Brincávamos de adiantar o relógio para afagar o ego de Clarissa. Tempo nunca era suficiente para suas palavras bonitas e sua auto suficiência intelectual. Sentava de frente a todos nós, cabeça erguida e sorriso narcisista. Dizia o quanto estávamos jogados aos pés de seus dotes e gargalhava sem nenhuma vergonha.
Preferia dizer que ela era duas. Mais fácil lidar com duas pessoas diferentes em lados oposto da estrada, do que apenas uma sendo um completo caos. E separando-a em duas, poderia também me organizar melhor sobre relação de amor e ódio que tinha a seu respeito. Separando-a em duas, uma eu odiava com a pouca força que tinha e a outra me fazia tão feliz quanto banhos no mar durante a maré alta.
De uma a três vezes falou meu nome. Tão raro que parecia delírio. O que me levava, vez ou outra, para esta questão: Clarissa era mais verdadeira que meu relógio de pulso? Porque tinha vezes que eu jurava que o tic-tac estava ali, mas na verdade era um som fictício e rotineiro da minha mente. Talvez como fuga da ansiedade.
Clarissa era o quê? Inteligente eu sabia, apesar de não ser mais uma a dizer em voz alta. Espevitada. Calejada até demais e talvez seja isso o ponto de tudo.
Eu brincava sobre saber quem Clarissa era de verdade. Enquanto Clarissa se perdia no delírio mais extraordinário do mundo.
Sorte dela.
Todo mundo sofre. Cada um crie seus delírios e adiantem seus relógios.
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BREVES CONTOS
Short StoryContos rápidos. Sem comprometimentos com datas ou qualquer raiva que possa causar a quem lê.