Lembranças

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  "Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas sonhos"

LUCAS

Hoje parei para pensar um pouco até que ponto pode chegar uma amizade. Confesso que fiquei surpreso com tudo que aconteceu. Bruno fez foi muito mais que colocar uma droga na bebida de João, ele destruiu a confiança e os sentimentos de alguém que o tinha como referência.
Ao olhar João deitado naquela cama, dormindo, tentei, por alguns momentos, imaginar o que ele estaria sentindo. Para além da amizade, existia um envolvimento muito maior. Existia uma necessidade de atenção.
Quando Bruno começou com toda a sua ladainha fui preenchido por um ódio avassalador e, mesmo sabendo do seu arrependimento, minha única vontade era de o esmurrar a cara.

— VOCÊ NÃO ENTENDEU. NÃO É, BRUNO? — sibilo enquanto o pego pelo braço e quase o arrasto para fora do quarto. — SAIA DESSE HOSPITAL!

— Por favor, Lucas. Me deixa ficar — vejo seus olhos marejados em lágrimas e o desespero tomando conta de sua face.

— SABE A MERDA QUE FEZ? — o pressiono contra a parede com força suficiente para extravasar toda a minha raiva. — Tem noção que quase matou o João? Ele confiava em você e, todas as vezes que você fez merda, estava ao seu lado. Mesmo estando errado.

— Eu sei disso — ele não reage e simplesmente deixa que o tenha por alvo de toda a minha cólera. —  Não queria que as coisas chegassem a esse ponto.

— Já se perguntou o porquê terminei com o João? Sei que sim, mas agora vou te falar a resposta — me olhando assustado, era notória a confusão que passava por sua cabeça. Fui me afastando e soltando ele aos poucos. — Terminei com ele pelo simples fato dele te amar, covarde!

— Mas também amo ele,  é como fôssemos irmãos — sinto a insegurança nas suas palavras.  Como se, lá no fundo, ele soubesse o quanto o João gosta dele.

— Deixa de ser burro. Ele não gosta de você como irmão, mas sim como homem. Terminei porque ele nunca ia me amar como te ama. — minhas palavras parecem o acertar como uma bomba. — Só pensar um pouco. Verá que ele sempre gostou de você, mas acho que esse amor vai acabar. Sabe que você não o faz bem e, se for depender de mim,  nunca mais chegará perto dele.

— Está brincando comigo,  ele não me ama dessa maneira. — Bruno se sentou em uma poltrona e colocou a mão no rosto.

— Lucas, sai um pouco — abandono as minhas lembranças ao ouvir o timbre de André. — Toma um café. Ficarei com o João.

Abracei-o. Ele, com toda a certeza, era a pessoa que acalmava o coração de todos nós. A cabeça do nosso grupo.

— Obrigado — agradeci, respirando fundo tentando voltar ao equilíbrio.

Voltei a me aproximar ao leito. Colei nossas faces e o beijei. Precisava de respirar por isso fui em direção a saída do hospital. Um desespero tão grande me atingiu ao ponto dos corredores do hospital parecerem gigantescos. Andei sem direção, perdido naquele labirinto e, quando notei, estava correndo. As pessoas me olhavam assustados, contudo, eu precisava sair daquele lugar. Lágrimas vazavam pelos meus olhos e escorriam pela minha face.
Finalmente consegui sair, o vento gélido chocou-se com a minha pele e insistiu em tentar secar aquilo que representava o sinônimos dos meus sentimentos. Saí sem rumo,  era um sentimento de revolta e impotência. Como pude deixar que as coisas chegassem a esse ponto? Eu tinha que estar ao lado dele, prometi a mim mesmo que sempre iria  o proteger e falhei.
Não conseguia respirar direito, meus passos começaram a ficarem lentos. Os soluços ficaram mais audíveis, parei e olhei ao meu redor. Conhecia esse lugar e, aquelas árvores e flores, já conheciam minha história. Deitei sobre a grama verde e olhei pro céu. Tudo que vi foram as nuvens carregadas que prenunciavam uma tempestade.
Ceguei-me para o mundo e comecei a pensar  dos  momentos que estive ao lado do João.  Lembrar daquelas íris castanhas que cruzaram com as minhas, aqui mesmo nesse parque.

Era um fim de tarde,  os pássaros voavam brincando pelo ar, as árvores já começavam a florir,  sinais que a primavera já estava chegando. Foi num dia perfeito que meus olhos encontraram com os dele.
Eu tinha certeza que aquele dia iria encontrar com as pedras gêmeas que me cativaram. Pedras que, que dependendo do dia estava mais esverdeados ou mais escurecidos.  Você pode até se perguntar se eu o encarava dessa forma.  SIM. Esta é a minha resposta.
Há mais de um mês que correria neste parque. Todos os dias no mesmo horário,  sabia que o dono dos olhos que me encantavam estaria correndo também, na verdade eu nunca tive esperança de trocar uma sequer palavra com ele. Eu era simplesmente e totalmente ignorado. Mal olhava em minha direção. O mais interessante é que durante todo esse tempo, já sabia quando se encontrava irritado ou quando ele estava alegre. Ele tinha uma companheira fiel para todos os dias, uma linda chow chow chamada Mel. Super esperta.
Através dela que conhecia-se seu estado de humor,  a cadelinha era danadinha. Quando ele estava irritado, ela chamava a sua atenção o tempo todo.  Hora buscava um graveto para jogar ou, às vezes, simplesmente fica ali do lado como uma companheira. Contudo, quando ele estava de bom humor, a pequena ia curtir o passeio. Corria, latia e, nem mesmo, dava atenção para seu dono.
Comecei minha rotina.  Me aquecia e  alongava para, logo em seguida, correr devagar. Avistei, de longe, ele correndo com a Mel logo atrás. O garoto parecia bem humorado, os seus olhos refletiam a luz que sumia além das montanhas como se fossem dois âmbares que acabaram de despencar de seus troncos. O vento do fim da tarde bagunçava  os fios do seu cabelos. Com um fone no ouvido ele viajava nos seus pensamentos e eu viajava nele.  Do nada senti algo pulando em mim,  tomei um susto tão grande que acabei caindo, percebo algo lambendo meu rosto.  A danadinha da Mel me lambia todo.

—  Mel, sai de cima do moço — disse ele puxando a cadela de cima de mim.

Eu não sabia o que falar. Me vi num misto de susto e vergonha por estar finalmente próximo dele.

— Desculpa, moço — e me puxou pelas mãos. — Ela não se comporta assim, não sei que deu nela.  Acho que gostou de você.

A Mel continuava pulando em mim e eu simplesmente fiquei paralisado olhando-o. O dono da cadela falava algo, mas eu estava explorando as cordilheiras que eram seus olhos.  Noto ele fazendo gestos desajeitados com as mãos. Talvez, imitando linguagem de sinais.

— Mel, me ajuda! Acho que ele é surdo — na hora que seu timbre rouco finalmente atingiu meus ouvidos notei que não havia falado momento algum. Comecei a rir e não consegui parar.
— Desculpa — procurei me controlar para não continuar gargalhando. — Eu simplesmente viajei. Desculpe, novamente.

— Eu que te peço desculpa,  você se machucou? — Comecei a transpirar e ficar trêmulo,  mas não era pelo acontecido  e sim pelo fato dele dirigir a palavra a mim.

— Não se preocupe, só umas escoriações  na mão. — minha voz pareceu insegura, a adrenalina era tanta que não havia me levantado ainda. 

— Preciso te levar para o hospital.

— Não moço, não precisa eu estou bem. — ele me ajudou a levantar  e se aproxima mais. Seu cheiro amadeirado me invadiu e me deixou mais atordoado com aquela situação.

— Desculpas, mais uma vez. Me chamo João, prazer.

— O Prazer é todo meu. Sou o Lucas. — Ele segura minha mão e uma corrente elétrica passa pelo meu corpo, nesse momento que tivesse a certeza que tinha  encontrado o amor da minha vida.


Saio das minhas lembranças,  quando sinto uma presença próxima, eu conheço aquele perfume.

— Eu estou aqui, meu amor. Se acalme, tudo isso vai passar. — ela se deita ao meu lado e segura minha mão,  o seu toque me acalmava.

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Oii olha eu aqui novamente,  quero pedir desculpa a todos pela demora, prometo ser mais presente,  tive uns problemas de concentração e não estava conseguindo escrever.

Peço por gentileza que vejam os vídeos que coloco para vocês no capítulo, explica muito o que o personagem está vivendo.

Peço desculpas novamente e até breve.


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⏰ Última atualização: Apr 20, 2020 ⏰

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A CORAGEM DE SER IMPERFEITOOnde histórias criam vida. Descubra agora