Todas às vezes em que eu fecho os olhos, meu cérebro automaticamente me leva de volta para aquele lugar. Todas aquelas pessoas fazendo o que não deviam, estragando a vida delas com algo tão insignificante. O quanto iria valer no futuro se isso só os matasse cada vez mais?
E Dahyun era uma daquelas pessoas.
As memórias sobre aquele dia não eram como teias efêmeras que eram levadas pela mais leva brisa, eram mais como cadeados que se abriam fácilmente.
Eu desejei tanto poder voltar no tempo.
Decepções são mais dolorosas quando vem de pessoas próximas.
Isso porquê a gente nunca espera que essa pessoa tão amada seria capaz de nos magoar tanto.
Esse sempre foi o problema.
[...]
Já fazia meia hora que a porta da minha casa parecia estar quase sendo arrombada. Dahyun socava e gritava o meu nome, dizendo que não iria desistir.
—Sana, se você não for lá fora dar um jeito nessa menina, eu juro por Deus que mato ela. Anda logo!—Minha mãe grita.
Bufo.
—Exagerada.—Digo, o mais baixo possível para que ela não escutasse.
Me encaminho até a porta e a abro, quase hesitando.
Me deparo com a única coisa da qual eu não queria ver hoje. E nem nunca mais.
—Finalmente! Meus dedos estão doendo muito e parece que eu vou desmaiar, mas acho que deve ser por causa da tontura já que eu to me sentindo assim já faz um tempo desde que comprei isso.—Ela aponta pra garrafa de whiskey na mão dela.—O cara do mercado disse que tava em promoção, e como eu precisava de algo pra me distrair e me fazer parar de pensar em você eu só peguei e bebi. É quase tão forte como as...
—Por favor, não termine essa frase.—Interrompo.a—Não diga essa palavra. Não aqui.
Dahyun ri.
—Mas eu só ia dizer que é quase mais forte do que as comidas apimentadas que minha mãe faz. Sério, ela coloca pimenta no miojo, você tem noção disso? É horrível demais...
Dahyun estava completamente bêbada.
—Para de se fazer de idiota. O que você ta fazendo aqui?
Dahyun bebe o último gole que restou da bebida, e joga a garrafa no chão. Por sorte não era de vidro.
—Já faz 4 dias que você não fala comigo e ignora as minhas mensagens, e eu não paro de pensar em você. Eu queria pedir desculpas por aquilo tudo e...—Dahyun tentou terminar de falar, mas seu corpo começou a ficar leve, provavelmente por causa da tontura que ela disse que sentia, e quase que ela desmaiou. Se não fosse por mim, ela teria caído de cara no chão.
—Meu Deus, Dahyun. Você está péssima.—Envolvo o braço dela no meu ombro e a ajudo a se equilibrar.—Vamos subir pro meu quarto, não vou arriscar minha mãe vir aqui e realmente te matar.
[...]
Mesmo com toda a raiva que eu sentia, eu simplesmente não pude deixá-la na rua nesse estado. Ela não iria desistir.
Fiz Dahyun se deitar na minha cama e a ajudei a se trocar, colocando uma camisa por cima do corpo dela que cheirava a álcool.
Dahyun parecia estar quase pegando no sono, já que mal conseguia abrir os olhos. Cuidei dos machucados dela na mão que ela acabou arranjando depois de tentativas consecutivas de tentar me fazer abrir a porta, e a cobri com uma coberta quente, pra ajudar a não deixa-la com febre já que seu corpo estava gelado por causa da noite fria de hoje.
Me sentei ao lado dela e a observei enquanto tentava decifrar tudo àquilo.
Como era possível um ser humano ter tanto controle sobre o outro?
Era isso que chamavam de amor?
Pra mim, o amor era o sentimento mais teimoso que existia. Há um certo momento em que todos os sentimentos acabam desistindo, mas o amor...Ele nunca desiste.
Porque, eu podia encarar Dahyun por apenas alguns segundos, e mesmo com todos os acontecimentos, eu podia encontrar ali mesmo, naquele momento, milhões de motivos que me fizessem amá-la. Milhões de coisas que eu amava sobre ela.
Isso me fazia ignorar completamente o fato de que também existiam motivos para não amá-la.
—Ei.—Distraída, acabei sentindo o toque leve dos dedos dela nos meus.—Eu sei o que você pensa de mim depois do que você viu e eu sinto muito por isso.—Dahyun falava ainda com os olhos fechados e sua voz soava como um sussurro.—Mas eu...Eu só...
Ela não conseguia terminar a frase, e dessa vez imaginei que não tivesse coragem.
—Dahyun, não.—Interrompo-a novamente.—Não faz isso. A gente conversa quando você estiver sóbria.
Me levanto devagar, posicionando a mão dela que tocou a minha levemente na cama, e acabo sendo impedida por ela, que segurou, não com muita força, meu pulso e me fez encará-la novamente.
—Eu só queria dizer que...—Ela suspira, engolindo seco em seguida.—Eu amo você, Minatozaki Sana. Eu...Amo você.
Continuo encarando-a por infinitos segundos depois disso sem ao menos perceber que ela já havia soltado meu pulso e caído no sono profundo.
Sinto lágrimas cairem dos meus olhos e dou um sorriso involuntário.
Me inclino para beijar com delicadeza a testa dela e acaricio seu rosto.
—Eu também amo você, Kim Dahyun.—Sussurro.—Não consigo imaginar o dia em que não irei mais amar você.
Continuo encarando-a por um tempo e logo me afasto do corpo dela.
Continuei sorrindo e pensando sobre aquilo a noite inteira, até que cai no sono também.Aquela foi a primeira vez que Kim Dahyun disse que me amava.
Logo em seguida, a perdoei.
Eu acreditava nela, e do fundo do meu coração eu queria acreditar que o amor que ela sentia por mim era mais forte do que qualquer coisa.
Mas não era tão simples assim.
E nunca foi.Sana's Voice On:
You would run when we were young, but you always come back to what you needed most. And that was me.
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Consequences
RomanceSana amava Dahyun mais do que qualquer coisa, mas nem sempre o amor consegue superar tudo, e Sana vai descobrir da pior forma possível as consequências de amar tão intensamente alguém. Ainda mais quando essa pessoa é Kim Dahyun.