RESSACA

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O cenário escuro e estrelado diluiu-se gradativamente dando espaço para a claridade de um novo dia. Por trás das nuvens brancas, o sol brilhou tímido no céu numa típica manhã primaveril.

Diferente de um par de dias atrás, aquela manhã começara com o clima fresco e ameno para a felicidade dos locais.

Com uma sensação pesada sob as pálpebras, Camus abriu os olhos lentamente se arrependendo amargamente logo depois. A dor lancinante pulsou forte em suas têmporas e fez seu mundo girar em espiral. Essa era a primeira vez que experimentava uma ressaca, e com certeza seria a ultima.

A visão turva se tornou mais nítida ao fechar e abrir os olhos novamente e ver ao seu lado o rosto de Milo, que dormia profundamente a centímetros de distância. Num rompante, sentou-se rapidamente e voltou o olhar ansioso para o próprio torso exposto. Em pânico, Camus sobressaltou de tal maneira que caiu da cama num baque surdo.

O outro homem despertou desnorteado, igualmente indisposto. Passou a mão nos cabelos volumosos na tentativa de abaixá-los um pouco. Era dificultoso para ele enxergar por conta da luminosidade então vagarosamente, os olhos semicerrados percorreram o quarto encontrando o amigo estarrecido no chão.

Como se tivesse desistido de viver o aquariano permaneceu parado, rígido feito uma coluna de pedra. O olhar fixou-se num ponto aleatório na parede sem que realmente visse alguma coisa. Seu rosto perdeu a cor como se o sangue tivesse sido drenado para fora do corpo. Ele sequer conseguia abrir a boca para questionar qualquer coisa.

Naquele momento, qualquer um pensaria que Milo teria o assediado.

Por que diabos tinha que estar tão perto? Era algum tipo de pegadinha ou conspiração que o destino estava tramando contra ele? Foi só o que conseguiu pensar. Não recordava da noite anterior com clareza e agora com a surpresa a cabeça de Camus doía ainda mais.

Mentalmente ele se deu um tapa. Distância era o que precisava, ansiava na verdade. Pelo menos até que os malditos pesadelos o deixassem em paz. Qual era a lógica de se meter numa cama e dormir juntinho com Milo?

Enquanto Camus tentava encontrar um motivo racional pra voltar a respirar e não ceder ao impulso de se jogar na primeira ponte que cruzasse seu caminho, o escorpiano o fitava nitidamente preocupado. Ele poderia explicar o porquê dos dois estarem espremidos na mesma cama. Não que isso fosse uma falta grave, uma vez que eles não eram desconhecidos e nada demais aconteceu, porém a tensão exalava pelos poros do aquariano. Logo, ele merecia um esclarecimento.

Então Milo procurava as melhores palavras.

O que de fato aconteceu foi que ao chegarem à casa do escorpiano uma onda de enjoo fez o francês voltar a si e regurgitar tudo o que havia bebido em cima de Milo e na sua própria camisa. O loiro foi obrigado a arrancar-lhe a peça de roupa assim como as suas e coloca-las para lavar. Não foi uma cena agradável, então esperava poupar o outro desse constrangimento.

Originalmente o plano de Milo era o deixar confortável, colocando-o na cama e indo dormir no sofá. No entanto, Camus o frustrou e surpreendeu quando o puxou pela mão e ele caiu sobre o colchão macio. O aquariano que balbuciava algumas palavras sem sentido adormeceu logo segurando seu braço num aperto forte.

Minutos depois sem conseguir se desvencilhar foi vencido pelo combo "cansaço+ álcool" e acabou dormindo também, junto com Camus.

Ouvindo atentamente a explicação, franziu o cenho e tossiu de forma dramática quando houve a menção de que ele havia o segurado no lugar. Desapontado e aliviado ao mesmo tempo ele pôde suspirar, tirando um peso enorme das costas. Camus ainda confuso por conta da ressaca nem se atentou ao fato de ter dormido feito um bebê ao lado dele.

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