até a morte...

-Eu sou dentista, lido com pessoas!

...E usar as desculpas de seus atendimentos para se defender.

Em qualquer dia normal, a pobre alma à porta teria desistido de seu intento. Possivelmente mais um plano falho do cupido em mandar um vizinho pedir açúcar para finalmente se livrar de seu pior fardo na humanidade. Particularmente acredito que sua tenacidade é louvável, depois de anos de planos infalíveis como guarda-chuvas voando, projetos juntos na escola, mãos se tocando ao pegar um livro e outros mais.

-Ninguém pediu sua opinião.

Porém, naquele dia não havia normalidade. E quando ela se encaminhou para a cozinha em busca de algum sustento ao lembrar que não realiza fotossíntese e precisa de alimento, alguém lhe esperava sentado confortavelmente na mesa.

Não na mesa propriamente, na cadeira da mesa. Sentar na mesa de um estranho é rude.

Não que invadir a casa de alguém não seja rude, mas...

-Podemos ir ao ponto? Quem é esse estranho na minha cozinha?

O estranho, pois o mesmo não possuía nome, em vista da dificuldade indubitável da autora de criar nomes de personagens, sorriu com dentes brancos e brilhantes.

-Obviamente facetas de porcelana feitas pelo professor Cás...

Não podemos fazer propagandas odontológicas aqui.

-Oh, certo.

Ao estranho.

-Quem é você, pessoa sem nome na minha cozinha?

Muito lógico perguntar isso tão calmamente, mas vamos a estória.

O estranho, que lhe lembrava absurdamente do garoto que lhe deu uma cartinha na terceira série ao qual ela retornou riscada de tinta vermelha com correções ortográficas que o fez chorar, respondeu com um grande sorriso.

-Eu sou o fantasma das estórias passadas, e vim te levar para uma grande aventura.

-Passo.

-Não pode.

-Posso sim.

Não, ela não pode.

E assim Ayzu Saki foi arrebatada para dentro de um portal em sua cozinha, e levada para terras inomináveis.

A quebra da quarta paredeWhere stories live. Discover now