Três - Queimando

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Uma neve fina caia do céu frio, enquanto eu observava sentada em uma das gárgulas da torre do sino da pequena Tarks Milles

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Uma neve fina caia do céu frio, enquanto eu observava sentada em uma das gárgulas da torre do sino da pequena Tarks Milles. Da altura de onde eu estava podia ver toda a cidade. De cima, parecia uma cidade tranquila, amigável. Sem espinhos nem farpas, sem temor. Mas mesmo aquela distância, consigo sentir o cheiro da ansiedade, da dor e do meu próprio medo.

Era um péssimo momento para o meu passado ter vindo à tona, e sinceramente, eu preferia não saber. Estava acostumada a caçar monstros, a vida sem regras, tudo ao meu tempo. Agora, parecia que todas as expectativas do mundo haviam sido jogadas em minhas costas. E não sei ao certo o que eu queria.

Desejei poder me tornar outra pessoa, uma simples humana. Com sonhos, vontades. Mas eu era um animal, indiferente a minha própria existência, tão arrogante quanto distante. Pulei da gárgula, a uns dez metros do chão caindo de pé no meio da rua de pedras. As pontas do meu sobretudo esvoaçaram-se como uma coisa viva.

A rua estava adormecida, com o silêncio sendo molestado apenas por um ou outro ruído vindo das casas. Ouço um leve barulho e viro-me bruscamente para a esquerda. Havia alguma coisa parada a dez centímetros de mim.

Recuei e agarrei a minha pistola presa na calça. Uma gargalhada doce foi ouvida pelas ruas. Suspirei levando a arma novamente ao seu lugar no momento exato que Camila saiu lentamente da penumbra. Seus olhos castanhos estavam quase vermelhos, como um par de bolas de fogo. A pele pálida refletiu a luz.

— Pare de me seguir. – A vampira rolou os olhos rodeando-me.

— As coisas que o velho te disse mexeram com você.

— Não deveria? – A irritante mulher voltou a rir. – Sinto como se tudo que vivi até hoje fosse mentira.

— Uau! Quanta eloquência, Jauregui. Onde aprendeu tanta classe?

— Cale-se, Camila.

— Vocês lobos são sempre tão chatos?

— Eu mandei você se calar. – Rosnei encurralando ela contra a parede em um segundo.

Minhas mãos prenderam seu pescoço com força, e ela não esboçou nenhuma reação além de um sorrisinho. Minha respiração exalou no seu rosto frio e Camila continuou apenas me encarando.

— Se continuar me irritando, eu vou matar você! – Ameacei, tendo certeza que minhas palavras não iam causar nenhum tipo de efeito nela.

— Tenho certeza que das mil coisas que passa pela sua mente de fazer comigo, me matar é a última. Talvez matar em outra conotação seja mais apropriado para...

Sustentei o olhar no de Camila por mais segundos do que eu gostaria. Não era a primeira vez que olhar ali trazia sentimentos ambíguos. Minha companheira de viagem não era exatamente a pessoa mais confiável do universo, na verdade, se eu fosse seguir os meus instintos deveria enfiar uma estaca em seu coração e esquecer-se do nosso encontro.

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