Dois ;

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Eu deveria preencher o vazio nos meus ouvidos com algumas dessas palavras doces. Mas sempre que elas tocam as minhas mãos algo as transforma nisso que eu sempre ouço.
Não importa o quanto eu tenha me esforçado, ou o quanto eu venho lutando, ou se coloquei menos sal na comida dessa vez; toda a doçura se esvai, escorre pelos meus dados pelo simples contato com a minha pele.

Temo quando penso, pois penso demais sobre isso.
Temo quando penso que a razão de todo mau talvez seja a minha simples existência, o ato de manter-me respirando. Dia após dia, após dia, após dia, após dia, após…
Temo quando penso, porque penso demasiadamente em coisas que não deveriam habitar a cabeça de alguém.
Temo pensar porque tudo que eu penso me leva ao trágico fim, o meu fim, o fim de um filho que não deveria ter nascido.
Temo porque alguém abaixou o volume do rádio e agora eu estou aqui em silêncio.
Temo porque o silêncio é violento e não há como esconder isso.
Temo que minha sanidade escape do controle das minhas mãos.
Temo que o que está sob minha pele salte para fora e revele todo o sangue em baixo do tapete, na parte de trás do meu crânio fodido.
Eu temo porque o medo foi o que sobrou do que eu era, quando ainda era um menino pequeno demais para a idade.
Temo porque hoje, com ou sem o volume do meu rádio, ainda sou um menino pequeno demais para minha idade.

Eu temo porque odeio o condutor que está atrás do volante da minha vida.
Temo porque não há um esconderijo, não há como fugir, não há para onde correr…
Eu temo porque o monstro debaixo da minha cama tem meu endereço, meu nome e o meu rosto.
E eu o temo porque é a sua mão que eu seguro nas noites de tempestade.
Ele sou eu e eu sou nada.

Ele sou eu e eu sou nada

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Sit in SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora