2. Perfume

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Os meus lençóis diziam muito sobre o jeito como minha cabeça andava na semana seguinte em que não existia mais "nós". A bagunça deles me dizia que eu sentia sua falta, principalmente quando me dei conta que fazia muito tempo que não conseguia arrumá-los e que os panos embolados eram uma consequência das noites em que fui dormir às três da manhã rolando a tela do celular, me perguntando onde essa catástrofe toda tinha começado.

Acho que começou quando, mesmo você estando lá longe, do outro lado da sala, eu ainda conseguia sentir o seu cheiro impregnado na minha cabeça. O cheiro do seu perfume forte que dizia tanto sobre a sua personalidade e as coisas que você gostava de fazer. O cheiro do seu cabelo me fazendo lembrar das vezes em que a gente tomava banho depois de bagunçar a sua cama. O cheiro de lar das suas roupas — que caiam tão bem em mim quanto a palma da sua mão.

Eu decorei o seu perfume, Taeyong, só pra lembrar à minha mãe de não comprar mais ele, porque doeria demais te sentir tão perto quando você estava tão longe de mim. Disse para mim mesmo que essa era a melhor saída, mas todos os meus esforços pareciam serem desprezados quando você passava por mim e o vento soprava vestígios seus — nossos — diretamente para o meu coração, como se ele soubesse que a lavanda era a única coisa que eu queria sentir no momento.

O meu perfume agora parecia não ter mais cheiro, assim como a minha existência completamente avulsa no mundo, porque meio que era você quem fazia com que as coisas tivessem um significado, de fato. Tomar banho se tornou uma obrigação invés de ser o momento em que nós dois compartilhávamos o mais puro e verdadeiro sentimento que já existiu aqui, já que eu tinha de fazer isso sozinho agora — a única coisa que tocava meu corpo, era a parede gelada arrepiando minhas costas quando eu escorregava por ela.

O dia hoje amanheceu chuvoso e nublado e o sol não apareceu; deitado na cama, o cheiro da terra molhada sobressaiu o seu no meu quarto.

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