Forte

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—Pareceu muito interessante ficar só, depois que me separei de Viviane eu precisava me situar.

—Tomou essa decisão por si próprio?

Teve que ser, era isso ou viver mendigando o amor de Viviane e uma vida de merda.

—Sim, eu estava fumando maconha todos os dias e enchendo a cara em boates, mesmo depois que nos separamos, eu vivia uma via de merda. Acho que essa foi a época em que eu mais quis me refugiar de tudo, quando eu a conheci eu já era um cara superficial e meio narcisista.

É estranho olhar para o meu passado e me imaginar como o cara podre que eu era, muitas vezes me refugiava tanto naquela vida que as coisas se quer faziam sentido, festas, bebidas, uma garota bonita, um carro do ano e um cartão sem limite, é, foi bom, mas não foi de verdade.

Era como viver neste corpo e habitar ele, mas ser algo que eu era apenas para que as pessoas gostassem, aprendessem a gostar e que respeitassem, porque por dentro eu sempre lembrava do garoto que durante toda a infância foi rejeitado, torturado, explorado, tantas coisas.

Acho que no fundo eu também era como Ana, não tinha um pingo de amor por mim mesmo, foi muito difícil deixar a vida e aparência que eu havia criado para ser o que eu sou hoje, por isso acho que não era nada antes dela, era apenas vazio e fútil.

Também não gostava muito da forma como Phill falava comigo, sempre querendo que eu assumisse responsabilidades na empresa junto de Bonnie quando a última pessoa que eu queria por perto era aquele monstro.

Discutimos várias vezes sobre isso, ele me mandava crescer e ser adulto e eu saia andando e o deixava falando sozinho, porque eu não queria crescer, não era justo comigo, não tinha tido infância nem adolescência, entendia que aquela "curtição" era o mínimo que ele e Bonnie deveriam fazer por mim depois de tudo o que ela havia me feito.

—Achava muito hipócrita que as pessoas me falassem para ser adulto, quando na verdade, eu fui adulto a minha vida toda. Primeiro, fui abandonado pela minha mãe que eu nem sei quem é, depois tive que ir para um lar onde dois loucos me obrigavam a ver coisas horríveis.

Eu a fito, Ana não está assustada, fico mais a vontade e aliviado em falar sobre isso com ela, porque ela não me julga.

—Depois, comecei a ser explorado por alguém que achei que seria minha mãe. Eu não tive infância Ana, eu não tive adolescência, depois fui jogado numa vida adulta que eu não fazia ideia de como viver.

—Você foi muito machucado.

Um bocado.

—Por alguns anos eu acreditei que fui destruído, me via sendo obrigado a dormir com ela sempre que queria, me sentia mal por ter uma ereção, algo que é normal para alguém se tornou muito ruim para mim.

—Ela te machucava fisicamente?

—No começo não, mas depois, quando fui crescendo e não queria mais ela me batia com palmatórias e chicotes.

E era horrível, era mesmo uma relação de posse e obsessão, mas ao contrário do que algum pedófilo pensa, não era nada legal na minha cabeça, no meu corpo, Bonnie me machucava tanto as vezes que eu ficava dias e dias sem conseguir me sentar direito, nada visível, nada que não sarasse por fora, mas por dentro tudo só ficava ainda pior.

—Ela me estuprou várias vezes também, sentia-me descartado depois que satisfazia a lascívia de Bonnie, como um desses copos que você usa para beber água e ela jogava fora.

Um Novo Amor (Livro III) -  DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora