We Came Back

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Killian
Dezesseis anos depois

Eu quero voltar para Londres.

Eu repeti essa frase diversas vezes durante o longo tempo em que eu fiquei preso dentro do ônibus.

Péssima escolha de condução, Killian, me repreendi mentalmente.

Olhando para a janela, com o fone em seus ouvidos e com uma música extremamente alta de modo que eu também conseguia ouvir, o adolescente de quinze anos ao meu lado parecia alheio do mundo.

Queria ser que nem ele. Queria simplesmente conseguir me desligar do mundo, conseguir parar de pensar que falta menos de uma hora para chegarmos no lugar que eu tanto evitei pensar.

Me recordo como se fosse ontem, quando me instalei em Londres num apartamento pequeno, fugindo de tudo e todos de minha cidade natal. Minha decisão daquele dia (a de fugir da cidade) poderia parecer precipitada para muitos mas na minha cabeça, era a coisa certa a se fazer. Minha mãe e James me convenceram a voltar diversas vezes mas não conseguiram e quando finalmente admitiram para si mesmos que eu não voltaria, passaram a ir me visitar sempre que podiam, alegando que estavam com saudades de mim e que queriam ver seu neto.

Vendo o garoto do meu lado, não me arrependo do que fiz.
Mas penso no que poderia ter acontecido se não fizesse.

Em meus pensamentos mais profundos eu imaginava como seria se Colin tivesse crescido com uma mãe presente, uma mãe que o quisesse. Ele, certamente, seria muito mais feliz que é hoje. Ainda me lembro de quando eu contei sobre o que aconteceu para ele não ter uma mãe e o perguntei se ele mesmo assim, ele queria falar com ela, saber mais sobre ela (como nome e aparência, coisas que eu nunca tinha dito para ele). A resposta que eu recebera foi surpreendente para mim:

“Eu não quero saber nada sobre ela, assim como ela não sabe nada sobre mim. Para que uma mãe que não me quer, sendo que eu tenho um pai que vale muito mais e que me ama muito?” O garoto de seis anos tinha me feito chorar muito quando disse isso.

Hoje, eu vejo que ele se arrepende de dizer que não queria saber sobre ela. Vejo que a cada ano que se passava, ele ficava mais curioso, mas nunca perguntava para mim, não querendo voltar na sua decisão de quando era uma criança. Se ele não me perguntava, eu não lhe dizia nada, simples assim.

Colin sempre me dissera que eu tenho um coração muito grande pelo simples fato de eu nunca ter conseguido sentir raiva de Emma. Raiva por ter nos abandonado em um momento difícil. Simplesmente não conseguia sentir raiva dela, nem o próprio Colin conseguia.

Nos primeiros dias em que fui para Londres, eu ficava esperando uma ligação dela. Qualquer coisa que indicasse que depois que ela acordou, ela pensou em mim, que tudo fosse um grande engano e que ela queria a criança. Mas esse telefonema dela nunca chegou, somente de outras pessoas.

Regina, Robin, David, Rayssa, Zelena, Mary, Jefferson, Belle, Andrew e até mesmo August já tinham me ligado. Recusei todas as chamadas, obviamente. Não queria ter contato nenhum com eles. Certo dia, eles simplesmente desistiram de me ligar e eu passei sentir falta deles.

Eu poderia ter ligado mas o orgulho e o medo não deixavam. Então eu nunca liguei. Somente sei o que minha mãe me contava às vezes - não que alguma vez eu tenha pedido para contar, ela simplesmente começava a falar.

Todos estavam casados (o que não era grande surpresa), com filhos da idade de Colin (o que também não era surpresa) e felizes (uau, que surpresa).

[...]

Sinto alguém me cutucando e abro os olhos. O garoto de olhos azuis, cabelo negro e de aparência quase igual a minha, está a me observar.

“Pai, já chegamos.” Ele diz e eu desperto de verdade. Não sei quando eu acabei caindo no sono mas esse fato não me importava mais.

A Trip To Her {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora