3. Saudade

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Todo sábado à tarde eu esperava que você entrasse pela porta do meu apartamento, como costumava fazer em todos os fins da semana quando a nossa cabeça estava cheia demais e a única coisa que me permitia respirar com estabilidade era a sua voz cantando baixinho pra mim e os seus dedos passando pelo meu braço arrepiado.

Hoje, meus sábados são resumidos em uma busca constante por distrair meus pensamentos que insistem em me levar diretamente para você, todas as vezes. Dói ter que dizer para mim mesmo que o sábado, daqui em diante, vai ser apenas mais um dia na semana, e não o momento que me deixava ansioso durante ela inteira — ansioso para tocar no seu rosto e no resto do seu corpo com intimidade, passar as mãos nos seus fios escuros e ouvir você ressonar baixinho enquanto dormia.

Não houve um único fim de semana, depois que nós terminamos, que eu não olhasse a tela do meu celular pela manhã esperando que você me ligasse ou mandasse uma mensagem, dizendo que estava sentindo minha falta tanto quanto eu, porque minha realidade parecia pesada demais e você sabe que eu nunca consegui carregar ela sozinha.

Minha cabeça se tornou o caos que ela costumava ser antes de você aparecer. Antes de eu ter conhecido sua risada e reconhecido ela como o único som capaz de impedir o tumulto dentro meu coração. Você sempre costumava ser o motivo pelo qual minhas lagrimas paravam de escorrer pelo meu rosto, depois de me fazer rir em meio a uma crise qualquer e depois me dar um beijo casto no nariz. Senti perder o controle quanto você se tornou o motivo que tornavam elas tão pesadas e minhas crises tão constantes como agora.

A dor que eu sentia só não era maior que a esperança que eu tinha dentro de cada pedacinho de mim, até mesmo onde não cabia mais... eu dava um jeito de coloca-la lá. Afinal, nós voltamos todas as vezes em que a gente terminou, certo, Tae? Essa dor não era nova, as lagrimas também não. A esperança, agora, tomou o seu lugar e era ela quem impedia que eu chorasse, porque ela me dizia que você estaria comigo depois de um mês — ou até mesmo antes.

Eram mentiras que eu gostava de acreditar, e eu acreditei todas as vezes.

Meu chão caiu quando você me disse que a esperança era uma invenção da minha cabeça — todas as suas palavras bonitas também eram? — e me obrigou a me desprender do que costumava me manter sã. Minha dependência era você, Taeyong, e quando você se foi, também me impediu de me apegar àquilo que eu tinha de maior dentro de mim.

Eu senti morrer por dentro porque você preferiu confiar em outra coisa distante de mim; a esperança só podia existir se nós dois acreditássemos nela.

E ela morreu dentro de você também.

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