Sarah Müller
Silêncio, apenas silêncio era o que eu precisava naquele momento, minha cabeça estava tão confusa, tantas perguntas e questões a serem respondidas, mas creio que de nenhumas eu conseguiria a resposta certa e concreta.
Ainda não conseguia compreender tudo aquilo que estava acontecendo em minha vida, tudo tão normal do nada se tornou estranho, tudo tão calmo e tranquilo do nada se tornou um furacão, passei muitos anos da minha vida procurando esconder minhas perguntas, meus sonhos, meus sentimentos, e meus melhores momentos, passei parte da minha vida fazendo tudo que gostava pelas costas das pessoas que amava, mas o silêncio sempre foi meu maior aliado em todos os momentos, nunca me permiti voar e ser livre, sempre me fiz presa e insatisfeita, sempre tive tudo, mas nada, sempre procurei fazer o que os outros gostavam, mas nunca o que eu desejava, a vida me pregou peças, mas nunca deixei as perguntas saírem da minha garganta, sempre presas dentro de mim, procurando um dia se libertarem.
Olho para o céu e sinto alguns pingos de chuva caírem sobre minha pele, ando, ando deixando apenas minhas pernas me levarem para o único lugar onde me sinto realmente livre, às pessoas devem acharem que ter dinheiro, amigos, o melhor quarto, as melhores roupas torna alguém feliz, mas no fundo elas a insatisfação é maior.
O caminho é curto, mas meus pensamentos vão longe, abro vagarosamente a porta da loja e vejo Jasmine me ver e abrir um sorriso, toda semana pelo menos uma vez venho aqui para espairecer meus pensamentos e acalmar minha mente, fugindo de todas as minhas vontades, quem me conhece acha, acha isso, acha aquilo, mas no final não têm nem mais achismo para falar, fazer as coisas escondidas dói, dói porque sei que serei julgada, o que desenhos inúteis e fotos insignificantes irão trazer para sua vida? Disse uma vez uma garota que achou que dinheiro trazia algo para a vida, mas a custo de quê?
- Você voltou Sarah! Senti falta de te ver desenhando ou fotografando, aqui está – fala me entregando minha câmera.
- Obrigada Jas, não foi muito legal hoje já faculdade, precisava ficar tranquila, têm muitas coisas acontecendo juntas, senti muita falta desse lugar.
Aqui é o meu lugar secreto, onde ninguém sabe, ninguém me viu, ninguém conhece, é uma loja antiga de artes que conheci a 3 anos, desde pequeno desenho, mas são sempre os mesmos comentários " lindos, porém você é melhor que isso", sempre falavam isso, queria mostrar isso para alguém de confiança, mas até a própria Claire apoia que eu faça algo que não gosto.
Sigo para minha sala e coloco minha bolsa no chão, coloco a câmera ao lado, pego um papel e alguns lápis, começo a desenhar alguns rascunhos, mas nada bom vêm em mente, está tudo tão pesado, minha mente está cansada de perguntas, de tentar entender, estou cansada.
Meus pais? Estão longe, não sei onde, não faço a mínima ideia, e nem o porquê, talvez seja por isso que eles me colocaram alguém para vigiar, vão para longe e acham que sou irresponsável o suficiente para fazer besteiras a cada segundo e não posso ficar sozinha e cuidar de mim mesma, fecho os olhos e respiro fundo, talvez seja realmente melhor eles estarem longe.
- Está tudo bem com você? Vejo que parece um pouco incomodada, quer conversar? – pergunta Jasmine.
- Eu só estou um pouco cansada, esses últimos dias têm sido difíceis.
- Difíceis como? Mesmo com todas as dificuldades você nunca chegou aqui e ficou minutos e minutos olhando para um papel e caneta sem fazer nada.
- Meus pais viajaram e agora têm alguém me vigiando – falo.
- Vigiando? Por que? Eles desconfiam de algo?
- Não, apenas...apenas eu também não sei Jas, mas no momento também não quero saber, só preciso ficar sozinha.
- Se precisa estarei aqui.
- Obrigada – falo sorrindo.
Antes de Jas sair ela coloca uma música calma e relaxante, preciso esquecer os problemas lá fora e só pensar aqui, e agora.
Começo a sussurrar os tons da música e assim permito que minha mão guie meus pensamentos fazendo o que gosto, sorrio vendo os resultados, e assim continuo não ligando para as pessoas, os problemas e principalmente as horas.
Depois de terminar mostro alguns desenhos a Jasmine que adora o resultado, e sempre elogia, aqui sempre é um escape para mim, um lugar que posso chamar de meu, minhas fontes de energias.
Olho para o meu celular e vejo 10 chamadas perdidas do Henry, droga!
- Algum problema? – fala Jasmine vendo eu colocar a mão na boca assustada.
- Apenas...apenas está tarde, tenho que ir Jas, até semana que vem – falo pegando minhas coisas e correndo.
Jasmine desde que cheguei aqui me apoiou e tem sido uma ótima companhia e conselheira para meus problemas, sempre falo muito de mim, às vezes acho que até demais, mas pouco sei sobre ela, sua vida e sua história, é boa, mas fechada.
Já eu sou como uma flor que quer descansar se fechando para todos, mas insisto em me manter aberta e transparente para todos verem como sou por dentro, sempre aberta e desabrochada.
Agora é torcer para que Henry já não tenha ligado para os meus pais, a polícia o FBI e todo exército.
Resolvo não retorna à ligação, não vou ficar dependente dele agora, nunca fui de ninguém, não preciso dele para me proteger, não preciso dele para andar, muito menos fazer o que gosto ou pedi permissão.
Assim que chego em casa abro a porta vagarosamente para não fazer nenhum barulho, olho pelos cantos e vejo que não têm ninguém, subo as escadas devagar e quando já estou chegando nos últimos degraus sou surpreendida por uma voz.
- Onde pensa que estava sua pirralha? – fala Henry bravíssimo - Quer brincar comigo de esconde-esconde agora é isso?!
Viro para trás e vejo ele parado em pé no início da escada me olhando fixamente.
- Eu estava em um lugar, que não te interessa – falo me virando novamente para subir.
- Desça aqui imediatamente, ou subirei e te farei descer a força!
- Vai me bater agora? – pergunto irônica.
- Você está terminantemente proibida de passar por aquela porta hoje, e se eu descobrir que você fugiu mais uma vez ligarei para os seus pais e contarei tudo.
- Liga, eu não ligo, aliás eles também não – falo dando de ombros.
- Garota não me provoque, eu estou sendo bonzinho demais com uma pirralha mimada, e não é para testar minha paciência que eu estou trabalhando aqui.
Não respondo nada e viro novamente indo em direção ao meu quarto.
Antes de chegar na porta ouço a voz de Caleb atrás de mim.
- Por que sumiu Sarah? Sabe que o Henry está trabalhando.
- Até você também Caleb? Achei que estivesse do meu lado.
- Eu estou maninha, mas entenda, o Henry só quer fazer o trabalho dele, não piore as coisas, estou apenas te pedindo que faça direito o que deve ser feito.
Vejo Caleb voltando para o seu quarto e reviro os olhos, faça isso, faça aquilo, faça certo, não erre, seja perfeita, seja a filha que obedeça e faça o que os pais pedem.
Jogo minha mochila no chão e deito em minha cama deixando os problemas do outro lado da porta...
Até quando...
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Roman d'amourE se você estivesse apaixonada pelo seu segurança particular? Sarah Müller, com apenas seus 19 anos de idade, já sabia o peso do sobrenome Müller em sua família, e era exatamente para isso que estava sendo preparada, para levar em diante tudo que se...